26/02/2023

ESTÓRIAS DE CEARÁ-MIRIM: MARIA BEIJU - POR DR. RICARDO SOBRAL

Maria Beiju

 *Por Ricardo de Moura Sobral

Baixinha, gorda, rosto redondo, pele alva, cabelos encaracolados, Maria Beiju, como o nome sugere, vivia de fazer e vender beiju.

Vendia bolo e cocorote também.

Morava algumas casas abaixo do prédio onde é hoje a Caixa Econômica Federal, vizinha de dona Maura Costureira, casada com um senhor chamado Pernambuco.

Maria Beiju, figura popular, era por todos conhecida na cidade.

Certo dia hospedou-se em sua residência um parente, acredito que vindo do Sertão.

Estava fraco do juízo. Veio se tratar.

No fundo do quintal, enchiqueirado, Maria Beiju engordava um porco para suplementar sua renda familiar.

Na casa, que não se podia chamar de grande, tinha bastante gente naqueles dias, razão pela qual as redes foram armadas bem próximas.

Meia noite, o doido levantou-se para beber água. Por trás da porta da cozinha, com o cabo de madeira amarela encostado na borda da jarra, o doido encontrou um machado.

Portando a ferramenta, que estava bem amolada no esmeril e na pedra de afiar, o doido dirigiu-se a uma determinada rede. Segurou o cabo do machado com as duas mãos, apoiou-se bem com os pés no chão e disse para si próprio: vou matar o meu cunhado.

Levantou o machado mais de metro acima da cabeça. Hesitou e disse: vou não, vou matar o porco. Dirigiu-se para o fundo do quintal.

Passou o resto da noite andando de onde se encontravam o cunhado e o porco, dizendo sem largar o machado: não sei se mato meu cunhado ou se mato o porco.

Lá fora na rua o silêncio era total, só quebrado pelo canto lúgubre de uma ave de hábitos noturnos. Na casa de Maria Beiju todos dormiam profundamente.

Só o doido acordado, andando e dizendo: não sei se mato meu cunhado ou se mato o porco.

Quando os primeiros raios do sol começaram a brilhar, o doido, já cansado, como não havia resolvido sua dúvida atroz, tomou outra decisão:

- Não vou matar ninguém não!

Depositou o machado cuidadosamente no mesmo local em que o encontrara, deitou-se em sua rede e adormeceu.

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