É curioso — quase antropológico — observar como o comunismo, no Brasil, transformou-se numa espécie de artigo de boutique.
Ele vem em embalagens modernas, discursos inflamados (geralmente mal digeridos), servido em auditórios climatizados, acompanhado de uma taça de vinho orgânico e defendido por quem jamais enfrentou qualquer sacrifício real — exceto talvez quando o iFood atrasa ou o Uber dá apenas uma estrela. Drama, sabemos, é questão de perspectiva.
Enquanto isso, na República Tcheca — essa joia histórica, limpa, musical, que carrega nas calçadas cicatrizes reais do totalitarismo — o comunismo não é glamour político: é memória traumática. Ali, onde tanques soviéticos já engoliram as ruas e famílias perderam mais do que a fila do pão, não existe romantização.
O presidente Petr Pavel - que eu até já escrevi aqui um texto sobre , e que no passado chegou a integrar o Partido Comunista da Tchecoslováquia -, fez aquilo que por aqui quase ninguém faz: olhou para trás, reconheceu o erro e seguiu adiante defendendo democracia, liberdade e a lembrança viva do que o comunismo custou. Não virou símbolo ideológico — virou aprendizado. E é por isso que lá apologia ao comunismo agora é crime. Trauma não é plataforma eleitoral.
Aqui, porém, o cenário ganha tons tão surreais que fariam um tcheco gargalhar — desses risos que misturam perplexidade e pena. O presidente brasileiro chegou a comemorar publicamente a indicação de um ministro assumidamente comunista ao STF, e isso foi recebido pela imprensa como se fosse medalha ideológica, marco histórico, praticamente um feito fashion de vanguarda.
O contraste é quase teatral: na República Tcheca, comunismo é trauma; no Brasil, é item de LinkedIn.
No campo cultural, temos a revolução de podcast gravada entre prateleiras de Funko Pop — onde rapazes (e alguns homens já com barba suficiente para saber melhor) defendem o regime que conhecem apenas por resumos de livro e memes de Marx com óculos escuros. Não nasceram nas fábricas, nas greves, na fome — nasceram na cama quentinha do quarto da mãe, patrocinados pelo capitalismo que eles juram combater entre uma live e outra.
Essa “esquerda gourmet” não nasceu nas fábricas — nasceu no Wi-Fi. É uma revolução full HD, com delivery de indignação e cupom de primeira compra. O "comunista de podcast" se alimenta-se pelo iFood, circula só de Uber e desperta com notificação do Nubank.
Grava seus surtos ideológicos sob a luz celestial de um ring light comprado com cashback, parcelado em 3x sem juros — porque o capitalismo é cruel, mas paga em suaves prestações. É um marxismo 2.0, com servidor em nuvem e filtro vintage. Uma esquerda temperada com café orgânico, servida em co-working pet friendly e wifi de 300 megas. É a revolução sem calos, sem fábrica e sem fome. Revolução com latte.
Se Marx visse isso, não apenas engasgaria na barba — ele pediria reembolso. Porque no final das contas — aqui no Brasil — o comunismo não é revolução. É branding.
A Toca do Lobo ⚒️
OBS: Encontrei na net
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