Nova perícia aponta indícios de fraude em registros do Alvorada anexados ao processo de Filipe Martins
As assinaturas atribuídas ao suposto militar Antonio Gomes dos Santos Neto nos registros de entrada do Palácio da Alvorada em dezembro de 2022 apresentam indícios de inconsistência formal e ausência de padrão gráfico, segundo uma perícia realizada pelo especialista Reginaldo Tirotti. Esses papéis foram usados como prova no inquérito que envolve o ex-assessor internacional Filipe Martins, no Supremo Tribunal Federal.
O parecer técnico examina comparativamente as assinaturas oficiais e as assinaturas questionadas, presentes em folhas manuscritas anexadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) aos autos. Essas folhas foram usadas para sustentar a tese de que Martins teria frequentado o Alvorada em 2022, supostamente para participar de reuniões do então núcleo estratégico do governo.
Indícios de múltiplas autorias
Segundo a perícia, as assinaturas atribuídas ao suposto responsável pelo controle de portaria apresentam divergências estruturais, morfológicas (diferenças na forma e no desenho das letras), cinemáticas (alterações na velocidade e no movimento da escrita) e no ataque das letras (modo como o traço inicial de cada letra começa sobre o papel). Isso sugere que as assinaturas são incompatíveis com a produção caligráfica de um mesmo autor. O laudo aponta ausência de memória motora gráfica, desalinhamento e alterações aleatórias nos traços.
Além disso, a perícia observou que:
-a grafia varia entre letra cursiva e letra de forma;
-há mudanças irregulares na pressão e velocidade de escrita;
-os remates finais variam de forma incompatível com assinaturas autênticas;
-falta coerência nas ligações entre grafemas; e
-o espaçamento e o alinhamento não seguem padrão motor.
A análise conclui que as assinaturas questionadas não guardam relação pericial com a assinatura original, o que sugere a hipótese de múltiplas autorias. O documento pericial é categórico ao afirmar que os elementos apresentados não permitem afirmar que as assinaturas foram feitas por Gomes Neto.
Origem dos documentos não foi comprovada
Os registros analisados são folhas soltas manuscritas, atribuídas a plantões da portaria do Palácio da Alvorada, mas não há comprovação documental de sua origem. Diferentemente das listas oficiais de acesso da Presidência, emitidas digitalmente com controle administrativo, essas folhas não apresentam:
-identificação de emissão;
-numeração;
-assinatura funcional conferida;
-protocolo oficial de entrega ou recebimento; e
-comprovação de cadeia de custódia.
O próprio laudo destaca que a ausência dos documentos originais físicos impede a comprovação de autenticidade, já que cópias digitalizadas inviabilizam análises essenciais como pressão gráfica, sobreposição de tinta e ritmo pericial de execução.
Os documentos questionados têm papel central na construção da narrativa da PGR, que utiliza os registros para alegar que Martins esteve no Palácio da Alvorada em datas específicas. Entretanto, as listas oficiais de acesso da Presidência não registram nenhuma entrada vinculada ao ex-assessor nessas mesmas datas.
revistaoeste
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