'O desconto não é real': o que está por trás do CPF que pedem na farmácia
O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira (29) detalhes da reportagem da jornalista Amanda Rossi sobre a exigência do CPF nas farmácias para pagar menos nos remédios.
A reportagem ganhou a categoria principal da sexta edição do Prêmio UOL de Conteúdo e também e o IREE, um dos principais prêmios de jornalismo do país, na categoria Economia e Negócios.
Você pode ouvir no arquivo acima a íntegra do episódio, que tem como base a reportagem "O que a farmácia sabe sobre mim?", publicada no UOL Prime -- seção com notícias exclusivas e o melhor do jornalismo do UOL.
A reportagem revela o que está por trás da pergunta mais feita nas farmácias do país: "qual é seu CPF?".
Com essa informação, fornecida pelos consumidores para ganhar desconto, as empresas mantêm bancos de dados com até 15 anos das compras — do cotonete ao remédio de tarja preta — feitas por 48 milhões de pessoas no Brasil.
A jornalista esclarece: "O desconto [do CPF] não é real. Eu afirmo categoricamente [...] O preço mais próximo do real é aquele que você paga depois que você dá o CPF".
Ela dá o exemplo de uma caixa com 12 comprimidos de um genérico do anti-inflamatório nimesulida. Custava R$ 31,78 na RaiaDrogasil, em São Paulo, sem o CPF, em agosto de 2023. Já com o CPF, o preço despencava para R$ 8,50. Um desconto tentador de 73%.
Já uma rede de hospitais privados pagou R$ 4,39 pela mesma caixa de nimesulida. Órgãos públicos, por sua vez, adquiriram o mesmo produto por R$ 1,08. "Os R$ 31,78 da tabela que as farmácias cobram [...] só estão lá para você dar o CPF", resume.
E o CPF alimenta o banco de dados das farmácias e é a base de uma operação para a maior rede de farmácias do país, a RaiaDrogasil, ganhar dinheiro com anúncios.
Uma subsidiária da empresa, chamada RD Ads, é contratada por anunciantes que querem direcionar sua propaganda para públicos específicos, conforme as compras na farmácia.
Quem toma antidepressivo, por exemplo. Esse grupo é identificado na base de dados da farmácia. Depois, começa a ver a propaganda não só no site da farmácia, mas nas redes sociais e no YouTube. Segundo o CEO da RD Ads, 97% dos clientes da RaiaDrogasil se identificam.
A ideia é que a farmácia se torne concorrente do Google e da Meta pelo mercado publicitário. Com a diferença, alerta Amanda Rossi, que a RD Ads usa para isso dados de saúde.
"A Lei Geral de Proteção de Dados diz que dado de saúde e de comportamento sexual são os que precisam ser mais protegidos. São chamados de dados sensíveis."
Em nota para a reportagem, a RaiaDrogasil disse que "não condiciona concessão de descontos à identificação pessoal" e que os descontos são "reais". Em todas as unidades visitadas pela reportagem, no entanto, foi informado que o desconto só seria concedido se fosse informado o CPF.
Com informações do UOL
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