CEARÁ-MIRIM – MEMÓRIA E SONHOS
Neste dia 30 de julho, Ceará-Mirim, situada a 30 quilômetros de
Natal, estará comemorando sua emancipação política. É um momento de festa, mas
também neste período, sempre se questiona sobre os possíveis avanços e conquistas
alcançados pela nossa amada cidade.
A incomparável beleza da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, o Palácio
Antunes, o mercado do café entre tantas outras obras arquitetônicas envaidecem
seus moradores. Pessoas acolhedoras e generosas que mesmo nas dificuldades são
felizes por viverem numa cidade tão linda e abençoada.
Já disse o escritor Nilo Pereira em seu livro “Imagens do Ceará-Mirim”,
3ª. Ed., 1989, ao relatar as belezas da cidade: “toda vez que volto a Ceará-Mirim, sinto a alma de novo restituída à
terra. Cada pedaço de chão é sagrado. Nada melhor quando a própria cidade pára
no tempo, porque a velha realidade não precisa de esforço para ser a paisagem
que o menino procura de volta”. Nunca foi tão atual o trecho citado, já que
se fala tanto em preservação ambiental, mas o desenvolvimento sustentável é
fundamental para a sobrevivência humana. Ressalte-se também que não tenho, de
forma nenhuma, a pretensão de criticar o escritor que está entre aqueles de
quem nos orgulhamos. Entretanto, infelizmente,
os que nunca têm a oportunidade de viajarem e viverem em outros lugares e que
anseiam pelo progresso aqui, para que cresçam junto com a cidade, se entristecem
de verem que outros lugares, antes menores, hoje a ultrapassam, porque seus
governantes quiseram que se tornassem grandes e não cidades paradas no tempo.
Cidade de antigos casarões e
orgulhosa por ter abrigado barões e sinhazinhas no tempo áureo da produção de
açúcar, hoje tem como herdeiros os saudosos de um período em que se trabalhava
muito e pouco se ganhava, mas que pelo menos se tinha onde trabalhar. São homens
e mulheres que se viram obrigados a abandonarem os locais onde dedicaram toda a
sua vida: a Usina Ilha Bela, a Usina São Francisco, o engenho Santa Tereza, o
engenho União, o engenho Carnaubal, etc., Estas pessoas chegaram à zona urbana
sem perspectiva nenhuma de uma colocação no mercado de trabalho. Em muitos
casos sua esperança se voltava para os muitos filhos que tinham. Estes,
geralmente com pouco estudo, se aventuram nas cidades vizinhas em busca de
trabalho.
É verdade que por um período acreditava-se
na justificativa de que a falta de progresso em Ceará-Mirim se devia à
proximidade com a capital. Mas pouco a pouco esse argumento caiu por terra
quando outras cidades ainda mais próximas a Natal cresciam a passos largos.
Então essa tese de que a proximidade com a capital é o empecilho para seu
crescimento está infundada. A dura realidade é a que se vê - um número
assustador de trabalhadores que se deslocam de Ceará-Mirim para trabalharem nas
cidades vizinhas. O trem que sai às cinco horas todos os dias viaja superlotado.
Como se não bastasse, os ônibus neste horário fazem fila a caminho da capital. Esses
trabalhadores se sentem indignados quando outros se referem a sua cidade em
sentido pejorativo definindo-a simplesmente como Mirim. Não dá para
simplesmente calar, pois amamos esta cidade, e nossa identidade é a sua
identidade, daí o esforço de muitos em se deslocar e retornar todos os dias, quando
muitos já se foram até para as grandes metrópoles do país.
Tudo bem que no dicionário Aurélio, se encontra um significado tão
simples e resumido como o próprio nome já sugere - Mirim: adj: pequeno, diminuto. Mas não faz parte da índole do ser humano
gostar de ser pequeno, diminuto. A ambição é uma característica natural das
pessoas. Algumas a cultivam pouco, outras a cultivam até demais. Isto é
relativo. Talvez, olhando por esse
ângulo possamos entender porque os herdeiros de fato e de direito dos engenhos
e das usinas não dão ao cultivo da cana-de-açúcar o tratamento que o povo de
Ceará-Mirim gostaria de ver. Sabe-se
também que a falência dos engenhos foi um acontecimento simultâneo em vários
estados brasileiros. Isso talvez justifique a desmotivação por esse tipo de
investimento. Mas também é notório que os avanços tecnológicos estão erguendo
cidades a patamares assustadores. Então, por que Ceará-Mirim deve se alimentar
apenas de lembranças, resumindo-se apenas a uma cidade dormitório?
Felicitar ceará-Mirim pelas belas praias Jacumã, Porto Mirim e Muriú, é o
que mais se quer no próximo dia 30. Infelizmente as ruínas dos engenhos, do
Museu, que hoje atraem turistas entristecem seus moradores pelo abandono. Mas faz
parte dos sonhos dos que amam esta cidade que tudo se reverta e que o Mirim do
nome de sua cidade se torne apenas um adjetivo ilustrativo, quem sabe até antagônico
ao verdadeiro sentido que se quer dar a esta cidade de grandes profissionais,
grandes artistas e grandes sonhadores.
Professora: Margareth Pereira
4 comentários:
Parabéns Marga pelo belo texto.Ele retrata a real situação da nossa querida Ceará Mirim.
Josilene.
Texto digno de ser publicado em todos os meios de comunicação falada e escrita.Margareth vc é um orgulho pra nossa terra.Que Deus te ilumine cada vez mais.
Posta no Litoral Iran, isso aí é texto, Parabéns Professora.
Sem palavras para agradecer a Margareth por tão belo texto.
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