08/12/2025

A VELHA CONFRARIA BOLIVARIANA

A velha confraria bolivariana

O apelo recente de Nicolás Maduro para que “os brasileiros” se mobilizem em defesa de seu regime não deveria surpreender ninguém familiarizado com a história política latino-americana. O ditador venezuelano não fala ao país, mas a um público específico: a militância organizada de extrema-esquerda, que há décadas transita com naturalidade entre Caracas, Havana e Brasília, sob a bandeira da velha solidariedade revolucionária.

A relação é antiga. Desde o início da era Chávez, organizações brasileiras — em especial o MST — participaram de encontros, congressos e programas de “formação” promovidos pelo bolivarianismo. Em 2007, o Senado brasileiro chegou a debater denúncias de treinamento de militantes em território venezuelano, em parceria com as Farc. Antes disso, já havia intercâmbio regular com Cuba, sempre descrito com o eufemismo de “cooperação agrária”, expressão que, na prática, significa formação política alinhada ao comunismo latino-americano.

Nada disso deveria causar espanto. A esquerda latino-americana sempre funcionou como uma constelação de movimentos espelhados, unidos por afinidades ideológicas e interesses estratégicos que atravessam fronteiras, e fazem dos países do continente meros instrumentos para um projeto supranacional de poder. Do apoio brasileiro aos sandinistas nos anos 1980 à criação do Foro de São Paulo em 1990, com Lula e Fidel no centro, a coordenação continental foi se tornando cada vez mais explícita.

O problema é que, hoje, defender o socialismo bolivariano já não exige apenas fervor ideológico, mas uma completa suspensão moral. A Venezuela se tornou sinônimo de crise humanitária, êxodo em massa, colapso institucional e narcoestatismo. Ainda assim, Maduro sente-se à vontade para convocar militantes brasileiros como se pedisse apoio a uma causa legítima, e não a um regime criminoso.

O que o pedido de Maduro revela

Esse pedido revela algo mais profundo: a persistência de uma fraternidade política que, apesar de sua retórica popular, sempre dependeu menos do povo e mais de movimentos sociais, partidos políticos e organizações de fachada. Uma engrenagem que sobrevive não por resultados, mas por lealdade político-ideológica de tipo mafiosa.

Em última instância, o apelo de Maduro não é um gesto de desespero, mas de continuidade. Ele apenas confirma que a velha confraria revolucionária — essa aliança entre movimentos sociais brasileiros (que orbitam em torno do lulopetismo) e regimes autoritários do continente — permanece ativa, esperando apenas a próxima oportunidade de se mobilizar. Como sempre fez.

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