Versos Sobre o Vale
Poeta Amarildo do Violão
Texto: Gerinaldo Moura da Silva
Foto: Arquivo do autor
Manoel Fabrício de Souza era seu nome de batismo, porém, todas as pessoas que o conheciam só o chamavam pelo apelido de Amarildo, e alguns ainda completavam: Amarildo do Violão. Ele também era músico e seresteiro. Um boêmio.
Manoel Fabrício nasceu na zona rural de Ceará-Mirim, mais precisamente no antigo Engenho Ilha Grande no dia 18 (dezoito) de maio de 1944, sendo filho do senhor João Fabrício de Souza e da senhora Amália Damasceno de Souza.
Iniciou seus estudos no Grupo Escolar “Barão de Ceará-Mirim, onde cursou o antigo Primário, hoje Ensino Fundamental I, mas, isso não o impossibilitou de estudar por conta própria, tornando-se um verdadeiro erudito. Era um autodidata em assuntos diversos e detentor de um variado e rico vocabulário.
Era um dos mais assíduos sócios da Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas, onde se refugiava nas horas vagas ou quando saía do trabalho nos intervalos do almoço, estava sempre com um livro aberto, muitas vezes, um dicionário, que colocava em uma das janelas laterais e ficava ali, fazendo suas anotações e sempre levava para casa algum livro para suas leituras diárias formativas ou de lazer.
Dentre os livros mais lidos, estavam os de Sociologia, Psicologia e autores estrangeiros. Era funcionário público da Secretaria Estadual de Saúde e quando o então Governador Geraldo Mello inaugurou o Hospital Dr. Percílio Alves de Oliveira, Amarildo passou a exercer suas funções na recepção, atendendo a todos com presteza apesar de sua sisudez e de poucas palavras.
Em 1993, a então Prefeita Therezinha Mello criou o Prêmio Adelle de Oliveira, acatando a sugestão do Chefe da Assessoria de Cultura do Gabinete da prefeita, professor Gerinaldo Moura da Silva, que também respondia pela gestão da Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas e Amarildo participou do citado concurso literário desde sua primeira edição.
Sempre se inscrevendo na categoria Comunidade até a sua prematura partida para o Plano Celestial, Amarildo conseguia uma boa colocação. Na primeira edição, foi classificado em primeiro lugar com o Poema “Amar”, cuja premiação foi realizada no Salão Nobre “Prefeito Ruy Pereira Júnior”, da Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas.
Amarildo foi agraciado com a “Comenda do Mérito Poetisa Auta de Souza”, conferida pela Prefeitura de Macaíba. Também foi condecorado com o “Mérito Poeta Juvenal Antunes”, outorgado pela AJEB- Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil, Secção Rio Grande do Norte, que tinha como presidenta a poetisa Lúcia Helena Pereira.
Foi classificado no XX Concurso Nacional de Poesias. O Grupo Brasília de Comunicação por unanimidade da sua diretoria e do Instituto da Poesia Internacional para a Divisão Acadêmica, o escolheu como Ocupante de Cadeira, tendo como patrono qualquer um dos poetas mundialmente famoso de todos os tempos.
Manoel Fabrício de Souza foi um dos fundadores do MDB – Movimento Democrático Brasileiro do PMDB- Partido do Movimento Democrático Brasileiro, do PDT- Partido Democrático Trabalhista e do PTB- Partido Trabalhista Brasileiro, pelo qual concorreu como candidato a vice-prefeito de Ceará-Mirim e foi candidato a vereador pelo PMB- Partido da Mobilização Brasileira, não logrando êxito em suas empreitadas políticas.
No ano de 1997, quando a Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas realizou a V Edição do Prêmio Adelle de Oliveira e tinha em sua direção a professora Maria Iolete Lacerda, Amarildo participou com o poema “Minha Pátria”, e foi classificado em segundo lugar na categoria comunidade, recebendo a premiação do saudoso prefeito Dr. Roberto Pereira Varella.
O nome Amarildo faz referência a um jogador da Seleção Brasileira de 1962, cujo apelido ficou para sempre.
Manoel Fabrício de Souza deixou uma vasta produção literária e musical, pois, além de músico e poeta, era cantor e compositor. Dentre seus poemas, podemos destacar Nordeste, Ode ao Cosmonauta, Metáfora Urbana e Viajante do Tempo. Na música temos Exaltação a Madalena Antunes – Samba enredo da Escola de Samba Império do Vale, Tema para Rosabela, Você (balada) e Essa Mulher.
Em homenagem aos 162 anos do Ceará-Mirim, será publicado o poema
“ODE A CEARÁ-MIRIM’
Ceará-Mirim dos palmares
Que se agitam pelos ares
Sob os clarões matinais
Do vento que bem conhece
A sinfonia que tece
Nos verdes canaviais.
Ceará-Mirim onde impera
Uma eterna primavera
Sob o fulgor de mil sóis
Onde no calor dos ninhos
Gorjeiam mil passarinhos
Saudando mil arrebóis.
Terra de praias formosas
Que das ondas caprichosas
De espuma transitória
Render-se vem nas areias
Onde encantadas sereias
Repetem a sua história.
Ceará-Mirim bela terra
Que heróis deu pra guerra
Em tempo e campos diversos
Heróis que o sangue verteram
Que sempre a engrandeceram
Quando na luta imersos.
Ceará-Mirim dos reluzentes brasões
Das antigas tradições
Dos casarões e vivendas
Dos sobradões encardidos
Que viram amores saídos
Dos contos de fadas e lendas.
Ceará-Mirim da fidalguia
Nobreza e aristocracia
Como nunca houve igual
Que ouvia de ricas salas
Cantar o negro nas senzalas
Sua saudade ancestral.
Ceará-Mirim do sonolento “Banguê”
Que ainda ouço planger
Como se vivo inda fosse
De um rico passado antigo
Que o tempo, levou consigo
E nunca, nunca mais, trouxe
Ceará-Mirim dos engenhos
Aonde o franzir dos cenhos
Fez muito escravo tremer
O castigo dos patrões
E no tronco e nos grilhões
Sob o chicote gemer.
Ceará-Mirim
Das sinhazinhas coradas
Com suas saias bordadas
De maravilhosas prendas
Com seus cabelos compridos
E suntuosos vestidos
Que eram sonhos e rendas.
Ceará-Mirim...
Ao desfiar das lembranças
Eu vejo as tuas crianças
Comigo seguindo a banda
Ouço repicar teus sinos
Vejo bailar teus meninos
Numa eterna ciranda.
Eu ouço ecos na praça
Das retretas que eram graça
Da mocidade feliz
Vejo as moças nos balcões
Vendo passar procissões
Nas festas, lá, na Matriz.
Eu vejo o tempo parado
Realidade e passado
Fazer de novo, talvez
Sinhá-moça inda me encanta
Um negro, triste, inda canta
Sua saudade, outra vez.
E nesse enlevo risonho
Consigo ver, no meu sonho
Teu passado posto a nu
Mas nesse belo cortejo
Eu vejo tudo, só não vejo
Outra mais bela que Tu.

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