Itamaraty vê clima esfriar para nova conversa com os EUA sobre o tarifaço
Depois da reunião entre Lula e Donald Trump na Malásia, ficou acertado que o trio de ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) faria uma reunião em Washington com seus homólogos americanos – os secretários Marco Rubio (de Estado) e Scott Bessent (Comércio) e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.
O encontro, no entanto, segue sem data para acontecer. Havia a expectativa de que as negociações pela reversão do tarifaço fossem retomadas nesta semana. Mas fontes da diplomacia brasileira relataram ao Radar que o cenário atual é de silêncio no rádio. E não há nenhuma movimentação para viabilizar uma reunião na capital americana nos próximos dias.
Na última quinta-feira, Greer disse que o governo dos EUA está “analisando o formato” do possível acordo comercial com o Brasil, mas esse processo poderia demorar “algumas semanas ou meses”. E acrescentou: “Queremos ter certeza de que os brasileiros (…) estejam prontos para colaborar.”
O governo Lula já colocou na mesa a possibilidade de reduzir as tarifas cobradas sobre a importação de etanol americano – que é, inclusive, um dos produtos em que de fato os Estados Unidos têm déficit comercial com o Brasil (algo totalmente diferente das constantes declarações de Trump de que os americanos sofrem um “enorme” déficit no comércio bilateral como um todo).
Mas um assunto que promete ser mais espinhoso gira em torno da regulação das big techs proposta pela administração petista. Trump vê medidas de endurecimento de controle de conteúdo e multas por descumprimento como ataques à liberdade de expressão de empresas americanas e, até, o “roubo” de dinheiro delas.
Além disso, cresce no Itamaraty a percepção de que pode demorar mais que o Brasil gostaria para se obter algum avanço nas tratativas bilaterais com os Estados Unidos, com Washington evidenciando que tem outras prioridades na política externa, sendo a principal delas evitar a deflagração de uma guerra comercial com a China.
Mesmo na América Latina, o maior foco de Trump é hoje ostentar a presença militar perto da costa da Venezuela, com um discurso ambíguo sobre o real objetivo de ataques a barcos em águas internacionais sob o pretexto de combater o narcotráfico – de fato, o presidente americano não faz questão de esconder o desejo de ver a queda do regime de Nicolás Maduro.
A escolha de Marco Rubio como o principal negociador americano semeou incertezas entre autoridades brasileiras sobre quão linha-dura o republicano descendente de cubanos seria nas tratativas. Na verdade, a aparente falta de disponibilidade do secretário de Estado dos EUA para receber a comitiva do governo Lula já está se mostrando, em si, um empecilho para o desenrolar das negociações.
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