Argentina registra recorde histórico de abstenção nas eleições legislativas
Menos de 70% dos argentinos compareceram às urnas neste domingo, 26, no pleito legislativo que marcou o maior índice de abstenção desde o retorno da democracia, em 1983. Segundo dados da Câmara Nacional Eleitoral, a participação ficou em torno de 66% do eleitorado, apesar do voto obrigatório no país.
O número rompe o recorde negativo anterior, registrado nas eleições parlamentares de 2021, quando a pandemia e as restrições de circulação reduziram o comparecimento a 71,7%. Desta vez, sem restrições sanitárias, a queda reflete um fenômeno mais amplo: o desinteresse crescente dos eleitores e a fadiga diante do sistema político argentino.
Primeira eleição com Boleta Única de Papel
O pleito de 2025 marcou também a estreia nacional da Boleta Única de Papel (BUP) — mecanismo adotado para simplificar o processo de votação e reduzir fraudes. Ainda assim, o novo formato não estimulou o comparecimento. Ao longo do dia, os números mostraram um ritmo de votação muito abaixo do esperado: ao meio-dia, apenas 23% dos eleitores haviam votado; às 15h, o índice chegou a 41,7%; e, no encerramento das urnas, às 18h, o total mal ultrapassava dois terços do eleitorado.
O governo acreditava que a taxa final ficaria entre 70% e 75%, próxima da média histórica. A expectativa, contudo, não se confirmou. Um em cada três argentinos habilitados decidiu não votar, consolidando a tendência de abstenção que já havia sido observada nas eleições provinciais deste ano, em que a participação média foi de apenas 60%.
A baixa participação popular
Desde a redemocratização, em 1983, a Argentina manteve um padrão relativamente estável de participação eleitoral, raramente inferior a 75%. As exceções ocorreram em momentos de crise — como em 2003, depois do colapso econômico e político que derrubou Fernando de la Rúa, e em 2021, sob o impacto da pandemia.
Nos anos seguintes, o comparecimento havia voltado a crescer: em 2023, as legislativas registraram 77% de presença, impulsionadas pela disputa presidencial. O resultado de 2025, portanto, reverte essa recuperação.
Analistas do país sugerem que a abstenção pode ter múltiplas causas: desencanto com os partidos, desgaste econômico e falta de confiança na representação política. O voto é obrigatório na Argentina, mas, na prática, as penalidades pelo não comparecimento são brandas. Isso favorece o crescimento do chamado “voto de desistência”, quando o eleitor simplesmente se ausenta.
🗳️ Participação e abstenção eleitoral na Argentina (1983–2025)1983 – Presidencial: 85,6%
➤ Primeira eleição democrática após a ditadura; vitória de Raúl Alfonsín.
1989 – Presidencial: 85,3%
➤ Crise econômica e hiperinflação; Menem assume o poder.
1995 – Presidencial: 82,9%
➤ Reeleição de Carlos Menem; leve queda na participação.
1999 – Presidencial: 81,4%
➤ Vitória de Fernando de la Rúa; transição política tranquila.
2001 – Legislativa: 78,2%
➤ Desgaste político e slogan “que se vayan todos!”; início da crise.
2003 – Presidencial (1º turno): 78,2%
➤ Menem desiste do 2º turno; voto em branco em alta.
2003 – Legislativa: 71,9%
➤ Recorde de abstenção até então, após a crise de 2001.
2007 – Presidencial: 76,2%
➤ Cristina Kirchner eleita; retomada da normalidade política.
2009 – Legislativa: 76,4%
➤ Participação estável, sem grandes variações.
2011 – Presidencial: 81,3%
➤ Reeleição de Cristina Kirchner; alta mobilização.
2013 – Legislativa: 77,6%
➤ Primeira eleição com voto facultativo para jovens de 16 e 17 anos.
2015 – Presidencial: 80,8% (1º turno) / 81,0% (2º turno)
➤ Eleição polarizada entre Macri e Scioli.
2017 – Legislativa: 78,7%
➤ Estabilidade na participação.
2019 – PASO (primárias): 66,2%
➤ Menor índice de participação em primárias desde 2011.
2019 – Presidencial: 81,3%
➤ Disputa entre Mauricio Macri e Alberto Fernández.
2021 – Legislativa: 71,7%
➤ Maior abstenção em eleições gerais até então, sob pandemia.
2023 – Legislativa: 77%
➤ Retomada da participação, impulsionada por forte disputa política.
2025 – Legislativa: 66%
➤ Novo recorde histórico de abstenção desde 1983.
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