Cirurgias bariátricas caem pela metade com o aumento do uso de canetas emagrecedoras, aponta cirurgião
O uso das canetas emagrecedoras tem revolucionado o tratamento da obesidade no Brasil, oferecendo uma alternativa menos invasiva e com resultados clínicos inéditos. Com a promessa de perda de peso significativa sem a necessidade de cirurgia, esses medicamentos vêm conquistando pacientes. Como reflexo dessa tendência, o número de cirurgias bariátricas realizadas no país teve queda de até 50%, segundo especialistas, que observam essa mudança tanto em dados nacionais quanto em relatos internacionais. Apesar da popularidade das medicações, médicos alertam que a cirurgia continua sendo a opção mais indicada para casos graves de obesidade.
O cirurgião do aparelho digestivo Felipe Salviano aponta que a redução das cirurgias bariátricas já chegou a quase metade. “Na prática, percebemos uma queda de aproximadamente 50% no volume de cirurgias bariátricas, devido ao aumento do uso das medicações. O Brasil vinha registrando entre 70 e 80 mil procedimentos por ano, mas a expectativa atual é de queda para algo em torno de 40 a 50%”, afirma. Ele acrescenta que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica acompanha de perto essa mudança e confirma a tendência nacional.
Essa percepção é corroborada também pelo cirurgião do aparelho digestivo João Carlos da Silva. “Houve sim, nos últimos anos, principalmente nos últimos 12, 18 meses, uma redução importante no número de cirurgias bariátricas. A percepção é notória em todo o país, e há também alguns relatos internacionais que reforçam essa tendência”, explica.
Apesar da retração, Fellipe Salviano reconhece que as canetas representam um avanço inédito no tratamento clínico da obesidade. “A caneta emagrecedora é o melhor tratamento clínico já criado até hoje. Nenhum outro medicamento chegou perto desses resultados”, destaca.
O atrativo principal das canetas emagrecedoras está no fato de serem menos invasivas e dispensarem anestesia, características que despertam o interesse de quem teme a cirurgia. Mas, para Fellipe Salviano, os riscos não podem ser ignorados.
“Entre os efeitos adversos mais comuns estão náuseas, refluxo e constipação, que levam cerca de 30% dos pacientes a abandonar o tratamento. Em casos mais severos, há registros de internações em pronto-socorro devido a complicações gastrointestinais”, alerta.
Em que casos a cirurgia bariátrica traz melhores resultados?
Para o cirurgião João Carlos da Silva, a escolha entre cirurgia e medicamentos deve considerar principalmente a gravidade da obesidade e a presença de comorbidades. Ele explica que as canetas podem ser úteis para quem precisa perder entre 5 e 10 quilos ou mesmo em pacientes que já fizeram bariátrica, mas voltaram a ganhar peso por questões comportamentais.
“Tenho visto bons resultados em pacientes que já passaram pela cirurgia bariátrica, mas voltaram a ganhar peso devido a fatores como alimentação inadequada, predisposição hereditária à recidiva da obesidade, falta de atividade física ou consumo frequente de álcool. Nesses casos, as canetas auxiliam no controle do peso. Acredito que esses medicamentos vieram para integrar o tratamento após a bariátrica, mas a cirurgia continuará sendo necessária nos casos mais complexos”, afirma.
João Carlos reforça a importância do diálogo com o paciente: “Como a cirurgia é um procedimento mais invasivo, sempre procuro ouvir o paciente. Ele precisa compreender que as canetas podem ser uma opção, mas, se o resultado não corresponde às expectativas ou o custo se torna inviável, muitas vezes retorna mais convicto da necessidade da cirurgia. Acredito que apenas uma pequena parcela consegue realmente abrir mão da cirurgia bariátrica e alcançar resultados semelhantes com os medicamentos.”
Mesmo com o avanço das medicações, a cirurgia bariátrica segue sendo a melhor alternativa para pacientes com obesidade grave. “Aqueles com índice de massa corporal acima de 35, associado a doenças metabólicas como hipertensão e diabetes, apresentam maior benefício com a cirurgia, que é um tratamento mais perene”, esclarece Fellipe Salviano.
Outro ponto relevante é o custo elevado das medicações, que varia entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil por mês. Considerando que obesidade e doenças associadas são crônicas, o uso contínuo se torna necessário. Para o cirurgião, Fellipe Salviano, é inviável pensar em um tratamento vitalício tão caro na realidade brasileira, onde grande parte da população ganha até um salário mínimo.
O crescimento do uso das canetas emagrecedoras reduziu significativamente as cirurgias bariátricas no Brasil. Apesar dos avanços, especialistas reforçam que a cirurgia segue sendo a opção mais eficaz para casos graves, e a escolha do tratamento deve considerar gravidade, riscos e condições individuais de cada paciente.
TN
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