Estudo que aponta chegada dos portugueses ao Brasil pelo RN é publicado por Cambridge
O estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que contesta a versão oficial da chegada dos portugueses ao Brasil pela Bahia foi publicado na revista de impacto internacional Journal of Navigation, da Cambridge University Press.
Segundo a pesquisa, liderada pelos professores Carlos Chesman, do departamento de Física da UFRN, e Cláudio Furtado, da Federal da Paraíba (UFPB), o primeiro ponto de contato da missão de Pedro Álvares Cabral com o território nacional ocorreu no Rio Grande do Norte, e não em Porto Seguro, sul da Bahia, como consta nos livros de história.
O artigo passou por avaliação de pares às cegas por 11 meses. Isso quer dizer que quem avaliou o trabalho não conhece os pesquisadores e estes, por sua vez, não sabem quem fez a análise.
“Se a revista aceita publicar é porque considera relevante. Isso pode gerar novos artigos, debate, historiadores podem adotar o documento, assim como fazer outras análises”, avalia Chesman.
Para chegar a esse resultado os pesquisadores utilizaram recursos tecnológicos atuais, refizeram cálculos, combinaram dados físicos, mapas interativos, imagens de satélite e cruzaram documentos da época com evidências geográficas e oceanográficas.
“Esse assunto estava esquecido há 200 anos, quando Adolfo de Varnhagen disse que a chegada dos portugueses foi por Porto Seguro, mas ele era o Visconde de Porto Seguro! Câmara Cascudo, em 1933, já dizia que a chegada dos portugueses havia sido pelo RN quando ele foi defender a tese para ser professor do Colégio Atheneu. Lenine Pinto fez a mesma defesa, mas dizia que o que se via do mar era o Pico do Cabugi. O desembarque ocorreu pelo Leste e de lá não dá para ver o Pico do Cabugi”, ressalta Chesman.
Segundo o pesquisador, a Carta de Pedro Vaz de Caminha traz uma série de informações que têm sido ignoradas. Uma delas é que, a contar do desembarque, viajando 130 quilômetros, encontram-se falésias vermelhas, uma referência à Barreira do Inferno.
“Outra coisa na Carta é que Caminha fala do encontro de camarões grandes e gordos. Também tem informação de fauna e flora, descrições antropológicas, que não dominamos, descrevendo feições e pinturas dos indígenas”, revela.
O pesquisador também aponta que os ventos trazem as embarcações da Europa para o litoral do Rio Grande do Norte e não para o Sul da Bahia. De toda forma, a pesquisa é só o ponto inicial de um debate que tem muito a esclarecer.
“A publicação mostra que a UFRN está preocupada em debater esse assunto. Para o RN, se isso for aceito, é uma pesquisa que começou na universidade, abre uma nova seara. É o ponto de partida para mais estudos. A aceitação internacional já mostra que foi um trabalho bem feito”, resume Chesman.
Em abril, o artigo já havia sido publicado no Brazilian Journal of Science.
Mais detalhes
O estudo também indica que o monte avistado em 1.500 (indicado nos livros como Monte Pascoal) seria, na verdade, o Monte Serra Verde, localizado no interior do RN, perto de João Câmara.
Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral, descreveu em sua famosa carta as profundidades do mar e uma montanha alta e arredondada avistada do navio. Segundo os pesquisadores, a descrição bate com a geografia do litoral potiguar, mais especificamente com a região entre as praias do Marco, no município de Pedra Grande, e de Zumbi, em Rio do Fogo, próximo à foz do rio Punaú.
As simulações por GPS indicam que a chegada pela Bahia não corresponderia aos ventos e correntes da época. Já a rota pelo RN segue o trajeto natural das correntes atlânticas, descritas nos diários de navegação do século XV.
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