ABC avança em reestruturação; ações trabalhistas têm prioridade na negociação
O ABC Futebol Clube deu mais um passo rumo a sua Recuperação Judicial, adotando medidas para reestruturação financeira e administrativa. O presidente Eduardo Machado participou de uma audiência na 23ª Vara Cível de Natal com a juíza responsável pelo caso, Luiza Cavalcanti Passos Frye Peixoto, e com a administradora judicial, Ana Cláudia, representante da Lindoso e Araújo, visando prosseguir com o processo.
O encontro teve como objetivo alinhar etapas e procedimentos da Recuperação Judicial, reforçando o compromisso do clube com a reorganização financeira dentro dos preceitos determinados pela legislação. Após a audiência, a administradora judicial visitou a sede do Alvinegro para iniciar as discussões sobre os próximos passos do processo. A visita contou com a presença de membros da diretoria e profissionais diretamente envolvidos, incluindo o Vice-Presidente do Conselho Deliberativo, Ricardo Couto, além de representantes da Matos Advogados, da PPK Consultoria, da Controladoria e da Diretoria Jurídica do clube.
A diretoria do ABC destacou que todas as medidas visam estruturar um plano sustentável, garantindo a continuidade das atividades sem prejuízo.
O ABC, uma das instituições esportivas mais tradicionais do Nordeste, seguiu os passos de outras equipes da região, como Sport Recife e CSA, ao recorrer à Recuperação Judicial. O clube entrou com o pedido em 28 de abril, buscando reorganizar suas finanças após anos de dificuldades. O processo envolve uma dívida total de R$ 41,3 milhões e 243 credores. O objetivo central é estabilizar a situação financeira e assegurar transparência na gestão.
O presidente Eduardo Machado e o advogado Gustavo Matos, especialista em casos de Recuperação Judicial e atuante em mais de 100 processos do tipo no país, detalharam os números, riscos e próximos passos do clube.
A Recuperação Judicial é um mecanismo que permite a empresas e clubes de futebol renegociar dívidas com credores sob proteção da Justiça. No caso do ABC, a decisão foi tomada após gestões anteriores que, segundo Machado, deixavam de tratar problemas financeiros estruturais. “Seria mais cômodo não tomar essa decisão, mas assumimos a responsabilidade. Com 243 credores batendo à nossa porta e bloqueios sufocando o clube, não tínhamos como trabalhar. Agora, teremos um plano de pagamento referendado pela Justiça”, afirmou o presidente.
A dívida do ABC foi dividida em quatro grupos principais, de acordo com as prioridades de pagamento. As dívidas tributárias somam R$ 27 milhões, referentes a débitos com a Receita Federal e outros órgãos públicos. Embora não integrem diretamente o processo de Recuperação Judicial, há possibilidade de negociação de prazos e redução de juros.
As ações trabalhistas totalizam R$ 6,4 milhões, referentes a processos movidos por ex-jogadores, funcionários e membros da comissão técnica. Essas dívidas têm prioridade na negociação.
Fornecedores e pessoas físicas representam R$ 5 milhões da dívida, incluindo empresas que prestaram serviços ao clube e torcedores que realizaram empréstimos ou doações e agora estão na fila para receber dinheiro de volta.
O último grupo de credores é formado por micro e pequenas empresas, que acumulam um saldo de R$ 1 milhão a receber. Isso inclui parceiros comerciais menores, como gráficas e lojas de material esportivo.
O advogado Gustavo Matos explicou que o ABC não corre risco de falência. O clube tem mais ativos do que dívidas e o estádio Maria Lamas Farache (Frasqueirão), sozinho, vale bem mais de R$ 50 milhões e não está penhorado. “O ABC é equity-positive (situação em que o valor dos ativos é maior do que o valor dos passivos). Se vendesse todos os seus bens, pagaria a dívida e ainda sobraria muito dinheiro”, explicou Matos.
Com a aprovação do processo, todas as ações contra o clube, incluindo bloqueios de receitas e penhoras, ficam suspensas por 180 dias, permitindo o uso do caixa para despesas essenciais, como salários e custos operacionais.
Além disso, cerca de R$ 7 milhões em recursos bloqueados pela Justiça do Trabalho serão liberados ao clube. “Caberá à diretoria decidir como utilizar esses valores. A administração é livre para definir estratégias, mas acredito que parte desses recursos deve ser direcionada para o pagamento dos credores, buscando algum deságio”, disse Gustavo Matos.
O ABC segue trabalhando para garantir estabilidade financeira e estruturar um plano viável para sua gestão. Eduardo Machado quer deixar o clube novamente em condições de ser administrado sem maiores percalços.
TN
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