31/12/2023

SAÚDE: PNEUMOLOGISTA DIZ QUE ONDA DE CALOR PODE AFETAR O SISTEMA RESPIRATÓRIO

Onda de calor pode afetar o sistema respiratório, diz o pneumologista

Mais do que a sensação desconfortável, o calor intenso dos últimos dias pode oferecer diversos riscos à saúde. A redução da umidade do ar em períodos de tempo seco tende a aumentar o risco de doenças respiratórias, especialmente para pessoas com comorbidades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a umidade ideal para a saúde humana deve situar-se entre 50% e 60%. Abaixo disso, os riscos crescem. A baixa umidade exige cuidados especiais, especialmente para pessoas com sintomas de doenças respiratórias e condições cardíacas.

A atual onda de calor, em especial, pode afetar o sistema respiratório de forma direta, segundo o pneumologista Felipe Marinho. “O sistema respiratório é muito complexo e uma das janelas abertas para o meio externo. O calor é um desafio adicional para esse sistema, especialmente em tempos de baixa umidade, pois precisaremos de água para umidificar o ar que acabou de entrar nas vias aéreas”, afirma.

O médico segue explicando que as temperaturas elevadas costumam ser acompanhadas dos piores índices de poluição nos grandes centros. Isso acontece porque o calor facilita algumas reações, como formação de ozônio. Outro ponto, segundo ele, é que o calor pode prolongar a estação de pólen, o que costuma trazer sintomas para pacientes alérgicos.

São vários os motivos pelos quais o calor excessivo favorece quadros de infecção respiratória, mas segundo Felipe, o principal ofensor associado a isso é a baixa umidade, que pode fragilizar as mucosas respiratórias e atrapalhar a imunidade local. “Além disso, por conta do calor, as pessoas podem se aglomerar em cantos fechados e climatizados, facilitando a transmissão de agentes infecciosos. O calor pode propiciar a proliferação e transmissão desses agentes, como vírus e bactérias”, completa.

Calor sufocante

Dados levantados por um estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), divulgado recentemente, indicam ainda que há um importante aumento na mortalidade hospitalar por doenças respiratórias associadas às altas temperaturas.

O artigo, publicado no periódico científico The Lancet Regional Health – Europa, sugere que o crescimento de casos de doenças respiratórias agudas durante o calor, responsáveis pelo risco aumentado de óbito, está mais relacionado ao agravamento de doenças crônicas e infecciosas do que à propagação de novas infecções, que são mais comuns em períodos frios.

Segundo o pneumologista, os pacientes mais vulneráveis ao calor intenso são aqueles com doenças alérgicas como asma e bronquite, que podem ter seus sintomas e condições piorados. Além desse grupo, ele também ressalta pacientes com graves condições pulmonares ou até mesmo pacientes cardíacos, que terão seu organismo trabalhando sob estresse adicional e podem descompensar seu equilíbrio.

Um velho problema associado ao calor, a desidratação, também oferece seus perigos específicos. “As altas temperaturas nos colocam em maior risco de desidratação. Além das doenças respiratórias, pacientes com problemas renais e cardíacos são muito afetadas nessa época. Não podemos esquecer que, com o veraneio e o calor, ocorrem epidemias de diarréias, agravando o risco de desidratação”.

Crianças e idosos, em especial, costumam ser afetados pelas ondas de calor de forma mais intensa. São “grupos de risco especiais”, segundo Felipe Marinho. As crianças porque têm uma proporção maior de água no corpo e um alto metabolismo. Por isso, facilmente se desidratam. Já os idosos vivem no outro extremo, com menos proporção de líquido, podendo desequilibrar seu organismo com mais facilidade. Esses dois grupos podem não pedir ou tomar líquidos em quantidades suficientes, e precisam de monitoramento de outras pessoas.

Pessoas com rinite e sinusite, doenças respiratórias bastante comuns, também podem ser afetadas nessa época do ano. “Isso pode variar, mas os pacientes com rinite e sinusopatias alérgicas, especialmente se morarem longe do litoral, enfrentarão clima mais seco e estarão mais suscetíveis a desidratação das mucosas. Já os pacientes que estiverem em ambientes mais úmidos e quentes poderão ter problemas com mofo, piorando seus problemas alérgicos”, alerta.

Até velhos conhecidos como a gripe e o “novato” Covid-19 podem experimentar uma período de alta nessa fase do ano. “Acredito que o contexto é favorável a uma maior transmissão, sim. Na nossa região, essa época de mais calor também é muito marcada por aglomerações, comemorações e festas”, diz.

Levando em conta que o Covid-19 virou vírus endêmico, ou seja, circula regularmente no meio, e que a imunidade específica costuma ser menos efetiva após alguns meses da imunização (por vacina ou pelo contato com o vírus selvagem), pode haver mais contágio. “Já com relação a ao vírus da gripe, costumamos ver início do contágio perto do meio do ano, lá pro mês de maio. Nesses próximos meses, eles irão circular mais no hemisfério norte.

Cuidados

Um cuidado essencial em época de temperaturas altas é a hidratação. Ela auxilia na resposta imunológica e dificulta a capacidade de contágio de vírus da gripe e da Covid-19, por exemplo, e também ajuda muito quem tem doenças crônicas e alergias. Felipe Marinho recomenda que seja mantida boa uma hidratação, bebendo agua para ajudar a manter as mucosas úmidas, facilitando a filtragem de partículas e micro-organismos.

Evitar exposição ao calor extremo e preferir ambientes bem ventilados; ter cuidado com os filtros do ar condicionado, eles precisam de limpeza mensal – chamar um técnico para limpeza anual de todo o sistema de ar condicionado.

Se a pessoa mora em um lugar com muita poluição, alerta o médico, deve ficar atento às medições da qualidade do ar e se protejer com máscaras. Se o ar estiver muito seco, usar umidificadores de ar. “E por fim, se você fuma, aproveite que o ano novo vem ai e já coloque como prioridade parar de fumar”, conclui.

TN

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