06/01/2023

TAKABIXIGA: MAIS UM MILICIANO NA VIDA DA MINISTRA - POR ENQUANTO LULA MUDO

Quarto suspeito de integrar milícia ligado a Daniela Carneiro promoveu ‘reunião’ para divulgar candidatura da ministra

Mais um homem acusado de ser integrante de milícia que atua na Baixada Fluminense teve participação ativa na campanha da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho (União Brasil), para deputada federal. Com o nome do PM Luiz Eduardo Santos de Araújo já são quatro os suspeitos de integrarem grupos paramilitares com conexão com a titular da Esplanada de Lula.

Araújo — réu na Justiça sob a acusação de fazer parte, segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ), de “uma milícia violenta que se organiza por franquias” em vários bairros de Belford Roxo — pediu votos em comícios e até promoveu uma “reunião”, em agosto do ano passado, com moradores da cidade para divulgar a candidatura da hoje ministra. A denúncia do MPRJ aponta que ele — vereador de Belford Roxo, em terceiro mandato — é “político da região e integrante da milícia privada, responsável por evitar prisões dos integrantes da malta”.

Nas redes sociais, a então candidata agradeceu a Araújo pelo apoio durante a campanha: “Participei hoje de uma reunião muito boa promovida pelo vereador Eduardo Araújo e sua equipe no bairro Santa Maria, em Belford Roxo. Muito obrigado a todos os presentes que me receberam com muito carinho”.

Em 24 de setembro, Araújo pediu votos para Daniela do Waguinho em seu perfil: “Vamos juntos com apoio total aos nossos deputados Daniela do Waguinho e Márcio Canella para mais quatro anos de muito trabalho e dedicação ao nosso povo belforroxense e ao Estado do Rio”.

Em novembro de 2019, o vereador foi alvo de um mandado de busca e apreensão numa operação que prendeu 15 suspeitos de integrar o grupo paramilitar. No mês seguinte, ele foi denunciado à Justiça, virou réu e responde ao processo, pelo crime de constituição de milícia privada, em liberdade. Ele é acusado de ter atuado para evitar a prisão em flagrante de três comparsas por porte ilegal de arma, em maio de 2019. Segundo o MPRJ, ele intercedeu junto à 54ª DP (Belford Roxo), para onde os presos foram encaminhados. Ao final da ocorrência, o trio não foi autuado em flagrante.

A milícia da qual Araújo é acusado de ser integrante age, segundo o MP, na “venda de cigarros falsos, exploração de gatonet e transporte irregular” e é responsável por “vários homicídios ocorridos na região com o intuito de ‘manter a ordem local’ e deterem o domínio ilegítimo de território com o intuito de auferirem vantagens patrimoniais ilícitas”. O GLOBO não conseguiu contato com o vereador.

Os laços do PM, que já teve passagem pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), com Daniela vão além da campanha: em vídeos publicados em suas redes sociais, ele se diz “amigo particular” do marido da ministra, Wagner Carneiro, o Waguinho, prefeito de Belford Roxo. Em outros textos publicados em seus perfis, Araújo chama Waguinho de “o melhor prefeito do país”. Mesmo réu por integrar a milícia, Araújo foi nomeado pelo “amigo” para vários cargos na prefeitura, como secretário da Pessoa com Deficiência e, em dezembro de 2021, secretário de Energia Sustentável.

Gás e Gatonet

Nesta quinta-feira, O GLOBO também revelou a conexão com a ministra de Fábio Augusto de Oliveira Brasil, o Fabinho Varandão, réu na Justiça sob a acusação de comandar um grupo paramilitar que monopoliza o sinal clandestino de TV e internet e a venda de gás de cozinha em dez bairros de Belford Roxo. Varandão participou de caminhadas, eventos em clubes e de um comício da então candidata na cidade, em setembro de 2022. Todas as atividades foram em locais que, segundo o MP, são dominados por seu grupo.

Em 2020, ele foi reeleito como vereador mais votado de Belford Roxo, após fazer campanha junto com Waguinho. As acusações não impediram Brasil de ganhar vários cargos na Prefeitura de Belford Roxo após a reeleição. Desde 2021, ele foi nomeado, pelo prefeito, secretário de Defesa Civil, da Pessoa com Deficiência e, em maio do ano passado, de Ciência e Tecnologia.

O miliciano Juracy Alves Prudêncio, o Jura, também fez campanha para Daniela e ganhou cargos na prefeitura. O ex-policial militar, condenado a 22 anos por homicídio, entregou santinhos ao lado da ministra numa passeata na Baixada Fluminense em 2018. Na época, Jura estava preso em regime semiaberto, mas conseguiu autorização da Justiça para sair da cadeia para trabalhar e ganhou o cargo de Diretor do Departamento de Ordem Urbana na prefeitura de Belford Roxo.

A ministra, o marido e o miliciano também posaram juntos para fotos feitas em outros momentos, como uma festa infantil. Segundo as sentenças que condenaram o ex-sargento da PM entre 2010 e 2014, Prudêncio era chefe do Bonde do Jura, uma milícia acusada de uma série de homicídios na Baixada Fluminense. Ele está preso desde 2009, quando foi o principal alvo da Operação Descarrilamento, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que levou para trás das grades nove PMs acusados de integrar a milícia que ele chefiava.

Em nota sobre o apoio de Jura, a ministra afirmou que “apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito”.

Após virem à tona esses vínculos eleitorais com acusados de chefiarem milícias, Daniela deletou de suas redes duas publicações ao lado do ex-presidente da Câmara municipal de Belford Roxo Márcio Pagniez, conhecido como Marcinho Bombeiro. Em outubro de 2019, o então vereador do PSL foi preso em investigação por duplo homicídio e suspeita de chefiar um grupo paramilitar na Baixada Fluminense.

Procurada, a ministra enviou a seguinte nota: “A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, reafirma que não compactua com qualquer ato ilícito e cabe à Justiça o papel de julgar e punir. Por fim, esclarece que durante sua campanha recebeu o apoio de milhares de eleitores em diversos municípios do estado”. Já a Prefeitura de Belford Roxo informou que “Luiz Eduardo de Araújo é vereador e não teve sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral, ficando assim livre para disputar a eleição e, consequentemente, ocupar qualquer cargo na administração pública”. A nota conclui: “Os possíveis casos de desvio de conduta devem ser julgados pela Justiça”.

O Globo

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