05/06/2022

POLÍTICA, PALAVRA E O JOGO DO BICHO - POR DR. RICARDO SOBRAL

*Ricardo Sobral, observador da cena política.

Segundo Padre Vieira, maior expressão do Barroco Brasileiro, para falar ao vento, bastam as palavras; para se falar ao coração são necessárias obras.

Obras no sentido de ações, acrescento.

Na política, a palavra - no mais das vezes - é usada para confundir, simular, dissimular, esconder o pensamento, escamotear a verdade.

Poucos fazem política como ciência, com base em postulados, com respaldo em experiencias vividas. A maioria faz política como arte, intuitivamente, quando não o fazem como negócio.

O jogo do bicho foi inventado em 1892 pelo Barão de Drummond para custear o Zoológico do Rio de Janeiro. Logo virou mania nacional e faz parte do folclore brasileiro. Para se ter ideia do largo espectro de sua capilaridade, registra-se que apenas uma escola de samba do RJ não é financiada pelo Jogo do bicho. Hoje, mesmo considerado contravenção penal, é a instituição mais séria do País, tem mais credibilidade perante a população do que a suprema corte (minúsculo mesmo). Vale o que está escrito, dito e reduzido a termo no papel. Cantou o bicho, paga-se imediatamente o prêmio. Não há notícia de alguém em tempo algum que levou calote.

Para o observador político experiente, mais vale o que não foi dito e o que está dito nas entrelinhas do que o que foi declarado pelo agente político e o que está posto no papel. Se a palavra não tem âncora e não se harmoniza na ação ou na omissão é um risco n’água, não vale nada, foi dita “para inglês ver”.

Na terra de Potiguaçu não se fala em programa de governo, interesse público, desenvolvimento, bem-estar-social. Esqueçam! Estão todos focados na própria sobrevivência. Daí as alianças antagônicas, incompatíveis programaticamente.

Em 1982, ao reconhecer o resultado adverso da campanha para governador, o Dr. Aluízio Alves – lembro como se estivesse vendo agora – declarou em discurso dolorido: “agradeço a todos quantos, movidos por seus legítimos interesses pessoais, participaram da minha campanha. A luta continua.”

O interesse pessoal, pois, não é só do político. É do eleitor, notadamente daquele que vota mal, segundo suas demandas imediatas, sem preocupação com as demandas da sociedade e do País, o que lembra a passagem bíblica: conhece-se a árvore pelos frutos. O eleitor é a árvore; seu representante, o fruto de sua escolha.

A quatro meses da eleição para governador, se se quer saber em qual candidato determinado político vai votar - quer seja decaído ou com mandato -, não se preocupe com o que ele fala. Observe qual o interesse dele na eleição e o que ele faz ou deixar de fazer. Seu andar comissivo ou omissivo. Vai-se observar que essa ação ou omissão beneficia determinado candidato. Ele é capaz de votar hoje no adversário em prejuízo do correligionário se isso lhe resultar em beneficio mais adiante.

Olhando o cenário, vejo todo mundo em campo, feito o aquecimento, cada um ocupando sua posição. Os que jogam à céu aberto e os que jogam incógnitos. Não tenho a menor dúvida das escalações.

Fico aqui imaginando o ar de surpresa do eleitor quando descobrir quem está ajudando nos bastidores a reeleição da governadora.

Hoje, poucos sabem; menos, acreditam.

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