06/06/2022

O FENÔMENO POLÍTICO DA CRISTIANIZAÇÃO - POR DR. RICARDO SOBRAL

*Por Ricardo Sobral, observador da cena política.

Cristiano Monteiro Machado nasceu em Sabará, MG, em 1893, bacharelou-se em direito no Rio de Janeiro em 1918. Foi deputado estadual e federal, constituinte de 1934 e 1946. Prefeito de Belo Horizonte, construiu o mercado central de BH. Em sua homenagem, batizou-se com seu nome importante Avenida da capital mineira. Nomeado embaixador no Vaticano, faleceu em Roma no já distante 1953, com apenas 60 anos de idade.

Em 1950, foi o candidato do PSD à Presidente da República. Apesar de manter formalmente o registro da candidatura até o fim, o partido o abandonou para apoiar a candidatura de Getúlio Vargas, que ganhou a eleição com folgada maioria.

Nasceu nesse episódio o fenômeno político brasileiro da cristianização, caracterizado quando um partido ou sistema político abandona seu próprio candidato para apoiar outro fora de suas hostes, geralmente com mais chance de vitória.

Pesquisei, pesquisei, não encontrei nada igual em outros partes do mundo.

A cristianização, pois, é uma contribuição que a festejada criatividade brasileira dar à ciência política.

De lá para cá muitos candidatos foram cristianizados na arena política brasileira.

Em 1985, o PDS, em tese majoritário no colégio eleitoral, lançou Paulo Maluf a Presidente. Contudo, a maioria do partido debandou apoiando Tancredo, do PMDB, que venceu a eleição, mas não chegou a assumir. Sarney, o vice, cumprindo a regra constitucional, tirou o mandato.

Em 1989 foi a vez de Aureliano Chaves ser cristianizado. O PFL, seu partido, abandonou sua candidatura para apoiar Fernando Collor, que venceu a eleição, assumiu, decretou o Plano Collor e confiscou a poupança do povão. Para não ser cassado pelo Congresso renunciou ao cargo. Aos 42 anos de idade, já era ex-presidente da República. Hoje, é senador por Alagoas em final de mandato.

Em 2010, a classe política brasileira se superou nas Minas Gerais, criando um plus na cristianização: a cristianização cruzada. O PSDB de Aécio, simplesmente fez corpo mole na campanha de Zé Serra para Presidente. Em contrapartida, o PT mergulhou sua militância, que não trabalhou para o candidato petista Hélio Costa. Ganharam as eleições Dilma e Anastasia, Presidente e Governador. Foi a chapa informal Dilmasia.

Sei não, viu, não sou pitonisa, nem bebi xixi de cigana para advinhar. Sou apenas amansador de burro brabo, mestre do ponto de canjica e de pirão de peixe; mas, olhando o cenário político do RN de 22, sinto no ar o cheiro de fumaça do fenômeno político da cristianização.

A informalidade de 22 será a chapa FAEL?

Nenhum comentário: