Filha de diarista é aprovada em medicina na UFRN, e mãe diz: 'Contava nos dedos o dinheiro da passagem para o cursinho'
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"Eu tive muita ajuda da família, das minhas primas, dos meus professores, muito apoio. Principalmente quando se trata de uma pessoa negra, pobre e da periferia, se você não tiver ajuda de terceiros, você não vai pra frente. Foi difícil, foi. Mas a gente vai tentando e no final consegue", disse Raíssa, que sempre estudou em escola pública.
O Sisu é a plataforma do governo que seleciona estudantes para vagas em universidades públicas com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A mãe da jovem conta que a dificuldade aparecia também quando a filha precisava ir ao cursinho pré-vestibular.
"Às vezes, eu ficava aqui, contando nos dedos o dinheiro da passagem para o cursinho. Se era ela que ia ou o irmão", lembra Rosângela do Nascimento.
Raíssa ficou os últimos dois anos apenas estudando para o vestibular. Mas nem mesmo ela acreditava que poderia ser aprovada em medicina na UFRN.
Com a casa em reforma - inclusive com cômodos ainda sem telhado -, ela tentava se concentrar apesar do barulho frequente. Assim, se instalou em uma espécie de beco da residência, local onde são estendidas as roupas no varal.
Raíssa adaptou o espaço para se sentir mais confortável. Fez uma cobertura improvisada em cima sobre a mesa de estudos e se cercou de plantas. Era uma forma de fugir da confusão da reforma. E lá ficava várias horas do dia.
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"A Raíssa, eu acho que é a pessoa mais determinada que eu já conheci na vida. Acordava cedo, chegava cedo, ia em todas as aulas e era a mesma cara, o mesmo sorriso, o mesmo jeito, nunca mudava", disse João Pedro, professor de Raíssa.
"Tudo que ela tinha dificuldade, ela sanava a dúvida, procurava os professores, fazia os exercícios. É um exemplo de determinação que dificilmente a gente encontra de novo."
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Dona Rosângela é diarista |
O pai da jovem lembra que desde que ela era criança pensava em ser médica. "Sempre foi um sonho dela. Ela pequenininha colecionava alguns DVDs de séries de médico. Eu comentava com a mãe dela, que achava que ela ia ser médica", diz Moisés Afonso.
Com a aprovação no vestibular, o sonho citado pelo se concretizou. "Conseguimos. E ela vai fazer essa faculdade seja lá quantos anos forem", reforça Rosângela do Nascimento.
G1
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