04/05/2019

VENEZUELA: 'A GENTE NÃO TEM MAIS PARA ONDE CORRER'

'A gente não tem mais para onde correr', diz brasileira professora de dança que mora em Caracas

Simone com Chacrinha (ela é a moça com o adorno na cabeça, ao lado da que está com plumas), em foto não datada. — Foto: Arquivo pessoalSimone com Chacrinha (ela é a moça com o adorno na cabeça, ao lado da que está com plumas), em foto não datada. — Foto: Arquivo pessoal

Falta de comida, água, alimentos, remédios. Pessoas gritando, carros e ambulâncias pelas ruas até tarde da noite que não a deixam dormir, bloqueios de ruas. Esse é o cenário que a brasileira Simone Nevado, de 66 anos, descreve no bairro de Los Ruices, em Caracas, na Venezuela, cidade onde mora há 40 anos e dá aulas de dança -- de samba, mais especificamente.

"É uma guerra, a gente não tem mais para onde correr. Nós já estamos com água no pescoço. Nos últimos dois, três dias, foi terrível. Não pude dormir de noite, de madrugada. Era carro, ambulância passando, pessoas gritando, apitando", narra a brasileira.

Na última aula particular que Simone deu, na casa dela, sete alunas apareceram. Normalmente, são dez. Cada uma paga 10 dólares (cerca de R$ 40) por um pacote de quatro aulas de duas horas, todos os sábados. Além das aulas particulares, ela também ensina em um instituto de cultura brasileira em Caracas, mas, por causa da crise, não recebe nada por isso.

A situação financeira é difícil. Com a hiperinflação que atinge a Venezuela, um dólar equivale, agora, a cerca de 5,2 mil bolívares, segundo o câmbio oficial.

"O que você consegue [de dinheiro] é pra comer. É tudo muito, muito, MUITO caro. O pão daqui, um pãozinho redondo, custa 1,5 mil bolívares. Em Boa Vista, uma cesta básica custa R$ 60, R$ 45 — dá pra comprar frango, carne, ovo, verduras, frutas. Meu marido comprou quase isso aqui [em reais] e não trouxe 1kg de carne, frango, peixe, nem nada enlatado", relatou.

A cada dois meses, ela embarca de Caracas rumo a Boa Vista para buscar dinheiro no Brasil e comprar comida. A viagem, que dura mais de um dia, ficou perigosa. No final de março, conta Simone, ela precisou usar uma "trocha" — como são conhecidas as rotas clandestinas — para conseguir atravessar a fronteira entre Brasil e Venezuela por Pacaraima (RR), que está fechada desde fevereiro.

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