O xadrez do escândalo dos precatórios após vídeos vazados: revelações, contradições e pontos em branco do roubo que sacudiu o RN
Há quatro anos o Rio Grande do Norte foi sacudido pela "operação judas". A ação desbaratava desvio de recursos do setor de precatórios do Tribunal de Justiça. A chefe da repartição, Carla Ubarana, foi enquadrada, juntamente com o seu marido, George Leal, como mentores do crime. Em acordo de delação premiada, ela alegou que os dois ex-presidentes do TJ, Rafael Godeiro e Osvaldo Cruz, eram beneficiários do esquema.
Após quatro anos, gravações suprimidas pelo Ministério Público, conforme reportagem do Portal no Ar e Tv Ponta Negra, mostram Ubarana e Leal em conversas que geram uma reviravolta no caso.
Principais revelações:
01) Nos vídeos, Carla Ubarana estrela combinando uma versão picotada a ser contada por ambos;
02) Ela menciona também que uma parte dos recursos roubados está muito bem enterrada na casa da irmã e que a polícia sabia, pois que seguia sua parente;
03) Que vai colocar a culpa nos dois ex-presidentes do TJ porque "depois eles seriam esquecidos";
04) E que finge um perfil de fragilidade, até simulando a ingestão de remédios (veja os vídeos aqui).
Consultei alguns advogados e membros do TJ, que foram unânimes. O que já está escancarado é que as gravações foram suprimidas porque são ilegais e/ou foram retiradas ilegalmente do raio de atuação da defesa dos desembargadores. Elas foram feitas numa sala da Procuradoria Geral de Justiça do MP em que os investigadores gravam todos os depoimentos. Naquele momento, "esqueceram" a câmera ligada e permitiram a conversa informal entre Ubarana e Leal. Uma arapuca.
Alguns trechos foram, inclusive, utilizados pelo MP. No entanto, as demais partes desapareceram, de acordo com reportagem do Portal no Ar e Tv Ponta Negra. O Ministério Público agiu de maneira absolutamente desleal e desproporcional: embalando a denúncia, por um caminho, em gravações que foram seletivamente juntadas ao processo, por outro. Tal conduta enfraqueceu a capacidade de defesa dos acusados, além de ter ocultado o que é dado como senso comum nos corredores do TJ - Carla Ubarana guardou dinheiro, não contou tudo o que sabe, encontrando uma saída boa para ela, e, possivelmente, os valores propagandeados não têm âmparo na realidade, pois que subestimados.
Pelos vídeos, já é dado notório que Ubarana ocultou recursos, combinou suas falas e "afinou" a versão com o marido - que aparenta possuir escassas características de "mentor intelectual" -, manipulando narrativas para sair ilesa do processo. O fato do roubo ter sido maior ainda é mera especulação.
Os vídeos também evidenciam que o acordo de delação premiada fechado pelo casal com o Ministério Público foi ótimo para eles e ruim para a sociedade. Ora, além de ter mentindo, não restituindo o setor de precatórios sobre o valor integral que extraviou, recortou os acontecimentos. Apesar disso, o MP, não apenas homologou, como também lutou para mantê-lo válido contra o STJ, que anulou a redução de pena, conforme matéria postada pela Tribuna do Norte (aqui).
Como e por qual razão o Ministério Público fechou um acordo nessas condições? Isto precisa ser explicado e o acordo de delação possivelmente cancelado.
Carla Ubarana construiu uma relação de proximidade com os membros do MP. Tanto que foi abandonada por dois advogados no decorrer do processo por repassar informações para o parquêt ao arrepio da estratégia de defesa dos contratados. Os advogados alegaram na época que sequer foram consultados e se retiraram do caso.
Outro aspecto interessante dos vídeos tem a ver com a maneira como Ubarana manipulou a opinião pública e instituições, erguendo um perfil de fragilidade que, na verdade e nem de longe, demonstra ter nas conversas. Em suas falas, entrevistas e na bombástica reportagem do Fantástico, ela tenta mostrar se como uma pessoa enfraquecida e praticamente nas mãos dos desembargadores a quem acusava. Do ponto de vista da opinião pública, os vídeos desmontariam esse perfil, a enfraqueceria como testemunha e a forma como ela tentou se vitimizar ao mesmo tempo em que vilanizava seus superiores também processados.
A existência dos vídeos, a maneira como foram produzidos e depois ocultados gritam por explicações e pronunciamentos de todos os envolvidos. Eles estão em xeque. Outra coisa é certa: existiu muita precipitação na forma com que vazaram tudo para a Rede Globo, além de uma insofismável seletividade e pontos turvos que, pelas gravações, foram preenchidos com ilações fundadas em depoimentos agora sabidamente questionáveis.
Outro membro do TJ com quem conversei me disse o seguinte - só se entende tudo o que ali aconteceu, se forem reconstruídas às brigas dentro do Tribunal para comandar a instituição, controlar o processo de nomeação de desembargadores e a maneira como o Ministério Público ingressa no tiroteio. Dentro desse contexto, se o cenário fosse devidamente refletido, outras figuras que tiveram papel fundamental, mas solenemente esquecidas, apareceriam. Já Carla Ubarana, depois que puxaram seu tapete, soube tirar proveito dos interesses setoriais do combate para se salvar.
Em minhas conversas pelo TJ ouvi também histórias de ameaças recíprocas entre fulano e beltrano, interesses X e Y por trás de determinadas situações e relatos de acontecimentos inusitados que compuseram a paisagem da Operação Judas. Mas é prudente não fazer menção a tais falas em decorrência do conteúdo não confirmado e/ou fortemente especulativo...
Mas um dado é concreto: será preciso muita luz sobre o caso para que a sociedade possa compreender o que de fato ocorreu ali e como os envolvidos realmente se moveram diante da Operação Judas. O meu palpite é que nunca saberemos.
VERSÃO DO MP - Atualizada às 10:10 da manhã
Em matéria publicada hoje pelo jornal Tribuna do Norte, membros do MP descartam reviravolta no caso (veja a matéria na íntegra aqui).
Após quatro anos, gravações suprimidas pelo Ministério Público, conforme reportagem do Portal no Ar e Tv Ponta Negra, mostram Ubarana e Leal em conversas que geram uma reviravolta no caso.
Principais revelações:
01) Nos vídeos, Carla Ubarana estrela combinando uma versão picotada a ser contada por ambos;
02) Ela menciona também que uma parte dos recursos roubados está muito bem enterrada na casa da irmã e que a polícia sabia, pois que seguia sua parente;
03) Que vai colocar a culpa nos dois ex-presidentes do TJ porque "depois eles seriam esquecidos";
04) E que finge um perfil de fragilidade, até simulando a ingestão de remédios (veja os vídeos aqui).
Consultei alguns advogados e membros do TJ, que foram unânimes. O que já está escancarado é que as gravações foram suprimidas porque são ilegais e/ou foram retiradas ilegalmente do raio de atuação da defesa dos desembargadores. Elas foram feitas numa sala da Procuradoria Geral de Justiça do MP em que os investigadores gravam todos os depoimentos. Naquele momento, "esqueceram" a câmera ligada e permitiram a conversa informal entre Ubarana e Leal. Uma arapuca.
Alguns trechos foram, inclusive, utilizados pelo MP. No entanto, as demais partes desapareceram, de acordo com reportagem do Portal no Ar e Tv Ponta Negra. O Ministério Público agiu de maneira absolutamente desleal e desproporcional: embalando a denúncia, por um caminho, em gravações que foram seletivamente juntadas ao processo, por outro. Tal conduta enfraqueceu a capacidade de defesa dos acusados, além de ter ocultado o que é dado como senso comum nos corredores do TJ - Carla Ubarana guardou dinheiro, não contou tudo o que sabe, encontrando uma saída boa para ela, e, possivelmente, os valores propagandeados não têm âmparo na realidade, pois que subestimados.
Pelos vídeos, já é dado notório que Ubarana ocultou recursos, combinou suas falas e "afinou" a versão com o marido - que aparenta possuir escassas características de "mentor intelectual" -, manipulando narrativas para sair ilesa do processo. O fato do roubo ter sido maior ainda é mera especulação.
Os vídeos também evidenciam que o acordo de delação premiada fechado pelo casal com o Ministério Público foi ótimo para eles e ruim para a sociedade. Ora, além de ter mentindo, não restituindo o setor de precatórios sobre o valor integral que extraviou, recortou os acontecimentos. Apesar disso, o MP, não apenas homologou, como também lutou para mantê-lo válido contra o STJ, que anulou a redução de pena, conforme matéria postada pela Tribuna do Norte (aqui).
Como e por qual razão o Ministério Público fechou um acordo nessas condições? Isto precisa ser explicado e o acordo de delação possivelmente cancelado.
Carla Ubarana construiu uma relação de proximidade com os membros do MP. Tanto que foi abandonada por dois advogados no decorrer do processo por repassar informações para o parquêt ao arrepio da estratégia de defesa dos contratados. Os advogados alegaram na época que sequer foram consultados e se retiraram do caso.
Outro aspecto interessante dos vídeos tem a ver com a maneira como Ubarana manipulou a opinião pública e instituições, erguendo um perfil de fragilidade que, na verdade e nem de longe, demonstra ter nas conversas. Em suas falas, entrevistas e na bombástica reportagem do Fantástico, ela tenta mostrar se como uma pessoa enfraquecida e praticamente nas mãos dos desembargadores a quem acusava. Do ponto de vista da opinião pública, os vídeos desmontariam esse perfil, a enfraqueceria como testemunha e a forma como ela tentou se vitimizar ao mesmo tempo em que vilanizava seus superiores também processados.
A existência dos vídeos, a maneira como foram produzidos e depois ocultados gritam por explicações e pronunciamentos de todos os envolvidos. Eles estão em xeque. Outra coisa é certa: existiu muita precipitação na forma com que vazaram tudo para a Rede Globo, além de uma insofismável seletividade e pontos turvos que, pelas gravações, foram preenchidos com ilações fundadas em depoimentos agora sabidamente questionáveis.
Outro membro do TJ com quem conversei me disse o seguinte - só se entende tudo o que ali aconteceu, se forem reconstruídas às brigas dentro do Tribunal para comandar a instituição, controlar o processo de nomeação de desembargadores e a maneira como o Ministério Público ingressa no tiroteio. Dentro desse contexto, se o cenário fosse devidamente refletido, outras figuras que tiveram papel fundamental, mas solenemente esquecidas, apareceriam. Já Carla Ubarana, depois que puxaram seu tapete, soube tirar proveito dos interesses setoriais do combate para se salvar.
Em minhas conversas pelo TJ ouvi também histórias de ameaças recíprocas entre fulano e beltrano, interesses X e Y por trás de determinadas situações e relatos de acontecimentos inusitados que compuseram a paisagem da Operação Judas. Mas é prudente não fazer menção a tais falas em decorrência do conteúdo não confirmado e/ou fortemente especulativo...
Mas um dado é concreto: será preciso muita luz sobre o caso para que a sociedade possa compreender o que de fato ocorreu ali e como os envolvidos realmente se moveram diante da Operação Judas. O meu palpite é que nunca saberemos.
VERSÃO DO MP - Atualizada às 10:10 da manhã
Em matéria publicada hoje pelo jornal Tribuna do Norte, membros do MP descartam reviravolta no caso (veja a matéria na íntegra aqui).
O Potiguar
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