Telexfree: dinheiro investido com CPF falso não vai ser devolvido, diz promotor
“São milhares de CPFs nessa situação”, diz o promotor de Justiça
Marco Aurélio Ribeiro, um dos responsáveis pelas ações contra a
Telexfree. “Ele [CPF] não existe, não vai ter como cobrar.”
A criação de CPFs falsos, que pode ser feita por meio da
internet, foi uma estratégia usada por investidores da Telexfree para
tentar aumentar seus lucros no negócio, considerado pela Justiça como
uma pirâmide financeira que atraiu 1 milhão de pessoas no Brasil.
Os cadastros falsos foram descobertos durante uma
perícia feita nas contas da empresa no âmbito do processo movido pelo
MP-AC. Ribeiro disse não ser possível informar, nesta quinta-feira (17),
o número exato, e questionou o controle da Telexfree para evitar a
prática.
“A gente vê ao entrar em certos sites. Você digita o CPF e ele [site] vai lá na Receita e valida. Isso seria uma coisa fácil de fazer se as empresas realmente quisessem validar”, diz o promotor.
Um dos advogados da Telexfree, Horst Fuchs alega que a empresa
possuía um sistema para impedir pagamentos a CPFs falsos e exluir os
cadastros feitos com essas informações inválidas.
“Ela [Telexfree] tinha o sistema. Tanto é que nenhum pagamento foi feito para CPF que não é correto”, afirmou Fuchs. “E [a empresa] bloqueou o cadastro para impedir esse tipo de operação.”
Investidores podem pedir ressarcimento; valor é insuficiente
A decisão de quinta-feira (17) foi dada em uma ação
civil pública movida pelo MP-AC, que conseguiu rastrear e bloquear cerca
de R$ 700 milhões da Telexfree. Esse valor, descontada uma multa de R$ 3
milhões, será distribuído entre divulgadores que colocaram dinheiro do
negócio e ficaram no prejuízo.
“Não tenha dúvida que o valor é insuficiente [para cobrir todos os valores devidos]“,
diz Ribeiro, lembrando que a maioria entrou no negócio com um
investimento de R$ 3 mil. “Se você pega 1 milhão de pessoas e cada um
investe R$ 3 mil, quando dá isso?”, questiona.
Para tentar obter uma fatia do valor, o divulgador deve apresentar um
pedido de liquidação de setença da ação civil pública na Justiça. Isso
já pode ser feito, diz o promotor, mas Cristina Carneiro, do escritório
Lapa & Góes e Góes Advogados Associados, orienta esperar o
julgamento final do processo – a Telexfree vai recorrer da decisão.
“Se o valor da causa for superior a 40 salários mínimos (R$ 31.520), a
parte interessada terá que propor a ação na Justiça Comum. Contudo,
sendo inferior a 40 salários mínimos, poderá ingressar nos juizados
especiais”, afirma Cristina, lembrando que, mesmo nesse segundo caso, é
preciso procurar um advogado caso a quantia supere 20 salários mínimos
(R$ 15.760).
Para ingressar com a ação, o divulgador deve obter uma cópia da
decisão na ação civil pública (publicada no Diário de Justiça do Acre
desta quinta-feira), documentos pessoais (RG, CPF, comprovante de
endereço) e provas de sua relação com a Telexfree e do prejuízo sofrido,
como contratos e recibos.
Quem foi à Justiça receberá depois
Os cerca de R$ 700 milhões identificados pelo MP-AC vão ser usados
para pagar, inicialmente, as pessoas que não entraram com ações
individuais, e buscarem o ressarcimento por meio da ação coletiva.
Nada impede, entretanto, que os divulgadores ingressem com seus
próprios processos – e mesmo indiquem bens não bloqueados pela Justiça
que podem ser usados para ressarci-los, segundo o promotor Marco Aurélio
Ribeiro.
O divulgador que entrou com ação individual, entretanto, pode pedir a
desistência do processo. Se não quiser, deve juntar uma cópia da
decisão da ação civil pública para fortalecer sua argumentação.
IG
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