Crônica de Ricardo Sobral
Há alguns anos tive necessidade de arrendar temporariamente uma determinada propriedade rural. Como
nela não havia casa, era só cercado para pasto, quando ali comparecia
costumava descansar depois do almoço debaixo de um pé de oiticica de
mais de 200 anos, segundo cálculos de moradores da região.
As cordas que amarravam minha rede tinham canto fixo: dos galhos do lado do nascente. Numa tarde de sábado avistei um camaleão andando por sobre a árvore centenária. Dias depois, o camaleão atraiu uma fêmea, formou-se o casal, sempre visto toda vez que lá comparecia.
Passados
alguns meses, além do simpático e tranquilo casal, que não se
incomodava com a presença de humanos, um filhote passou a ser visto.
Raramente o camaleão saia da oiticica, o que quando ocorria, deixava mãe
e filhote bem protegido por detrás de umas folhas mais concentradas.
Um
dia avistei uma cobra salamandra – a jiboia nordestina – de
aproximadamente dois metros e vinte centímetros subindo no tronco
central da árvore em direção àquela família camaleônica. Com certo
esforço conseguimos descer o ofídio utilizando uma vara com um varão
arqueado amarado em uma de suas extremidades. Fomos deixá-lo num área de
preservação ambiental distante uns seis quilômetros.
A partir de então, pedi a meus colaboradores que dobrassem os cuidados com os camaleões.
Num
dia de feriado, levei Ricardo Neto. Deitado na rede, com os olhos
voltados para a copa da oiticica vi nos olhos dele um brilho especial,
no rosto um sorriso nunca visto, a alegria do menino era contagiante.
Não precisei perguntar o que ele estava vendo: simplesmente os três
camaleões andavam a poucos metros de nossas cabeças, como se desfilassem
numa passarela, em homenagem à pureza daquela criança.
Na
semana passada retornei àquela localidade. Tudo estava diferente. Não
havia mais uma só árvore. O “progresso havia chegado”, um empreendimento
estava em execução.
Perguntei-me emocionado: onde andam nossos amigos camaleões?
Olhei em volta e só consegui vê-los no brilho dos olhos de Ricardo Neto.
2 comentários:
Gostei Dr. Ricardo!. Wilson.
QuemQuemQuemmmmmm!!!
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