23/08/2013

UM BRILHO ESPECIAL


Crônica de Ricardo Sobral

Há alguns anos tive necessidade de arrendar temporariamente uma determinada propriedade rural.  Como nela não havia casa, era só cercado para pasto, quando ali comparecia costumava descansar depois do almoço debaixo de um pé de oiticica de mais de 200 anos, segundo cálculos de moradores da região.
As cordas que amarravam minha rede tinham canto fixo: dos galhos do lado do nascente.  Numa tarde de sábado avistei um camaleão andando por sobre a árvore centenária.  Dias depois, o camaleão atraiu uma fêmea, formou-se o casal, sempre visto toda vez que lá comparecia.
Passados alguns meses, além do simpático e tranquilo casal, que não se incomodava com a presença de humanos, um filhote passou a ser visto. Raramente o camaleão saia da oiticica, o que quando ocorria, deixava mãe e filhote bem protegido por detrás de umas folhas mais concentradas.
Um dia avistei uma cobra salamandra – a jiboia nordestina – de aproximadamente dois metros e vinte centímetros subindo no tronco central da árvore em direção àquela família camaleônica. Com certo esforço conseguimos descer o ofídio utilizando uma vara com um varão arqueado amarado em uma de suas extremidades. Fomos deixá-lo num área de preservação ambiental distante uns seis quilômetros.
A partir de então, pedi a meus colaboradores que dobrassem os cuidados com os camaleões.
Num dia de feriado, levei Ricardo Neto. Deitado na rede, com os olhos voltados para a copa da oiticica vi nos olhos dele um brilho especial, no rosto um sorriso nunca visto, a alegria do menino era contagiante. Não precisei perguntar o que ele estava vendo: simplesmente os três camaleões andavam a poucos metros de nossas cabeças, como se desfilassem numa passarela, em homenagem à pureza daquela criança.
Na semana passada retornei àquela localidade. Tudo estava diferente. Não havia mais uma só árvore. O “progresso havia chegado”, um empreendimento estava em execução.
Perguntei-me emocionado: onde andam nossos amigos camaleões?
Olhei em volta e só consegui vê-los no brilho dos olhos de Ricardo Neto.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei Dr. Ricardo!. Wilson.

Anônimo disse...

QuemQuemQuemmmmmm!!!