
30 dias sem José Bonifácio
Homenagem póstuma ao meu querido velho Boni!
Neste momento lutuoso, onde a saudade parece que nos vai devorar, e nos levar ao desespero, e ao ver as lágrimas que brotam do íntimo, caindo desimpedidas, umedecendo os semblantes transfigurados pela dor, desta gente que eu amo incondicionalmente. Desperta em mim um desejo intenso de atenuar o clamor, e cicatrizar a fenda que se abre de forma incisiva no peito, provocada pela perda lesiva de seu ente querido. Venho como humilde servo de Deus oferecer o meu ombro amigo, e convidar os presentes, em especial os familiares de Seu Zé Bonifácio para uma reflexão.
Dói profundamente em mim a sensação de impotência, diante do quadro de melancolia. Então eu me pergunto, sem a menor vaidade, sem pudor exacerbado, sem o receio intelectual, sem o preconceito que tem o poder bloquear a alma:
Qual o matiz que eu deverei impingir na tela confusa e tempestuosa dos meus sentimentos, para poder traduzir com o meu dom de mero humano, o que é infinitamente divinal, portanto insondável. Como poder expressar o que eu sinto, e ao mesmo tempo, confortar os que aqui ficaram ardentes de saudades, e num esforço hercúleo, tentar fazê-los compreender os desígnios de Deus, ou ao menos aceita-los, e continuar acreditando, sentindo de fato, que a vida é um espetáculo maravilhoso, projetado de forma misteriosa pelo criador, apesar das rupturas, das perdas consideradas pela maioria irreparáveis?
Qual engenharia literária que eu devo aplicar, para construir as palavras certas, no âmago do meu ser, para que fluísse dos meus lábios favos terapêuticos capazes de neutralizar a amargura, e restaurar os que sofrem, e devolvendo-os o lustre do sorriso?
Deverei homenagear o criador e agradecer pelos feitos transformadores de sua criatura José Bonifácio, que em seu decurso terreno, honrou o pai eterno, por ter sido um cálice transbordante de bem aventuranças, com seu espírito solidário, conciliador, aquecendo, amparando amigos e familiares, nas adversidades da vida, sendo assim um testemunho da presença divina na terra?
Creio que eu não devo me dirigir ao corpo que foi inerte, ornado por flores na arca que o conduziu a cidade dos homens silenciados, não seria sensato. Mas quem poderá afirmar, se o espírito deste homem que se encontra noutra dimensão, poderá me ouvir ou não?
Por isso Seu Zé Bonifacio, na esperança que o Sr esteja me ouvindo, mesmo em outro plano, gostaria de me portar ao senhor, e dizer que:
O senhor partiu fisicamente, mas ainda reverbera em nós, especialmente no coração acústico da sua querida rua nova, a sua voz enrouquecida pelas lutas travadas em seu cotidiano de homem público, hora aconselhando os amigos, e hora acalentando de forma afetuosa, seus filhos e netos, nas noites de infortúnios dos pequeninos. Nestes momentos singelos de acalanto, nós, meninos da rua nova, ficávamos desejosos de tê-lo como pai. Os heróis vão para a dimensão das almas nobres, mas se eternizam pelos feitos, que ficam intrínsecos no homem, definindo o seu caráter, e o recheando de sentimentos sublimes, por tanto, toda vez que desfrutarmos das virtudes infindas da sua família e amigos, tão bem influenciados pelo nobre amigo, estaremos desfrutando também da convivência de um homem magistral, que jamais morrerá em nossos corações agraciados por sua presença paternal.
Ficará uma saudade incisiva do amigo, que durará com certeza feito diamante. Como ungüento, fica cristalizado em nossas reminiscências, a imagem de um homem: Sinônimo de amor e solidariedade, que nos ajudou a atravessar as tormentas com seus gestos humanitários, amenizando o sofrimento, e sempre nos ofertando a paz do seu marcante sorriso. E ao desenrolar o papiro da minha memória, recordo-me muito bem, da minha infância na rua nova, o referencial de um homem intrépido diante dos desafios que a vida lhe apresentasse, abraçando inclusive como seus, os problemas alheios de seus circunvizinhos. Um homem dadivoso e visionário, que veio da cidade de Macau, para oferecer mais oportunidades aos seus filhos, abonando também, a nossa cidade com seus préstimos e suas virtudes. Sou muito grato a Deus pela vinda desta família Oliveira Peixoto, que veio nos trazer o milagre de uma convivência maravilhosa.
Desfecho final
Pedir que este momento indizível de dor, seja transformado num instante de euforia, seria exigir demais das naturezas humanas de nós cristãos ocidentais, mas o que eu peço, é que mesmo na extensão do luto, e no compasso fúnebre dos corações desolados, busquemos enxergar a luz consoladora que irradia das alturas. Entender que: “É bem melhor um amor ter sentido e depois perdido fisicamente, do que nunca este amor ter vivido, pois quando provamos os espinhos da saudade, revela-se o doce e inebriante perfume das rosas, e de fato, é na dor da ausência que se assoalha o sentido da presença”. A saudade é uma fita métrica, que mede os significados e a estatura espiritual, dos parceiros de Deus em nossas vidas. Que tenhamos saudades, mas que não sucumbamos numa tristeza profunda, borrando definitivamente o nosso sorriso. É preciso entender, que muitas vezes, “é na amargura que se revela as razões mais profundas”. As razões de um Deus sumamente bondoso, que cria homens generosos como: Seu Zé, o nosso velho e amável, Boni!
“Um Deus que cria homens generosos é naturalmente um Deus infinitamente generoso.” E o que eu peço agora, é que o nosso adorável autor da existência, abrande a dor dos que padecem pela perda do seu filho José Bonifácio, e que aumente a fé deles em seu plano divino, e lhes dê a esperança da alegria compensadora do reencontro, reencontro com aquele que trouxe sentidos especiais para as suas vidas: O nosso querido velho Boni! Descanse em paz sob a guarda de Deus!
Crésio Torres
2 comentários:
Meu querido amigo Crésio,é com muita satisfação que leio essa sua sua singela homenagem ao meu querido pai,agradeço de coração essas suas sinceras palavras,nós que conivemos com esse ser humano bondoso e de um espirito irradiante,não sou tão indicado para falar do meu pai,mais fui abençoado por tê-lo como pai,sempre achei que devemos deixar que os nossos semelhantes falem de nós, e presenciei nesses 42 anos de minha vida muitas várias demonstrações de agradecimentos em vida de diversas pessoas a ele,gente pobre e simples,como ele,por atos e serviços feitos exclusivamente para ajudar os seus semelhantes,esse é o seu legado para nós familiares,ESSA É SUA HERANÇA. Muito obrigado amigo Crésio.
PARABENS PELO TEXTO CRÉSIO,VC E´FENOMENAL.
Postar um comentário