19/05/2024

ENTENDA OS SINAIS DE ALERTA SE VOCÊ TEM COMPULSÃO POR COMPRAS

Compulsão por compras: entenda os sinais de alerta

Comprar coisas por impulso, sem necessidade alguma, pode ser sinal de oniomania, ou seja, a compulsão de um indivíduo por compras. Isso ocorre quando a pessoa não resiste à pressão da compra, acaba se sentindo culpada e, muitas vezes, tendo prejuízos financeiros. Esse transtorno atinge cerca de 3% de pessoas ao redor do mundo, sendo identificado com maior frequência nas mulheres.

É o caso de Ana Paula Sales, que trabalha com moderação de conteúdo em redes sociais. Ela conta que trabalhava em um centro comercial onde tinha várias lojas e não resistia a todo dia comprar pelo menos uma coisa.

Ela comenta que a sensação que sente ao fazer uma compra é de alívio. “A sensação que me lembro de sentir nos momentos de planejar uma compra, colocar no carrinho e finalizar a compra, é mais um alívio. Parece que você está numa neurose tão grande fazendo aquilo acontecer, fazendo as contas pra ver se vai dar certo, ou está a tanto tempo desejando, que quando você compra parece que é um alívio”, afirma Ana Paula. Ela reconhece que isso é um problema e que até já fez dívidas em cartões de crédito que não conseguia pagar.

“Já aconteceu de perceber que comprei alguma coisa que talvez não seria tão útil, ou comprar repetido pois esqueci que eu tinha. Principalmente com maquiagem, percebo que nem precisava daquilo, tenho outros produtos que fazem o mesmo trabalho, ou nem saio tanto para usar tantas bolsas assim”, relata.

Ana Paula consegue reconhecer o comportamento compulsivo. “Percebi que se tornou uma compulsão pela sensação que eu tinha, a sensação de euforia e quando finalizava a compra, era como um alívio, era uma constante bola de neve”, conta. Ela já mencionou a compulsão durante a terapia, mas ainda não tratou a fundo. “Só mencionei que eu queria saber de onde vem essa vontade que parece que quero saciar com as compras, mas que ainda não sei o que é”, diz ela.

A bióloga Deborah Fernandes conta que tinha compulsão por comida, mas após fazer cirurgia bariátrica e não conseguir suprir seu vício com a comida, mais especificamente com doces, se voltou a outro item: as roupas. “Como eu não conseguia comer, a minha ansiedade ainda estava lá e a minha vontade de consumir alguma coisa compulsivamente ainda estava lá. Então inconscientemente fui criando a compulsão por compras”, relata.

Deborah conta que se deu conta do problema quando fez uma dívida de R$ 4 mil num único mês. “Na primeira vez que veio esse valor alto assim foi quando percebi que tinha alguma coisa errada. E, no mês seguinte, olhei a fatura do cartão de crédito, prestei atenção nas coisas que eu tinha comprado e vi que não precisava ter gasto”, conta.

A bióloga afirma que já tem consciência de sua compulsão há alguns meses e tem tentado evitar gastos desnecessários, mas reafirma que é um esforço deixar de comprar quase diariamente. Ela diz que as compras pela internet são mais constantes do que as presenciais. No entanto, gasta mais com compras presenciais. “Termino gastando muito mais de uma vez só, porque estou vendo, pegando, vejo várias coisas e quero levar tudo ao mesmo tempo. Teve uma compra que fiz de R$ 500 de roupas, não estava precisando, mas fui lá e comprei”, diz.

Para Deborah, a satisfação e alívio momentâneos que sente quando realiza uma compra estão ligados diretamente à sua ansiedade e preenchimento de um vazio, que só será preenchido após uma nova compra. “E aí, pouco tempo depois já tenho a ideia de outra coisa que quero comprar e esse vazio surge novamente. Para mim, a compulsão se apresentou dessa forma, como se eu nunca conseguisse encher aquele saco de satisfação, mas é uma satisfação momentânea”, diz.

Deborah conta que as redes sociais a estimulam a comprar mais, pois a todo momento existe a publicidade e, para quem tem compulsão, acaba sendo um estímulo ainda maior. Ela diz que chegou a comprar um teclado, porém tocou duas vezes e nunca mais usou. “Está ali como um lembrete do que não devo fazer”, relata. Ela diz que seus familiares sempre alertavam para a organização financeira, quando ela comentava que estava “apertada”, mas ela só se deu conta mesmo quando passou a prestar atenção no extrato bancário e nas faturas do cartão de crédito.

Deborah chegou a buscar terapia e mencionar sua compulsão, mas justamente pela questão financeira deixou de ser acompanhada. Apesar de ter consciência de sua compulsão, Deborah se preocupa que isso a prejudique no futuro. “Eu já vejo como um problema agora, eu estou criando para mim um problema que não deveria ter. Eu deveria ter autocontrole para não comprar coisas que são, no momento, desnecessárias. Só não enfrentei problemas financeiros porque tenho a quem pedir socorro, e quando necessário elas [familiares] me ajudam”, conta.

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O ato compulsivo pode estar relacionado com o desejo de preencher um vazio emocional, comprando objetos materiais que podem dar um contentamento por pelo menos alguns instantes. Porém, a satisfação da nova compra não dura muito tempo e, em um curto período, outra é feita. “A compulsão pode ser compreendida por aquele ato que gera a dopamina, que é o neurotransmissor responsável pela felicidade e prazer. Então quanto mais você faz coisas prazerosas, como a compra, mais você vai em busca de preencher uma falta ou de preencher um sentimento negativo que pode estar surgindo”, afirma a psicóloga Flávia Alves.

De acordo com a psicóloga, a compulsão por compras pode aparecer quando em uma determinada compra a pessoa percebe que aquela ação é prazerosa, então ela sempre vai buscar aquela ação. “Como atualmente a gente está exposto a muita divulgação, ao consumo excessivo, a compra de bens, a obsolescência programada, que é quando os equipamentos deixam de estar atualizados e você precisa se atualizar, então tudo isso pode acabar levando à compulsão por compras”, afirma a psicóloga.

Para Flávia Alves, a compulsão por comprar também pode estar ligada à ideia de poder, quando a pessoa pode consumir ela se sente mais importante, se sente tendo acesso a produtos que só se poderia ter através daquela compra. “É uma necessidade de ter, apenas por ter, as vezes sem nem muita utilidade, apenas para exibir que você pode ter”, afirma.

Dentre os sinais de alerta para comportamentos compulsivos, a psicóloga afirma que a pessoa deve pensar em qual momento esse determinado comportamento está surgindo, se é quando a pessoa está tranquila ou está passando por um sofrimento que deseja fugir. É necessário observar quantas vezes se pensa naquele comportamento, se é algo pontual ou habitual, se compromete as finanças e se há um limite para a ação ou a vontade acaba vencendo.

Flávia afirma que existem casos que os próprios compulsivos podem se reconhecer como tal. No entanto, na maioria dos casos a pessoa irá buscar justificativas para aquele comportamento. “Existem pessoas onde a culpa está muito presente, pois aquele dinheiro estaria destinado a outra coisa, ou então quando se esconde esse hábito de outras pessoas”, explica a psicóloga.

Um outro aspecto importante levantado pela psicóloga é sobre o estilo de vida. Flávia acredita que isso pode influenciar pois quanto mais o compulsivo consome pessoas nas redes sociais, mostrando o quanto é positivo comprar, mais ele vai querer ter. Ela diz que as redes sociais podem ser muito prejudiciais para o comprador compulsivo, por causa da facilidade e da rapidez de uso. Nessas pessoas há um terreno fértil para perder o controle, e o mundo virtual encurta a distância entre ação e reação.

Para o tratamento acontecer, é importante a ajuda de um psicoterapeuta. Flávia Alves afirma que deve existir o mínimo reconhecimento da compulsão pelo paciente e ele precisa estar disponível a compreender aquilo. Ela aconselha a substituição do hábito para ajudar no tratamento. “Como a compra gera a dopamina, há de se pensar em outros hábitos que possam gerar a dopamina, que sejam fonte de prazer e felicidade. Pode ser com família, com amigos, atividades físicas, que não envolvam comprar”, afirma.

TN

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