Lancellotti endossa ataque a dom Adair após oração anticomunista
O padre Julio Lancellotti endossou, no último final de semana, uma postagem feita pelo perfil da confederação católica Caritas no Instagram que trouxe um ataque direto a dom Adair Guimarães, bispo da diocese de Formosa, em Goiás. A razão do ataque foi a oração contra o comunismo feita pelo bispo durante um evento com o frei Gilson Azevedo na última semana, que gerou grande repercussão nas redes sociais.
Na postagem da Caritas, que aparece também no perfil do Instagram de Julio Lancellotti por ter sido feita em collab – ferramenta que permite criar um mesmo post em dois ou mais perfis – é mostrada uma matéria sobre a oração de dom Adair e uma frase atribuída a São Oscar Romero, que diz que “o anticomunismo é muitas vezes a arma que os poderes econômicos e políticos usam para suas injustiças sociais e políticas”.
– Não temam os conservadores, sobretudo aqueles que não querem que se fale da questão social, dos temas espinhosos do mundo de hoje. Não temam que nós, que falamos destas coisas, sejamos tidos como comunistas e subversivos. Não somos mais que cristãos, tirando do Evangelho as consequências que hoje, nessa hora, o mundo necessita – completa o texto publicado pela Caritas e endossado por Lancellotti.
Sobre Oscar Romero, cuja frase foi utilizada, o jornalista católico Bernardo Küster afirmou em seu canal no YouTube que o líder religioso em questão era um bispo em El Salvador que estava “muito longe de ser comunista e muito longe de ser conservador”. O comunicador disse que Romero se opunha a um governo militar “muito opressivo” que existia em seu país, mas que nunca defendeu o comunismo como sistema.
– Ele criticava, de fato, o uso que o governo fazia de [classificações como] comunista para calar pessoas que faziam uma autêntica profecia (…). Ele não era favorável [ao comunismo]. Ele criticava aqueles que se diziam anticomunistas para perseguir pessoas que condenavam o governo ditatorial. Ele nunca defendeu o comunismo como sistema político, nem negou que fosse incompatível ao Evangelho – apontou Küster.
SOBRE A ORAÇÃO DE DOM ADAIR
A oração que gerou a postagem da Caritas e Julio Lancellotti contra dom Adair Guimarães foi feita no último sábado (30). Na ocasião, dom Adair pediu que o comunismo não chegasse ao Brasil. O momento ocorreu durante o evento Desperta Brasil, em Brasília (DF), no qual ele esteve ao lado de frei Gilson Azevedo.
– Pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, venha sobre vós a bênção que nos impede de ter fome, guerra, doença e o comunismo – disse o líder religioso.
Momentos antes, o bispo já havia feito uma intercessão para que a esperança dos brasileiros fosse mantida mesmo diante “de tudo aquilo que fere a dignidade humana” e disse crer que Deus derramará o Espírito Santo sobre o Brasil, que, ele ressaltou, precisa da ajuda divina.
DEFESA DOS PRESOS DO 8 DE JANEIRO
Essa, por sinal, não foi a primeira vez que o bispo trata de temas relacionados a política em celebrações religiosas. Algumas semanas antes, viralizou um vídeo no qual ele criticou o que chamou de autoritarismo no Brasil e defendeu os presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023. A gravação foi compartilhada pelo ex-ministro de Minas e Energia Adolfo Sachsida, que integrou o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Na mensagem, dom Adair questionou como “morrem os ditadores”, citando prisões de idosos e manifestantes. Ele afirmou que “tirar a liberdade dos outros” e “prender pessoas que não devem” são ações que “clamam aos céus” e que, quando a dor chegar a todos, “vai ser sentida”.
O religioso relatou ter recebido um presente de José do Terço, idoso preso por rezar em manifestações. Segundo ele, o homem produzia terços de pano na cadeia e ensinava outros detentos a orar.
– Vocês acham que essa oração foi esquecida por Deus? Nunca! – disse.
O religioso defendeu ainda que as preces “vão abrir as portas do céu para a libertação do povo brasileiro”.
Em outubro de 2024, durante uma missa, ele também afirmou que o Brasil vivia “uma ditadura” e que “o povo está sendo governado por ímpios”. Na ocasião, também defendeu os acusados do 8 de janeiro e criticou condenações que superam 17 anos de prisão.
O bispo citou o caso da mulher condenada por escrever de batom na estátua da Justiça, comparando com políticos e familiares de condenados por corrupção que já estão em liberdade.
– Hoje no Brasil, quem defende família, liberdade e fé parece que não tem mais direito – disse.
pleno.news
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