“Tenho proteção de quem?”, disse delegado três semanas antes
O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado nesta segunda-feira (15) em Praia Grande, litoral de São Paulo, havia manifestado apreensão com sua segurança semanas antes do crime. As declarações foram dadas em uma entrevista que ainda não foi ar.
Fontes revelou sentir-se desprotegido e isolado. Na conversa, ele contou que estava sozinho na Baixada Santista e sem qualquer tipo de escolta oficial, mesmo ocupando o cargo de secretário de Administração de Praia Grande desde o início de 2023. A região é conhecida por ser um dos principais redutos do Primeiro Comando da Capital (PCC).
– Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim, é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava (sic) pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma – afirmou.
Apesar da preocupação com sua exposição, Fontes afirmou que, ao longo de seus mais de 40 anos de atuação na Polícia Civil, nunca havia recebido ameaças diretas por parte da facção criminosa.
– Houve só um mal-entendido com o Marcola, mas nunca passou disso. No crime, existe uma certa ética, e ela é cobrada. Nunca fabricamos provas. Quando havia elementos, nós incluíamos no inquérito e prestávamos depoimento em juízo. Eu investigava, era meu papel. Se ele é criminoso, não há conflito pessoal, apenas a lei sendo cumprida – disse.
Ruy Fontes teve papel central no combate ao crime organizado em São Paulo. Foi ele quem conduziu investigações fundamentais que revelaram, ainda nos primeiros anos da facção, a estrutura, a hierarquia e o modo de operação do PCC dentro e fora dos presídios paulistas.
A entrevista foi concedida no dia 25 de agosto para um podcast – ainda inédito – produzido pela rádio CBN em parceria com o jornal O Globo.

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