02/05/2025

OS TRABALHADORES ESTÃO FUGINDO DE LULA?

Lula perdeu a maioria dos trabalhadores?

Uma das maiores dificuldades de Lula e de seu terceiro governo é justamente entender e se aproximar do novo mundo do trabalho. O 1º de Maio, pelo segundo ano consecutivo, escancarou o afastamento entre o presidente que se forjou nas lutas sindicais e este novo trabalhador que ele não consegue compreender.

A dificuldade começa porque, com as mudanças tecnológicas, culturais e sociais dos últimos anos, se torna difícil até enquadrar todos aqueles que estão em idade produtiva no selo “trabalhadores”. Muitos, principalmente os mais jovens, preferem ser qualificados como empreendedores, mesmo quando vai aí uma boa dose de desinformação a respeito dos direitos sociais de que abrem mão quando rechaçam a ideia de trabalhar com “carteira assinada”.

O governo tem falhado reiterada e incorrigivelmente em tentar conversar com essa parcela da força produtiva. Há ainda uma série de superposições de perfis que afasta ainda mais esse contingente de Lula e do PT. Quando se fala num trabalhador autônomo que usa a tecnologia, vive nos grandes centros urbanos, é jovem e evangélico, a rejeição ao governo é enorme, como mostram pesquisas à disposição do próprio Planalto e também levantamentos feitos por empresas.

Muitas vezes, paradoxalmente, esse trabalhador se beneficiou, diretamente ou por meio de sua família de origem, de uma ou mais políticas públicas criadas e implementadas por Lula nos mandatos anteriores ou por Dilma Rousseff. Mas, à medida que esse tempo passou e fatores como a reforma trabalhista, o impeachment, a Lava-Jato e outros marcos da História recente aconteceram, esse público cresceu com aversão ao sindicalismo e à esquerda. Isso é muito forte, e nada no corolário de medidas e programas experimentado por Lula e seus ministros igualmente perdidos foi pensado para quebrar a repulsa.

Um escândalo como as fraudes em aposentadorias e pensões do INSS, num cenário como esse, atinge os já ressabiados novos trabalhadores como um “C.Q.D.” daquilo que, justa ou injustamente, foram levados a pensar sobre o PT na última década.

Nesse caso, não tem efeito dissuasivo o fato de os desvios terem começado sob Jair Bolsonaro. O que fica, e é difundido pelas redes sociais e nas conversas nos espaços públicos, é tratar-se de mais um caso de corrupção petista. A forma descuidada, galhofeira, com que sistematicamente o ministro Carlos Lupi se refere à tunga em aposentadorias e pensões, o inexplicável silêncio de Lula e a ausência da Casa Civil no comando da crise agravam o quadro.

Se Rui Costa é o coordenador do governo, cabe a ele criar um gabinete de crise imediatamente e só dissolvê-lo quando houver uma saída definitiva para ressarcir aqueles que foram lesados (uma conta de bilhões de reais, capaz de desequilibrar ainda mais o já frágil Orçamento) e fechar a torneira para novas fraudes. Mesmo a ideia de tirar o INSS da intermediação dessas associações, aventada por Lupi, já deveria ter sido executada pelo menos desde 2023 — portanto, falar isso agora não limpa a barra do governo.

Se já é difícil convencer o novo trabalhador de que existe alguma vantagem em se sindicalizar ou em contribuir para associações de qualquer natureza com seu suado dinheirinho, um caso de roubo em larga escala torna a tarefa praticamente impossível.

Essa é a realidade do 1º de Maio, para além dos palanques cheirando a naftalina das centrais, que, mesmo diante de públicos declinantes e da evidência da dificuldade de fazer andar pautas justas, como o fim da jornada 6 x 1, não conseguem entender que precisam virar o disco, se atualizar e, humildemente, tentar entender quem é o novo trabalhador, antes de ter a arrogante ilusão de que o representam.

O Globo

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