Trans do Brasil ficou presa em ala masculina em Guantánamo
Uma mulher transgênero brasileira foi enviada para a ala masculina da prisão de Guantánamo, em Cuba, após pedir asilo nos Estados Unidos no começo deste ano.
Tarlis Marcone de Barros Gonçalves chegou aos Estados Unidos no dia 15 de fevereiro e foi detida após cruzar a fronteira dos EUA com o México, em El Paso, no Texas. Em um depoimento por escrito à Justiça dos Estados Unidos no dia 12 de março, a brasileira trans afirma que pediu asilo nos EUA por ter sido ameaçada no Brasil.
O depoimento foi feito por telefone, em português, com a ajuda de uma tradutora, e apresentado a uma corte federal em Washington, pela advogada Lara Finkbeiner, diretora da área de assistência jurídica Pro Bono do Projeto Internacional de Assistência a Refugiados.
O depoimento foi apresentado como parte de um processo no qual dez imigrantes detidos pelo ICE estavam tentando impedir a transferência para Guantánamo. O processo é movido pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e pelo Centro para Direitos Constitucionais (CCR), que argumentam que a transferência de imigrantes para a prisão em território cubano é ilegal.
Após ser detida, Tarlis foi enviada para o Centro de Processamento do Condado de Otero, no Novo México, onde ficou por nove dias em fevereiro. Tarlis apontou que ficou em uma cela com outros 49 homens, apesar de ter avisado os agentes de que é transgênero e de que estava “desconfortável” em ficar em uma cela com homens.
GUANTÁNAMO
Depois dos primeiros dias no Novo México, Tarlis relatou à Justiça que foi transferida para Guantánamo e sofreu maus-tratos dos agentes durante o trajeto. Ela diz ter sido acorrentada nos pulsos, pés e quadris e precisou de medicação para suportar a dor.
Ao chegar em Guantánamo, Tarlis pediu para não ficar em uma cela com outros homens, mas seu pedido não foi aceito.
– Fiquei alojada em um quarto com cinco homens, como se eu fosse um homem. Disse aos guardas que sou uma mulher transgênero e que não me sentia confortável e segura alojada com homens, mas eles não se importaram nem fizeram nada para atender às minhas preocupações – disse em um depoimento.
– Toda vez que eu ia ao banheiro ou tomava banho, ficava à vista de todos – não havia nenhuma porta para me dar privacidade. Como mulher, foi uma experiência desumana. Também me deram apenas uma peça de roupas para usar durante todo o tempo.
Tarlis disse que os detentos só tinham 25 minutos fora de suas celas e apenas duas refeições por dia. No dia 2 de março, ela foi transferida para Miami e depois para um centro de detenção em Pine Prairie, na Louisiana.
– Estou detida em Pine Prairie, Louisiana, desde que voltei aos Estados Unidos. Também disse aos policiais daqui que sou transgênero, então eles estão me mantendo em uma cela isolada – apontou Tarlis, que afirmou que tinha medo de ser assassinada caso fosse deportada para o Brasil.
No entanto, segundo o jornal Folha de S.Paulo, ela foi enviada de volta ao país no começo de abril e está na casa de familiares na cidade de Alvarenga (MG).
AE
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