‘Nos governos do PT quem manda é o dólar’
Aos 84 anos e no décimo mandato na Assembleia Legislativa, o deputado José Dias (PSDB) diz que não disputará a reeleição em 2026. Mas, admite que mesmo fora de um palanque eleitoral, vai trabalhar para ajudar a derrotar o governo, apoiando o senador Rogério Marinho (PSDB) para o cargo: “No momento atual é o nome que se visualiza e tem a capacidade de gerir as coisas”.
O senhor se considera o algoz do governo Fátima Bezerra?
Não tenho essa vocação, a minha vocação é de conciliação, agora eu tenho que defender aquilo que realmente me propus, quando fui candidato a deputado. Eu disse o que ia fazer, acho que é legítimo, absolutamente legítimo, é ser oposição. A democracia vive disto, governo e o contraponto que é a oposição. Agora, oposição ao governo não significa oposição ao Estado. Nesse campo eu sou intransigente, eu não abro mão dessas convicções.
O senhor mesmo, sem radicalismo, parece que votou favorável a projetos do governo?
Eu sou o deputado que mais votou a favor de manutenção de vetos do governo. O veto tendo razões que sejam funcionais, ou seja, de interesse público, eu voto tranquilamente, eu não quero derrotar o governo por derrotar, porque aí quem vai pagar o preço desse meu voto é o público, é a população. Meu voto tem que ser calcado no interesse da população e não no interesse de derrotar o governo. Eu quero derrotar o governo na eleição.
Como o senhor define o governo Fátima Bezerra?
Desde o começo, e aí vou dizer uma coisa, é uma infelicidade da democracia. A gente não pode deixar de reconhecer que a democracia é uma evolução na história humana. Apesar dela (democracia) ser muito mal aplicada e nós estamos vivendo uma crise grande, pelo menos aqui no nosso ocidente, porque lá na banda do Oriente não existe esse negócio de democracia, nós estamos vivendo uma crise, mas ainda é indiscutivelmente o melhor regime. Agora, o que é que acontece? O maior problema da democracia é a escolha, é o voto, porque o voto tem várias motivações. Infelizmente, quando se vê os bilionários, os capitalistas apoiando o governo de esquerda, um governo como essa eleição última de Lula, fica assim meio assim, mas porquê esse pessoal está votando isso? É porque realmente eles são convencidos que essa é a solução? Mas não, é porque existem esquemas. Nenhum governo na história recente beneficiou mais o capitalismo, e tem mais essa, não é só o industrial não, é o bancário, do que os governos do PT. Não tem a menor dúvida, a prova está nisso, a Lava a Jato comprova o quanto foi drenado de recursos públicos para as grandes empresas.
Este projeto que aumenta o ICMS em 2024 está liquidado ou tem chance de ser aprovado?
Acredito que sim. Claro que eu não tenho uma bola de cristal perfeita para dizer olha, estou vendo o futuro. É isso aqui. Agora, eu estou vendo o presente. Pelo presente nós vamos ter de 13 a 14 votos. A própria votação na Comissão de Finanças definiu as nossas posições. Nós estamos coerentes. Estamos coesos, foram 5 a 2. É tanto que o governo até para prorrogar a agonia, porque isso é uma prorrogação de agonia, fez através de seus deputados, um requerimento para que fosse levado ao plenário, porque se não fizesse isso, a matéria morria ali, seria terminativa ali na Comissão. O governo tem uma expectativa que eu acho que é a mais vergonhosa, mais criminosa e a mais atentatória à moral da própria Assembleia. O governo perde hoje, sabe que perde, mas acha que pode ainda cooptar algum deputado. Todos os argumentos que vão nascendo do governo, são desmentidos imediatamente. Já mudaram dez argumentos. O governo acredita que com o dinheiro do povo compra o deputado para votar contra o povo. Isso é para mim, o maior crime da democracia, achar que pode comprar o voto do parlamentar.
O senhor tem quase quatro décadas na Assembleia. Em comparação a outros governos, houve tanta pressão como agora?
Em todos os governos aconteceram esforço para convencer e tal, mas nesses governos do PT a coisa é desbragada. No tempo da ditadura tinha aquele voto que era determinado pelo quartel-general. O deputado era um mensageiro do quartel-general, votava como eles queriam. Na ditadura era assim. Depois da ditadura, não. Em princípio, os Poderes passaram a funcionar democraticamente, independente e tal. Mas nos governos do PT, já não é a farda que manda. É o dólar.
É tudo verde…?
…É tudo verde, certo (risos), um é verde de oliva, outro é verde mais diferente! Mas acontece o seguinte, eles acham que convence as pessoas com emprego, com investimentos na área que eles querem, e com todas as vantagens que eles imaginam. Eu vi, deputado, dizendo que foi chamado lá na Casa Civil, e foi oferecida vantagem que ele ficou meio tonto. Mas disse, não, eu não vim pra isso aqui, eu não aceito, tal. Então, estou vendo essa reação, eu confesso, estou muito feliz e animado porque estou vendo essa reação, e acredito que essas pessoas que realmente se definiram, elas não vão retroagir diante de ofertas e de vantagens.
O que mudou da primeira gestão do governo Fátima para para cá?
Está mais velho, está mais desgastado, mas desde o primeiro dia foi a mesma coisa. Tem um fracasso administrativo que é o mais patente do mundo. Quando ela assumiu, os estados, quase todos, São Paulo estava no equilíbrio mais ou menos, estavam no vermelho, que são dados que pode consultar e estão nos arquivos e está na internet da Secretaria do Tesouro Nacional. Aí veio a pandemia, que foi um negócio extremamente doloroso e grave. O governo federal foi obrigado a transferir para os estados, realmente uma grande fortuna. A despesa do estado por uma inanição determinada pelo próprio Supremo Tribunal Federal, passou a gastar um pouco menos. Vamos ver a coisa pelo lado bem realista. E recebeu muitos recursos. Em 2022, os estados estavam no azul, as prefeituras estavam no azul, até a menor dos prefeituras estavam no azul. Aí o que acontece? O país passou a funcionar, pelo menos do ponto de vista econômico, de uma forma mais normal. Pessoas começaram a trabalhar, as empresas abriram e o estado foi obrigado a prestar serviço. E não vieram mais recursos federais. Aqueles que estavam no azul voltaram para o vermelho, como aqui o Rio Grande do Norte, que está no vermelho escuro mesmo. E isso é fruto de quê? É fruto do despreparo. Eles deviam ver que aquele recurso não era permanente, não tinha continuidade. Aí as pessoas acham que uma coisa que vem com uma lei vez vai se repetir. Não vai se repetir.
Quem é o PT para o senhor?
É um partido político aguerrido, não tem a menor dúvida, agora absolutamente sectário, não tem outra qualificação com uma linha ideológica, claro, totalmente esquerda, defendendo projetos que foram destruídos pela História.
Como deputado estadual, o senhor tem direito constitucional a emendas, mas o governo tem destinado as emendas?
Não tem cumprido, nem sequer os acordos que são feitos ao longo do ano. Eu não participo, não sou líder, nesse negócio eu também não quero me meter. Mas o meu líder vai, porque de vez em quando a oposição tem que participar, tem o meu apoio, porque o que eu digo a eles: vocês decidem para mim, está decidido e eu apoio. Mas esses compromissos, vai liberar milhões até o dia tanto. Risco n’água. Agora, não culpo apenas o governo, culpo a Assembleia, porque se nós reagíssemos, como as emendas são impositivas, esse recurso não pertence ao Executivo, veja o exemplo federal, estão querendo fazer até um calendário obrigatório para o governo federal. Então, a culpa também é muito grave da Assembleia, porque poderia representar. Isso é motivo de intervenção, porque não está sendo cumprindo, desrespeitando a Assembleia, e é motivo até, se quiséssemos fazer, não sou muito defensor disso, até de crime de responsabilidade com o impeachment da governadora.
O Senado retomou seu lugar no equilíbrio entre os Poderes com a aprovação da PEC que limitou a atuação de ministros do STF?
Querem negar ao Congresso Nacional o direito de legislar. Para mim, certo ou errado, eu acho que está mais para certo que pra errado, porque não vai impedir para o Supremo decidir as coisas que tem que ser decidida para Supremo. Vai impedir que sejam feitas de maneiras monocráticas. A diferença está aí.
O senhor realmente está no último mandato?
Indiscutivelmente e lamentavelmente é o último mandato, eu gosto ali do plenário, gosto da Assembleia, eu vou ter saudade, eu vou sentir, mas eu tenho que ter noção dos meus limites, então, ter noção em relação à minha capacidade de fazer política, que não é uma coisa fácil, eu não sou escolhido por alguém como era na ditadura, um biônico, eu vou ter que ir para uma campanha, e eu confesso a que não me sinto com muita elasticidade e disposição, porque eu também não quero ser um candidato, amorfo, só ficar em casa, esperando que o povo venha votar, que não vai acontecer isso, e não exige essa história.
Assim como o senhor vai contribuir para derrotar o governo se está fora do palanque?
Não, eu vou apoiar um candidato, nós vamos ter candidato a governador, já estou da forma que eu posso, tentando ajudar, eu acho que é uma candidatura, no momento atual, visualiza e acho que é um grande quadro do Estado, que é Rogério Marinho, não têm a menor dúvida, a minha luta agora é viabilizar isso aí, botar uma pessoa do Estado, quer dizer, com apoio do povo, com meu votinho, que tem a capacidade de gerir as coisas, entenda de alguma coisa e ele é um cara muito entendido. Eu vou ser apenas um eleitor em 2026, agora eu vou tentar ajudar. Vou ter um candidato a deputado estadual, que eu acho que também vai levar essa mesma luta. Para federal, eu acredito que ele vai ser candidato a releição, se ele for eu vou votar em Robinson Faria, não tenho porque mudar meu voto, é um voto de amizade, meu compadre. Para senador não se sabe quem são os candidatos, claro que eu vou votar numa linha partidária, não tem menor dúvida.
E para prefeito de Natal em 2024?
A coisa está muito dividida atualmente, espero que a gente tenha uma evolução nesse quadro e que tenhamos um candidato único, se nos unirmos, nós ganhamos de lavagem do governo, porque o governo está caindo.
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