Homenagem a 'Paulo Choco'
Hoje fiquei comovido pela perda de um amigo. Paulo Henrique Lopes, Paulinho, o nosso querido Paulo Choco. Veio a lembrança do baú da minha velha infância. Lembrei das brincadeiras e travessuras que dividimos com os nossos primeiros amigos de nossas vidas. Quantas alegrias daqueles meninos cheios de vontade de descarregar suas baterias biológicas. Tudo se passa na cabeça de uma criança para perder energia. Mas, não se passa na cabeça daqueles pequenos seres humanos o que acontecerá no seu futuro. O que será de nossas vidas... O que a vida há de ser...
Mas, pra que desvendar o futuro, quando se tem um presente com um sorriso no rosto de uma criança?
No baú das minhas memórias, veio a lembrança de uma travessura vivida por mim, Paulo Choco, Evandro e os primos Jair e Dal. Que na verdade, uma aventura e lição de vida.
Tudo aconteceu no povoado de "Maceió," que existia nas margens da estrada que liga a saída de Ceará Mirim (rota dos engenhos) a entrada do casarão Guaporé (museu). Ao passar a ponte, o vale verde se destacava pelas extensas plantações de cana de açúcar (os partidos de cana) da então Usina São Francisco. Um verde tão intenso de um lado e de outro da estrada vermelha pissarrra de inspirar um ator paisagista. O povoado se destacava pelo estilo colonial do casarão Guaporé a direita e pela fazenda de um antigo engenho a esquerda, que pertencia ao viril Ari Pacheco. Homem de pulso forte, de voz grave, chapéu de couro e óculos escuro. Digno de um verdadeiro senhor de engenho. Sua fazenda produtiva de criação de gado e plantação de cana de açúcar que fornecia para a Usina São Francisco. Mas, éramos apenas crianças e não tínhamos interesse em negociar com o senhor Ari Pacheco. Nosso interesse, era apenas tomar banho na pequena represa de um igarapé (pequeno rio) e devorar suculentas azeitonas que ficava em sua propriedade.
Nada poderia nos "deter." Uma cerca de arames farpados, detém uma centena de bois nelores inteira, mas, nunca, jamais um quinteto de moleques franzinos cheios de habilidade e energia pra gastar. "Estamos com sorte..." o opala preto não se encontrava na fazenda. Era a certeza que o Dr Ari Pacheco (assim, alguns o chamavam) não se encontrava na fazenda. Apenas um velho caseiro de rosto sofrido pelo tempo, seu cigarro de palha, seu alforje pendurado no ombro e sua faca peixeira em sua cintura. Não perdia seu tempo com garotos que apenas queria comer algumas azeitonas e dar um mergulho na piscina natural represada de água límpida que víamos em seu fundo, cardumes de piabas e outros peixinhos.
Tudo ia bem, saboreando azeitonas e uma piscina só pra gente. Até escutar o barulho de um carro e uma buzina. Seu Ari chamando o caseiro. O alerta foi automático no quinteto. Não tínhamos tempo a perder. De volta a saída pela cerca farpada ao lado da fazenda. Ainda não fomos vistos... Engano, Seu Ari sai do carro, e com um grave som saindo de sua boca: "O quê que vocês estão fazendo dentro da minha propriedade seus cabas?" Momento em que uma criança fica muda, mas escuta o dobro. O quinteto de amigos olha pra trás ao mesmo tempo. O opala preto dar marcha ré, e vem em direção aos meninos assustados. Paulo Choco olha pra frente e dar o alarme, disparando na frente como um atleta de 100m rasos. Eu, Evandro e os primos Jair e Dal, por impulso de sobrevivência, disparamos atrás. PERNAS PRA QUE TE QUERO.
Por um momento, estava atrás de todos, e pude ver o medo nos olhos arregalados daqueles amigos correndo como nunca, que os pés batiam na bunda e olhando pra trás. Com agilidade e força, ultrapassei a todos e passei a dianteira. Num momento, olhei pra trás e via os quatros cansados. Evandro e Paulo Choco as lágrimas. Não podíamos fazer nada a não ser correr e chorar. Mas, o choro de uma criança, é uma verdadeira oração. Outra olhada pra trás, e o carro preto dar meia volta em direção a fazenda. Alguém diz com um sorriso e alívio no rosto: "Ele voltou, ele voltou..." Era Evandro, molhado, cabelo arrepiado, óculos fundo de garrafa com poeira vermelha do piçarro nas lentes. Imaginei: "Seu Ari, não vai perder tempo com cinco moleques que queriam apenas se divertir, mas, que não seja mais dentro de sua propriedade. Só queria dar um susto...e que susto..." Era hora de descansar, e fomos caminhando. Agora alegres porque o perigo passou. Jair detona: "Nunca mais vou praquela porra. Esse véi fí de rapariga." Todos caem na gargalhada. Satisfeitos pela aventura, mas conscientes pela lição de vida.
Pensei agora: Quem nunca amou ou se aventurou na vida, não viveu.
Na vida tive muitas aventuras. E o meu amigo Paulinho fez parte delas.
Paulinho amou e aventurou. Viveu.
Esteja em paz meu amigo.🙏🏻
Tenho dito.
Carlos Supla
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