28/03/2022

AS SEQUELAS PÓS COVID

Metade dos internados têm piora na qualidade de vida após alta

Por meio da revisão de publicações científicas, pesquisadores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Minas Gerais, identificaram prejuízos à qualidade de vida pós-alta hospitalar na maior parte dos pacientes internados por Covid entre 2020 e 2022.

Meses depois da alta, até 51% dos recuperados relataram as chamadas sequelas, sobre as quais ainda se sabe relativamente pouco. Os 24 estudos revisados pela equipe de pesquisadores consideravam aspectos sociais, mentais e físicos dos pacientes acometidos pela doença.

A maior taxa referente à piora na qualidade de vida foi identificada entre mulheres e idosos. Homens, no entanto, enfrentam maior letalidade ou gravidade no quadro clínico. Os sintomas postergados pós-internação ultrapassam 30 dias após a alta médica.

Ainda não é possível, porém, explicar com exatidão os motivos por trás da diferença de quadros clínicos entre homens e mulheres. “Atualmente ainda há muita especulação, é complicado afirmar”, explica Henrique Silveira Costa, um dos autores do estudo.

O estudo não visa identificar sintomas, mas apenas constatar condições prejudiciais no cotidiano dos pacientes contaminados. “Observamos que a qualidade de vida é deteriorada em aspectos físicos e mentais. Nos aspectos físicos, predominam as dores por múltiplas causas: dor articular, torácica, na região da cabeça e mialgia generalizada”, detalha Henrique. “Já os aspectos mentais identificados são ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e medo da reinfecção.”

Um dos pesquisadores destaca que constatou o comprometimento mental em pacientes que precisaram de internação por Covid durante a pandemia. “As pessoas passaram a ter medo de ficarem sozinhas em casa, de se reinfectarem. A hospitalização afeta também aspectos sociais”, conta.

Alguns fatores, menos determinantes que gênero ou idade, também foram observados. O tempo de internação ou de permanência na ventilação mecânica influenciam, assim como condições de saúde, como diabetes, insuficiência cardíaca, sobrepeso ou obesidade, doença renal e tabagismo.
Estratégias individualizadas

Para Henrique Silveira, estudos que analisam a qualidade de vida são essenciais nesta etapa da pandemia. “Neste momento, não precisamos olhar só sinais clínicos ou sintomas. Devemos ouvir os relatos do pacientes em recuperação”, observa.

Dessa forma, a análise dos relatos possibilita a criação de estratégias individuais de recuperação. Otimizar os procedimentos de reabilitação constitui, também, mais um passo para compreender melhor a doença depois do fim do quadro clínico.

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