12/02/2022

POR QUE O CÉU ESTÁ 'VERMELHANDO'? ENTENDA FENÔMENO

Céu de tonalidade vermelha chama a atenção no RN

Quem acordou muito cedo nos últimos dias, seja para trabalho ou por acaso, ficou surpreso com um fenômeno meteorológico que deixou o céu em tonalidade vermelha no Rio Grande do Norte. Desde sábado (5), fotos do ocorrido tem dominado as redes sociais, com potiguares fazendo registros desse fato peculiar e compartilhando com seus seguidores. Na internet, muitos especulam sobre a origem da ocorrência e a erupção de um vulcão submarino no Tonga, ilha localizada na Oceania, é popularmente apontada como causa. Especialistas explicam que a mudança de coloração se deve a um conjunto de fatores que envolvem a radiação solar e a refração da luz que ocorre ao atravessar a atmosfera, podendo estar associada com gases e poluentes expelidos pelo vulcão.

O professor Weber Andrade, do departamento de Meteorologia da UFRN, revela que a forma de entender o fenômeno tem a ver com o posicionamento do Sol em relação ao horizonte. “Se tentarmos entender a atmosfera como uma pequena camada no entorno do globo terrestre, imagine que você está aqui em Natal com o sol no pico do meio dia, os raios solares vão atravessar uma camada que está em cima da sua cabeça. No amanhecer ou no pôr do sol, a radiação solar está vindo de forma lateral, perpendicular com a atmosfera baixa da terra, interagindo com os constituintes atmosféricos e refratando a luz, o que pode gerar uma mudança na coloração perceptível”, explica.

Para entender como uma erupção vulcânica na Oceania pode impactar o céu visto no Rio Grande do Norte, a reportagem conversou com o professor Rodrigo de Freitas do departamento de Geografia da UFRN. Ele explicou que existe um conjunto de sistemas atmosféricos de grande escala que fazem esse material circular. “O vulcão submarino Honga Tonga tem 1800 metros abaixo da água, ele é uma montanha abaixo do oceano e tem apenas 100m acima do nível do mar. Como é uma área de atividade vulcânica, você tem magna extravasando nessa água fria em uma temperatura de 1000 graus Celsius, o que gerou uma grande explosão no dia 14 para15 de janeiro”.

“Após isso, o vulcão joga fuligem e fumaça, muito material particulado na atmosfera. Essas pequenas poeiras interagem com a radiação solar causando um efeito que vai dar essa coloração mais avermelhada logo no início da manhã, porque os raios solares vão percorrer uma distância maior pela atmosfera baixa e isso vai fazer com que haja uma maior refração”, diz.

De forma resumida, os geógrafos Rebecca Lucena (UFRN) e Fábio Sanches (UFJF), professores de Climatologia, apontam que grandes erupções vulcânicas são capazes de lançar material particulado (litometeoros ou aerossóis) em níveis altos da atmosfera. Dessa forma, esse material passa a ser transportado pelos ventos para regiões distantes da fonte da erupção. “Quando a atmosfera está cheia de aerossóis, seja pela poeira levantada pelos ventos, material vulcânico ou por material originado de grandes incêndios florestais, é comum o nascer e o pôr do sol apresentarem tons mais fortes de laranja/vermelho, uma vez que essas partículas geram a difusão do vermelho (da luz visível)”, explicam.

Potiguares compartilham registros em redes sociais

Em Natal, Louise Katherine acordou cedo por acaso tanto no domingo (6) quanto na segunda-feira (7), e se deparou com o céu em tonalidades diferentes do comum: rosa, vermelho e roxo. Surpresa com a ocorrência, tirou fotos do momento e compartilhou em suas redes sociais. “Para mim, foi interessante porque a primeira vez que o fenômeno aconteceu eu não tinha visto, não faz parte do meu dia a dia acordar nesse horário. Por acaso, no dia seguinte acordei bem mais cedo e vi, na mesma hora fiz o registro às 04:51h. Achei bem curioso e muito bonito, não procurei saber o motivo na hora mas depois achei a explicação no Twitter que teve a ver com um vulcão submarino”, comenta.

Além da capital potiguar, o fenômeno também vem sendo observado no interior do estado. Nesta segunda-feira na cidade de Caicó, região do Seridó potiguar, o servidor público Manoel Gomes saia de casa cedo para caminhar como de costume e se deparou com o céu em uma cor vermelho muito forte. Ele conta que nos grupos da cidade muitas pessoas estavam admiradas e compartilharam suas fotos buscando uma explicação. Foi pelo WhatsApp que soube sobre a possível ligação com a erupção do vulcão submarino.

“Eu nem sabia que isso estava acontecendo, fui caminhar lá pelas 04:42h e quando vi o céu pensei logo em tirar uma foto. Tirei várias, inclusive peguei até quando a cor já estava ficando amarela. Coloquei no Instagram porque achei muito bonito e por lá as pessoas também estavam comentando bastante”, disse.

No litoral Sul, praia de Pirangi, a cantora Graziela Araújo também acordou de forma aleatória e presenciou o momento sem querer. “Eu nunca acordo cedo assim, é bem raro. Acordei para ir ao banheiro e, como minha janela fica de frente para a cama, quando abri o olho foi a primeira coisa que vi. De primeira me assustei, naquele tempinho confuso quando a pessoa está acordando, achei que era algum mega incêndio. Depois, fiquei fascinada e achei muito lindo. Postei uma foto no meu Twitter que algumas pessoas curtiram e chegou até uma conta que me explicou o que houve”, relata.

Meteorologista aponta outra explicação

Docente da UFRN, o professor Cristiano Prestelo argumenta que é um equivoco afirmar que o material particulado na nossa atmosfera é proveniente da erupção do vulcão Honga Tonga. “O fato de tal ocorrência estar associada à poeira e composição química, levou as pessoas pensarem que esse material é proveniente do vulcão Tonga, mas não temos poeira desse vulcão sobre a nossa região, ela é proveniente de outros locais”, pontua.

Segundo o meteorologista, a ocorrência do céu vermelho não traz nenhum outro efeito atmosférico na escala de tempo ou de estação meteorológica. Sua duração depende do tempo em que essas partículas se mantêm na atmosfera. Por se tratarem de partículas consideradas grandes, apesar de não serem vistas a olho nu, o professor explica que são facilmente atraídas pela gravidade e voltam para a superfície do planeta, também através da precipitação. O fenômeno ainda deve durar entre três a quatro dias, a depender do quão poluída a atmosfera se encontra.

TN

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