18/08/2021

'MEU PAI FOI TORTURADO E MEU PRIMO FUGIU PARA NÃO SER MORTO' - DIZ AFEGÃO QUE VIVE NO RN

Afegão que vive no RN se preocupa com família após domínio do Talibã: 'Meu primo fugiu para não ser morto'

Há 3 anos morando em Parnamirim, no Rio Grande do Norte, o afegão Abdul Fattah Rabiel, de 39 anos, assistiu desolado às imagens da invasão do Talibã no Afeganistão, local onde nasceu e foi criado.

Os pais e irmãos de Fattah, que ainda luta pela cidadania brasileira, atualmente moram na Turquia, mas ele ainda tem parentes que vivem no Afeganistão.

"Tenho parentes como tios, tias, primos e primas morando lá. Infelizmente, a situação para eles não é boa. Vejo que eles sentem muito medo e incerteza. A única coisa que sabemos é que garotas não vão poder ir para a escola e mulheres não vão poder trabalhar", conta.

Uma das maiores preocupações de Abdul Fattah é com um primo que trabalhava para o governo local. Ele contou que o parente já fugiu da cidade onde morava, mas teme que seja alvo de perseguição.

"É o caso de um primo meu, muito próximo, que é casado e tem três filhos, incluindo uma menina. Ele trabalhava para o governo e teve que sair de casa e se esconder em outra cidade para não ser pego ou morto".

"Eu não consigo dormir há três ou quatro dias. O impacto disso tudo é muito grande para mim.", conta.

Abdul Fattah é mediador cultural e realizava trabalhos humanitários na Turquia desde 2007. Lá, ele conheceu a brasileira Gedilana, de 34 anos. Eles se casaram, tiveram um filho e vieram morar no Brasil em 2018.

'Meu pai foi preso e torturado'

Durante a primeira invasão do Talibã ao Afeganistão, Fattah era um adolescente e ainda estava no país. Ele conta que o pai foi preso e torturado.

"Meu pai trabalhava para o governo antes do Talibã tomar o poder. Ele foi preso e torturado por dois meses. Foi muito difícil soltá-lo. Quando isso aconteceu, minha família teve que fugir do Afeganistão".

Ele conta que os parentes voltaram ao país depois que o Talibã saiu do poder e emigraram novamente em 2017. "Eles ainda são os mesmos. Desde a forma de se vestir à forma de pensar. Eles falam que agem de acordo com as leis Islâmicas, mas com qual interpretação? Porque minha mãe é muçulmana e estudou, foi para a universidade", conta.

O afegão relata que se sente sem esperanças pelas pessoas que continuam no país dominado.

"Quando você vê aquelas pessoas se pendurando naquele avião, é porque elas sabem que podem morrer ou ser torturadas se ficarem. Como um cidadão global, que é como me considero, eu acho que permitir que isso esteja acontecendo é uma vergonha para a comunidade internacional", diz.

G1 RN

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