15/07/2021

EITA: MONOPÓLIO DE LIRA SOBRE IMPEACHMENT PODERÁ SER TIRADO COM PROJETO DE DEPUTADA

Projeto quer tirar “monopólio” de Lira sobre impeachment

A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) e outros parlamentares da sigla apresentaram um projeto de resolução (PRC) que pretende mudar o poder absoluto do presidente da Câmara em relação ao impeachment. A medida tiraria o poder absoluto do presidente da Câmara e daria maior autonomia aos deputados federais.

Pela proposta, entregue no início do mês, o presidente da Câmara teria um prazo total de 60 dias para dar resposta aos pedidos de impeachment. E mais importante: o ato contra o presidente da República poderia começar a tramitar ao receber o apoio da maioria absoluta dos deputados, ou seja, 257 votos. Atualmente a legislação brasileira permite o início da análise de um pedido de impeachment apenas se o presidente da Câmara assim decidir.

Até ontem, o presidente Jair Bolsonaro tinha contra ele 130 pedidos de impeachment, recebidos pela Secretaria-Geral da Mesa da Câmara desde o começo do mandato dele, em janeiro de 2019. Alguns foram descartados por problemas técnicos, mas a maioria estava “em análise”, ou seja, aguardando despacho do atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Nem ele e nem seu antecessor no cargo, Rodrigo Maia (DEM-RJ), analisaram o mérito de nenhum dos pedidos até agora.

Além de Adriana, outros quatro deputados do Novo assinam a proposta: Paulo Ganime (RJ), Alexis Fonteyne (SP), Tiago Mitraud (MG) e Vinicius Poit (SP).

O requerimento representa a adesão de uma parte da direita a uma ideia que já era defendida por partidos de esquerda que fazem oposição a Bolsonaro: a de que o presidente da Câmara não pode ter o monopólio sobre o tema do impeachment.

Pedidos anteriores, com o mesmo objetivo do apresentado pelo Novo, já tinham sido feitos pelos deputados Henrique Fontana (PT-RS), em maio deste ano, e por Denis Bezerra (PSB-CE), em maio de 2020. Como a proposta do cearense é a mais antiga, os outros dois projetos foram apensados a ela.

– O que a gente está discutindo é que, se a Câmara é a Casa do Povo, esta Casa não pode ficar à mercê da vontade de uma única pessoa, que é o seu presidente. Não é porque é este presidente [Arthur Lira]. É qualquer presidente da Câmara. Ele tem um poder absurdo. Decide o que entra ou não em pauta, o que vai ou não para frente – disse Adriana Ventura ao Estadão.

Ela ainda frizou a necessidade de um prazo para a análise dos pedidos e afirmou que o atual funcionamento da Casa é problemático.

– O que o projeto de resolução busca é dar um prazo para isso [a decisão sobre os pedidos de impeachment]. Isso [a protelação indefinida] não é saudável. Qual o sentido disso? […] O projeto de resolução dá 30 dias, que podem ser prorrogados por mais 30, para que o presidente analise se arquiva ou se instala a comissão especial [que começa com a análise do pedido de impeachment], como prevê o regimento [interno]. O problema é não ter nada que obrigue o presidente da Casa a fazer isso. Hoje, se ele quiser deixar anos engavetado, ele deixa – disse ela.

TRAMITAÇÃO

Assim como outros tipos de projetos, a tramitação de um PRC desse tipo depende da Mesa Diretora da Casa, comandada por Lira. No caso dos projetos de resolução (PRCs), como o apresentado pelo Novo e pelos deputados do PT e do PSB, a tramitação começa pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Na opinião de Adriana, um pedido de impeachment que alcance o apoio de mais da metade dos deputados teria legitimidade suficiente para, ao menos, ser analisado pela Câmara no rito do impeachment; o julgamento do mérito ainda precisaria ser feito depois, pelo Senado.

– Vamos supor que tenha um pedido de impeachment com 257 deputados apoiando. A gente está falando da maioria da Casa. Nesse caso, vai direto para a comissão especial. O projeto de resolução estabelece isso, o que eu acho que é justo – diz ela.

AE

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