Por Ricardo Sobral
O benzimento está presente em todas as culturas da humanidade. Baseia-se na fé e nos elementos da natureza. No Brasil, desde os tempos coloniais, devido às precárias condições de assistência à saúde, registra-se a presença da benzedeira para curar os males do corpo e do espírito.
Em Ceará-Mirim havia uma benzedeira, moradora de antigo engenho próximo da cidade, que atendia à domicílio.
Com galhos de planta varria as mazelas do abençoado, dizendo:
- Com três te botaram, com três eu te tiro. Com as palavras do Espírito Santo, quebrante e oiado, vaiti pras onda do mar sagrado, com o poder de Deus Pai, com poder de Deus fio, precura teu lugar onde fostes nascido e criado. Assim como São Francisco das Chagas foi livre e Santo arritirai o oiado de Henrique, com o poder de Deus Pai precura teu lugar onde fostes nascido e criado (Henrique Sobral, meu sobrinho).
Durante a reza bocejava e ao terminar informava se a pessoa estava muito carregada ou não.
Normalmente os galhos não sobreviviam à reza, murchavam totalmente, quando não se desintegravam antes.
Era exímia na arte de agradar à frequesia, um plus para tonificar a reza e facilitar o óbulo.
Batizaram-na Isabel, mas era conhecida como Isabé Garapa.
Morava com um filho solteirão, fraco do juízo, um doido manso, mas de conversa macia e paradoxalmente aprumada até ser pressionado.
Quando rareava a gente já sabia: era uma semana de porre e outra para curar a ressaca.
Em uma dessas carraspanas, após uma noitada na festa da padroeira, copularam mãe e filho.
O caso chegou ao domínio público.
Grande foi a reprovação popular.
Bestializou-se o varão; semblante desfigurado; expressão perturbada.
Nunca mais achou o Norte e começou a definhar.
Tempos depois, manhã de sábado, dia da feira local, antes de soar o apito da Maria fumaça anunciando a partida para o sertão, ecoou na estação o trovejo do Nêgo Pepeu:
- Bastião finou-se agora no hospital dos doidos em Natal.
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