Por Ricardo Sobral (ricms@uol.com.br)
Leio
na imprensa que o governo do estado desperdiçou R$102 mil reais com a
locação de um jatinho para a nossa Governadora ir ao Rio de Janeiro
participar de uma simples cerimônia de aniversário de telecurso.
A
ausência de voo regular no horário foi a justificativa apresentada, já
que sua excelência havia participado de uma solenidade em Natal e, em
seguida, precisava, segundo o seu sentir, se fazer presente na Cidade Maravilhosa.
O
fundamento da despesa não convence. Se não havia possibilidade de
utilizar um dos dois aviões do estado posto à sua disposição, ou até
mesmo um avião de linha de transporte aéreo regular, que Sua Excelência
se fizesse representar.
Na
solenidade local, por exemplo, a doutora Rosalba poderia haver sido
representada pelo Chefe do Gabinete Civil, doutor Carlos Augusto, a
quem, em Mossoró, somente se refere como governador de fato. Que
diferença faria então a presença da governadora de direito ou a presença
do governador de fato?
Nunca,
porém, poderia o estado gastar essa pequena montanha de dinheiro para
conduzir sua governadora a um convescote, quando recursos faltam para
satisfazer as mais comezinhas necessidades básicas da população - saúde,
educação, segurança -, e remunerar condignamente seus servidores.
Afinal,
com essa mesma quantia quantas vidas poderiam ser salvas no pronto
socorro do Walfredo Gurgel, onde tem faltado até fio cirúrgico, e na UTI
pediátrica do Santa Catarina, que costuma ser alvo reinterado de
noticiais de carências de materiais?
Em face de tão infausta notícia, pergunto: até quando?
Respondo com desassombro: até existir governo.
Decididamente
– repito sem enfado -, no País de Macunaíma (Mário de Andrade), de
Prudêncio (Machado de Assis) e de Peixoto (Nelson Rodrigues), se faz,
sem exceção, quando no governo, tudo aquilo que
se condenava quando se era oposição; e, por outro lado, quando na
oposição, se condena justamente tudo aquilo que se fazia quando se era
governo. Lembro, por óbvio, o leading case do Molusco Apedeuta antes, durante e após o exercício da Presidência.
Como
se não bastasse, virou prática consuetudinária ressuscitar fantasmas,
espécie de gosto lúgubre de se espantar com eles, experiências que não
deram certo.
No
caso do literal voo governamental, o que mais dói não é o abuso em si,
mesmo sendo muito grave, mas a indiferença, a falta de indignação do
povo e de seus representantes.
O
cidadão que trabalha e paga impostos e ver o seu dinheiro bancar essa e
outras se sente o otário da História. Dir-se-á, como consolo, que a
ele, o otário, resta a arma do voto. Tudo bem. No campo do dever ser, o
voto é a arma cívica contra governos atabalhoados. Dizem até que o ser
humano somente se igualha efetivamente nos momentos do voto e da morte.
Disso ninguém duvida. Mas, meu caro leitor, cá pra nós, temos alternativa?
Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come. Reclamar? Só se for ao bispo, como diz o adágio popular.
8 comentários:
Irrespondível. Preciso e certeiro.
Parabéns Doutor,sem comentários!!!
CALA A BOCA BATISTA!
ESSE É UM PAÍS QUE VAI PRA FRENTE... DISSE TUDO.
o Ricardo ai deveria colocar um artigo falando da administração de ceara mirim! ta faltando o que ? coragem?
Muito bonito o texto, mais isso que a Governadora Rosalba (A Rosa)vez com este jatinho e brincadeira de criança comparando com as diárias pagas somente este inicio de ano que já ultrapassam a casa dos milhões...
Caro João André: Vou aceitar o desafio do leitor "anônimo" do comentário ai de cima e vou escrever um artigo sobre a administração municipal, como ele sugere. Preciso apenas que o "anonimo" revele sua identidade e apresente um fato concreto, um mote, para o artigo. Devolvo a bola para ele.
ESSE COMENTÁRIO DO DIA 28/05 AS -20:24 E 23:26 , DEVE SER DO PROPRIO KAKAKAKAKAKAKKAKAK!DESSE JEITO VOU ESCREVER PARA A REVISTA CAPITAL EM ASSUNTOS DE BOLSA DE VALORES, C. MIRIM TEM CADA MORADOR!
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