23/09/2011

FÁBULA DA PROFESSORA MARGARETH


REUNIÃO NA FLORESTA


A floresta estava tranqüila, até o dia em que chegou uma denúncia aos ouvidos do rei Leão: um dos animais havia comido os ovos e as galinhas do sítio do Seu Thomas. Uma reunião foi convocada para o final daquele mesmo dia.

Com a autoridade de chefe, o leão dirigiu-se ao coelho e indagou:

- Foi você coelho, quem comeu os ovos e as galinhas do sítio do Seu Thomas?

O coelho amedrontado respondeu-lhe:

- Não me alimento de ovos senhor Leão e muito menos de galinhas. Acaso não sabes que sou um herbívoro?

Olhando para o pato o Leão perguntou:

- Então, não teria sido o senhor, caro Pato, com inveja das galinhas que têm bastante conforto naquele sítio, dispondo de um galinheiro quentinho, enquanto vocês ficam na lama dia e noite?

De cabeça erguida respondeu-lhe o Pato:

- O lugar onde ficamos eu e os outros patos é o melhor que há em todo o bosque, pois o que o senhor chama de lama, para nós é a mais cheirosa lagoa que já conhecemos. Quanto a nossa preferência alimentar, nem de longe ovos e galinhas seriam por mim apreciados.

Voltando-se para o passarinho, que parecia encoberto pelas folhagens da jabuticabeira, o leão perguntou:

- E você, passarinho? Pelo que sei também não teria interesse por galinhas ou ovos, mas será que você não viu o autor do delito?

- De fato, não me alimento de galinhas nem de ovos, prefiro frutas no meu cardápio, mas já que o senhor perguntou posso apontar entre nós alguns suspeitos.

Imediatamente o barulho foi intenso naquele lugar, porque todos os animais começaram a falar ao mesmo tempo, desestabilizando a ordem da reunião:

- De quem ele suspeita? – questionou a dona girafa.

- será que ele vai acusar sem ter provas? – perguntou a formiga. Nesse instante, o Rei Leão soltou um estrondoso rugido e todos se calaram ao mesmo tempo. O medo foi tamanho que o macaco caiu do galho e o cachorro quase foi mordido pela cobra, no ímpeto de sair correndo de perto do Leão. Fez-se um silêncio de morte e aos poucos os animais iam voltando para o lugar da reunião. O passarinho sem nenhum temor tornou a falar:

- Os colegas a quem o senhor indagou, já está provado, que não se alimentam de galinhas ou de ovos, mas há entre nós animais que adoram se deliciar com tais alimentos... Pensem comigo, colegas, quem gosta de carne e na sua falta não deixa passar alguns ovos que lhe estejam à mão? O que me diz disso senhor Leão? Que comentário gostaria de fazer, senhor Lobo? – continuou o passarinho em tom de desafio.

Nervoso e de olhos arregalados diante da ousadia do passarinho, o Leão saiu em defesa própria:

- Jamais você poderia fazer uma acusação dessas, passarinho, mesmo que tivesse me surpreendido em tal atitude. Se eu fosse você media as palavras antes de pronunciá-las para não perder as penas.

Todo o bosque se calou, menos o passarinho que levantou a cabeça para continuar. Porém, ao perceber o olhar enfurecido do Leão e ao ver que seu cúmplice, o Lobo, se aproximava lentamente da árvore em que estava, o passarinho se calou. Nesse instante voltando-se para o grupo em reunião, o Lobo numa atitude inteligente pediu a palavra que prontamente lhe foi concedida:

- Eu sou o responsável pelo acontecido, senhor Leão.

Sem espanto algum, o leão no alto de sua majestade falou bem alto:

- Até que enfim, Senhor Lobo! Desde o início eu achava que o senhor era o culpado, mesmo não tendo visto nada. A qualquer momento desta reunião eu esperava que o senhor assumisse sua culpa. Sei que és um dos nossos, mas mesmo assim os culpados devem ser punidos pelos seus erros.

Então, caros bichos, se já encontramos o culpado, peço que façam uma comissão para escrever o relatório e depois vejam qual punição deve ser aplicada ao Senhor Lobo. Como eu não tenho nada a ver com isso vou descansar. E não me perturbem mais com essa conversa.

Todos perplexos com o que acabaram de presenciar se entreolhavam sem, no entanto, manifestarem um posicionamento. Baixando a cabeça envergonhado o passarinho voou para bem longe dali. Afinal, não poderia compactuar com aquela situação. E quem sabe não encontraria pelo mundo afora um lugar melhor para viver?


Autora: Maria Margareth da Silva Pereira

Especialista em literatura Comparada

2 comentários:

Anônimo disse...

Margarethe,sua fabula é maravilhosa é sempre muito bom ler um texto como o seu.Parabens sou seu fã.

Anônimo disse...

Um texto bem elaborado é outra coisa estamos precisando de pessoas como vc para escrever mais.Não dá para abrir um blog e ver textos pobres,um abraço parabens.