

A trajetória do ditador líbio Muammar Kadafi
No comando da Líbia desde 1969, o coronel Muammar Kadafi é o líder há mais tempo no poder na África e no mundo árabe.
Quando tinha apenas 27 anos, Kadafi organizou o golpe de Estado no qual o rei Idris foi derrubado, e, desde então, tem mantido um controle à 'mão de ferro', dizimando seus opositores e controlando o petróleo líbio. A atual revolta da população contra seu líder é o maior desafio de seu longo governo.
Entre suas muitas excentricidades, duas das mais conhecidas são o hábito de dormir em uma tenda beduína e de andar com dezenas de seguranças mulheres para sua proteção em viagens ao exterior.
Depois do golpe de Estado em 1969 e com sua chegada ao poder, Kadafi estabeleceu o país no pan-arabismo, com uma filosofia anti-imperialista misturada com aspectos do Islã. Enquanto isto, ele permitia o controle privado sobre as pequenas empresas, enquanto as maiores eram do governo.
Kadafi era um admirador do líder egípicio Gamal Abdel Nasser (1918-1970), do seu socialismo árabe e da ideologia nacionalista. Durante grande parte do seu governo, Kadafi tentou unir Líbia, Egito e Síria em uma federação, mas sem sucesso. Anos mais tarde, tentaria uma tática semelhante com a Tunísia, novamente sem conseguir o fim desejado.
Esmagando dissidentes
Em 1977, Kadafi mudou o nome do país para Grande Socilaismo Popular da Líbia Árabe Jamahirya (Estado das massas) e as pessoas puderam expor seus pontos de vista em congressos.
Porém, muitos que participaram destes congressos criticaram a liderança de Kadafi, acusando-a de ser uma ditadura militar, reprimindo a sociedade civil e esmagando impiedosamente seus dissidentes. A mídia, então, passou a ficar sob forte controle governamental.
O regime tem centenas de pessoas presas e condenadas à morte por violarem a lei, segundo a Organização de Direitos Humanos.
Kadafi sempre teve um papel proeminente na organização da oposição dos árabes ao acordo de paz de Camp David entre Egito e Israel, em 1978. Porém, com opiniões extremas sobre as resoluções do conflito Israel-Palestina, entre outros, a política externa da Líbia sofreu uma mudança: com vários países árabes ignorando as opiniões do líder líbio, o foco do país passou a ser para os africanos.
Na África, Kadafi foi mais ouvido e, com isso, conseguiu a formação da União Africana. Mas, no Ocidente, a visão do líder da Líbia é de um "terrorista", acusado de apoiar grupos armados, incluindo as Farc, na Colômbia, e o IRA, na Irlanda do Norte.
O suposto envolvimento da Líbia em um atentado, em 1986, dentro de uma discoteca na cidade de Berlim, resultando na morte de dois soldados americanos, acarretaram em ataques áreos dos EUA a Trípoli e Benghazi, matando 35 líbios, inclusive a filha adotiva de Kadafi. Ronald Regan, então presidente dos EUA, o chamou de 'cachorro louco'.
Outro episódio terrorista que envolve a Líbia é o bombardeio do voo da Pan Am que iria de Londres para Nova Iorque, sobre a cidade de Lockrbie, na Escócia, em 1988. O atentado matou 270 pessoas (11 em terra e 259 no avião). Este é o mais conhecido e controverso incidente terrorista em que Kadafi teve seu nome mencionado como um dos envolvidos.
Por muitos anos, Kadafi negou envolvimento, o que resultou em sanções da ONU e o status da Líbia como um estado pária (excluído do cenário mundial). Mas Abdel Basset al-Megrahi, agente secreto líbio, foi condenado por plantar a bomba e, assim, o regime de Kadafi assumiu formalmente a responsabilidade pelo ataque, em 2003. Ele pagou indenização às famílias dos mortos.
Fim do isolamento
Também em 2003, Kadafi rompeu o isolamento com o Ocidente, ao entregar seu inventário inteiro de armas de destruição em massa.Em setembro de 2004, George W. Bush, então presidente dos EUA, terminou formalmente o embargo comercial dos americanos como resultado do desmantelamento do programa de armas da Líbia e pela responsabilidade do atentado de Lockerbie. A normalização das relações com as potências ocidentais permitiu que a economia líbia tivesse um crescimento econômico relevante, principalmente na indústria petrolífera.
Porém, Kadafi voltou a mostrar seu lado controverso, quando o responsável pelo atentado de Lockerbie, al-Megrahi, voltou à Líbia e foi recebido como herói pelo líder. EUA, Reino Unido e outros países condenaram a atitude.
Em setembro de 2009, Kadafi visitou os EUA e pela primeira vez compareceu à Assembleia Geral da ONU. Seu discurso, que duraria 15 minutos, acabou durando 1h30min. Ele rasgou um exemplar da Carta da ONU, acusou o Conselho de Segurança de ser um corpo terrorista semelhante à Al-Qaeda e exigiu 7,7 trilhões de dólares em compensação para a África, pelo passado de colonização do continente.
Durante visita à Itália, em agosto de 2010, a convite de Kadafi, milhares de jovens e mulheres se converteram ao Islã, obscurecendo uma viagem de dois dias, destinada a cimentar os crescentes laços entre Trípoli e Roma.
Relação com Lula
Lula e Kadafi se reuniram por quatro vezes durante os dois mandatos do líder brasileiro. O ex-presidente sempre afirmou que o Brasil não tinha preconceitos em sua "diplomacia pragmática". Esta relação se deu, provavelmente, devido à entrada de empresas brasileiras na Líbia.
Algumas construtoras investiram 1,4 bilhão de dólares no país, e Lula se aproximou de Kadafi, para garantir o sucesso desse investimento.
Essa relação deve sofrer um baque, já que Dilma Rousseff não abre mão dos direitos humanos - para ela, uma área inegociável. E com os últimos acontecimentos na Líbia, é provável que o exêntrico líder fique longe dos interesses brasileiros.
YAHOO
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