19/08/2022

BRASIL: SACANAGEM - 'GUERRA' A VISTA

Preço da cerveja sobe 8,5%, mas não altera o consumo do brasileiro; veja motivos

A sexta-feira é o dia da semana mais comemorado pela população devido ao hábito de emendar o expediente à cerveja gelada com os amigos. Mas manter o costume tem apertado cada vez mais o orçamento das famílias brasileiras. De acordo com o IBGE, o preço da bebida está com alta acumulada de 8,54% no Brasil nos últimos 12 meses. O percentual foi apurado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho.

Em Belo Horizonte, pesquisa divulgada no início de julho pelo site de pesquisas Mercado Mineiro identificou uma alta de 13% no valor necessário para ‘tomar uma’ nos bares de BH. De acordo com o diretor do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral de Minas Gerais (SindBebidas) Fernando Cota o aumento no preço está relacionado ao encarecimento do lúpulo e do malte, insumos de primeira ordem para a produção cervejeira.

Os dois produtos são importados e acabam impactados, também, pela valorização do dólar, cotado hoje a R$ 5,22. No entanto, ao longo do primeiro semestre a moeda americana se aproximou do valor de R$ 6. A situação, afirma, atinge todas as empresas. “Hoje a gente tem na cerveja basicamente inclusões de matérias primas que são commodities negociadas em bolsa. Houve um reajuste no preço das commodities e também essa escalada do dólar”, argumenta Cota, que também é CEO da cervejaria mineira Prussia Bier.

Se comparado ao patamar pré-pandemia, em 2019, o cálculo é de que os custos para produzir cerveja dobraram. “Tem um terceiro ponto que tem a ver com a energia elétrica. O gás da cerveja, CO2, é produzido em processos que demandam grande consumo de energia”, complementou Cota ao citar também a pressão sobre os custos de energia elétrica vivenciados no final de 2021 e início deste ano em função das taxas adicionais de escassez hídrica.

Os gastos com transportes também acabaram subindo em função das altas no preço do diesel. O combustível, responsável por 12% do custo da cerveja, já chegou a um preço médio próximo dos R$ 8 ao longo dos últimos meses, mas com algumas reduções já pode ser encontrado a valores inferiores. “Tem alguns fomentos para aliviar para os caminhoneiros, mas ainda não tem na bomba um valor do diesel que dê segurança para o transportador baixar os preços do transporte e frete. Comparando com seis meses atrás, parou de subir, mas retração não houve”, explica Fernando Cota.
Consumo mantido

Apesar da alta de preço, que chega ao consumidor final que está pagando mais caro para comprar a cerveja nos supermercados ou em bares, o consumo não foi alterado, segundo o diretor do Sindbebidas. A explicação para a manutenção é a absorção de parte dos custos adicionais pelas cervejarias. Segundo Fernando Cota, as empresas estão retendo cerca de 40% dos lucros, para evitar um repasse integral de preços na cadeia.

“Não teve retração de consumo porque tem sido feito um esforço para acomodar os repasses. A gente trabalha com redução da margem e a empresa trabalha mais enxuta, não investe em treinamento, capacitação. Os parceiros de negócios, terceirizados, a gente senta, renegocia. É uma cadeia inteira que você desenha e entra nos detalhes para saber o que pode ser feito”, acrescenta o empresário.

Sem previsão de alteração no cenário internacional para os próximos meses nos preços de commodities e cotações do dólar que possam viabilizar queda nos preços, o setor afirma que a isenção de impostos estaduais e federais, assim como feito pelo governo federal com a gasolina e o etanol, pode auxiliar. Um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) aponta que a tributação sobre a cerveja é de 42,69%.

“Foi feito um subsídio para impostos da gasolina para acomodar o custo. Eu acho que deveria ser repensado para a economia como um todo, já que tem um consumo que gastava R$ 1000 e passou a se gastar R$ 1500, não poderia subsidiar parte dos impostos de consumo de forma geral e não só da gasolina? Se é um subsídio geral para a cadeia de consumo, para o consumo do país vai ser muito bom”, sugere o diretor do Sindbebidas.

Nenhum comentário: