Policiais civis cobram R$ 300 mil de traficante e viram alvo de operação em MG
A operação que descobriu um esquema de corrupção gerenciado por policiais civis de Minas Gerais surgiu de uma denúncia envolvendo a extorsão sofrida por um traficante de Belo Horizonte. O Ministério Público (MPMG) foi informado que agentes do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) estariam cobrando R$ 300 mil em propina para não prender o suspeito.
Esse e outros detalhes estão na decisão que determinou a prisão preventiva de oito policiais civis na última segunda-feira (27). A reportagem de O TEMPO teve acesso à íntegra do documento emitido pela 2ª Vara de Tóxicos, Organização Criminosa, Lavagem de Bens e Valores da Comarca de Belo Horizonte.
O relatório detalha diálogos entre os envolvidos, valores negociados, organograma do esquema e demais movimentações de policiais e da organização criminosa.
Os policiais civis que participavam da lavagem de dinheiro e são acusados de corrupção eram lotados no Denarc, no Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri) e no Departamento Estadual de Investigações de Crimes de Trânsito (Deinctran). Todos atuavam na região metropolitana.
A mesma denúncia que cita a extorsão do traficante também indicou que a cobrança de propina, especialmente pelos agentes do Denarc, era prática de rotina do grupo de agentes públicos.
O esquema era organizado por um advogado do tráfico, que fazia a ponte entre policiais e traficantes e combinava com os envolvidos os valores seriam pagos.
Investigação extensa
As investigações do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPMG começaram em 2021 e duraram mais de um ano. Policiais, traficantes e o advogado foram monitorados em diversos encontros para pagamento de propina. Fotos, gravações de áudio e de conversas de celular registram todo o esquema.
O material foi obtido por meio de quebra de sigilo telefônico, telemático, fiscal e bancário dos alvos da operação. Os agentes do Gaeco também tiveram acesso às contas bancárias e aos valores movimentados por todos os envolvidos.
Propina
Como a organização criminosa suspeitava que poderia estar sendo registrada, a maior parte dos pagamentos era feita de forma presencial, em entregas rápidas, em locais públicos, com pagamento em espécie.
Ao longo de um ano, o Gaeco interceptou 16 encontros entre policiais, traficantes e o advogado em que houve entrega de pacotes e embrulhos com os valores negociados. O relatório judicial mostra que outras 23 transações ocorreram sem entregas feitas pessoalmente.
A reportagem pediu à Polícia Civil um posicionamento sobre o envolvimento dos agentes na operação e aguarda retorno da corporação.
otempo
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