23/08/2020

LULA MENTE MAIS QUE CESARE BATTISTI

O pedido de desculpas confirma que Lula mente mais do que Battisti

Lula condecorou Cesare Battisti com o status de 'refugiado político'
No último dia do segundo mandato, o presidente Lula mandou às favas o tratado de extradição com a Itália, condecorou Cesare Battisti com o status de "refugiado político" e negou-se a devolver ao país de origem um terrorista condenado à prisão perpétua pela participação em quatro assassinatos. Consumada a patifaria que manteve em liberdade um dos bandidos de estimação do ministro da Justiça, Tarso Genro, Lula tratou de esquecer a infame anotação num prontuário que hoje assusta até chefão do PCC. Em dezembro de 2018, ele não comentou o decreto assinado por Michel Temer que autorizou a extradição. No mês seguinte, manteve-se mudo ao saber que o criminoso foragido fora capturado na Bolívia e despachado para Roma. E não abriu o bico nem mesmo quando Battisti, em 25 de março de 2019, enfim confessou a verdade que negara por quatro décadas: ele carregava quatro cadáveres nas costas. Participara como mandante de dois assassinatos e de outros dois como pistoleiro.

Lula esperou um ano e meio para tratar do caso. Neste 19 de agosto, durante um debate promovido pelo canal do YouTube TV Democracia, topou revisitar o episódio repugnante. "Nós cometemos esse erro e devemos desculpas, não tenho dúvida nenhuma", começou o ex-presidente, que em seguida fantasiou-se de vítima de maus conselheiros. "Eu nunca estive com o Battisti, nem conheço pessoalmente. Ele nunca me procurou, talvez porque eu não fosse um revolucionário de esquerda como ele gostaria de ser. Portanto, eu mantive ele aqui porque o meu ministro da Justiça dizia que não tinha provas da culpabilidade. O Tarso Genro me disse: 'não dá para mandarmos ele embora, porque ele pode ser detonado na Itália e é inocente'. Companheiros, muitos partidos e personalidades da esquerda pediam para que Battisti ficasse aqui."

Lula acreditou em Tarso Genro, que acreditou em Cesare Battisti, que pareceu ao presidente e ao ministro bem mais confiável que o depoimento feito a vários jornalistas brasileiros por Adriano Sabbadin, filho de um dos alvos do grupo Proletários Armados para Comunismo (PAC). Em janeiro de 1979, quando rechaçou a bala o bando que invadiu seu açougue numa cidadezinha perto de Roma, Lino Sabbadin atingiu um dos ladrões escalados para "expropriar o capital de um comerciante burguês". Por ter enfrentado parte do ajuntamento de 60 delinquentes, sem imaginar que lutara contra um "comando revolucionário" do PAC, Lino foi condenado à morte. Adriano tinha 17 anos quando testemunhou a execução consumada no mês seguinte.

“Eles chegaram às quatro e meia”, lembra Adriano. Os pais atendiam um freguês no balcão e ele falava ao telefone na parte dos fundos quando os tiros começaram. “Fiquei apavorado e subi correndo para o segundo andar, onde ficava a casa da família. Esperei uns dois ou três minutos intermináveis e me aproximei da janela que dava para a rua”. Três jovens saíram pela porta da frente e entraram num carro estacionado metros além. Adriano desceu e viu o pai estirado numa poça de sangue, ao lado da mãe com o avental branco manchado de vermelho. Ele se espantou com a versão dos matadores nos depoimentos à Justiça. Não houvera um assassinato, mas o "justiçamento de um contrarrevolucionário". Embora passasse o dia trabalhando no açougue, Lino virou na versão do PAC "um fervoroso defensor do Estado fascista".

Em 1981, depois de fugir da cadeia, Battisti passou a apresentar-se como um jovem sonhador seduzido pela ilusão de construir a tiros um mundo melhor. Nunca matara ninguém, repetia de meia em meia hora. No julgamento, fora-lhe negado o direito de defender-se. Para escaparem de condenações mais severas, companheiros de luta haviam resolvido debitar na sua conta crimes que não cometeu e coisas que nunca faria. Caprichando na pose de idealista injustiçado, foi contar essa história na França e no México. Não funcionou. Então resolveu acrescentar ao prontuário o ofício de escritor. O resultado foi um livro que lembra na forma um diário de aluna de internato e, no conteúdo, um filme de estreia de cineasta paraguaio. Esquerdistas franceses sugeriram que repetisse no encenasse no Brasil o numerito do escritor de esquerda caçado pela grandeza política. Aqui a coisa colou.

Em 2010, na sessão que julgou o pedido de extradição formulado pela Justiça italiana, o Supremo Tribunal Federal mostrou-se mais imaginoso que o réu. Numa primeira votação, ficou decidido por 5 a 4 que como os crimes atribuídos ao acusado eram comuns. Se não tinham caráter político, a extradição devia ser aprovada. Numa segunda votação, resolveu-se também por 5 a 4 que a última palavra caberia ao presidente da República. "Não faz sentido entregar um perseguido ao carrasco”, declamou Tarso Genro depois da decisão de não decidir. A misericórdia de Tarso é seletiva. Em 2007, ao deportar para Cuba os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, o ministro castigou dois perseguidos. Em 2010, protegeu o carrasco. Em ambos os casos, Lula avalizou as decisões do companheiro gaúcho.

"O Battisti mentiu muito, muita gente acreditou nele", disse Lula na semana passada. Conversa de 171. Os poucos que efetivamente acreditaram são rematados idiotas. Lula, Tarso e todos os outros só fingiram acreditar. Esses são cínicos de nascença.

Augusto Nunes

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