28/07/2020

MODUS OPERANDI: DEM E MDB 'DEIXAM' CENTRÃO PARA SE VALORIZAR

Saída de DEM e MDB do centrão é apenas "assinatura de divórcio"

DEM e MDB racham Centrão e deixam bloco de Arthur Lira, do PP ...
A saída formal dos partidos DEM e MDB do bloco do centrão, anunciada ontem (27), nada mais é do que a formalização de algo que já acontecia na prática. Trata-se, portanto, apenas da assinatura do divórcio de uma separação que já ocorria.

Para o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), o objetivo dos dois partidos é ter mais independência em votações: "permanecer no blocão limitava a atuação da bancada e da liderança. É importante buscar autonomia e independência nas votações, sem estar vinculado à posição do bloco". 

Independência, no entanto, não é o único objetivo. Os partidos esperam reunir mais legendas em torno do núcleo "Rodrigo Maia", ou seja, buscam formar um bloco majoritário, que pode ter partidos hoje no centrão e também na oposição. A ideia seria chegar a 257 deputados, a maioria numérica. DEM e MDB hoje somam 63 deputados. O centrão ou blocão tinha 221 e caiu para 158. 

O divórcio dos partidos do Centro é fruto da aproximação do governo Bolsonaro aos partidos do bloco, formando uma base aliada com um líder informal, o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL). A estratégia rachou o bloco e isolou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tinha grande influência sobre os partidos. Tem com pano de fundo a sucessão na Câmara. O governo gostaria, e isso é natural, que o sucessor de Maia nos dois últimos anos do mandato fosse mais alinhado ao Palácio do Planalto. Por outro lado, Maia trabalha para fazer um sucessor. 

Até agora, além de rachar o Centro, a aproximação de Jair Bolsonaro aos partidos foi incapaz de formar uma base de apoio ao presidente em votações importantes. O placar da votação do novo Fundeb, na semana passada, é um sinalizador. O governo tentou via centrão que a participação da União fosse de 20% no fundo desde que 5% fossem usados para o programa Renda Brasil. Sem possibilidade de ganhar, o governo acabou fechando um acordo elevando a participação da União para 23% até 2026 sem incluir o Renda Brasil e o placar foi de quase a totalidade da Câmara (499 a 7 no primeiro turno e 492 a 6 no segundo), no que foi considerada uma vitória de Rodrigo Maia. 

A separação do bloco foi minimizada tanto por Arthur Lira quanto por Rodrigo Maia, que negam haver o "bloco do Maia" ou o "bloco do Lira". De acordo com Lira, o centrão foi criado para formar a comissão de orçamento e que portanto "deveria ter sido desfeito em março, o que não aconteceu por conta da pandemia".

Rodrigo Maia foi na mesma linha, em nota: "Naturalmente, no início de cada ano os partidos buscam se alinhar às agremiações com as quais possuem maior afinidade para alcançar uma melhor representatividade na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Os blocos formados com esse propósito duram, em geral, até a publicação da composição da CMO e sua instalação. Como, em razão da pandemia, as Comissões ainda não se reuniram, a existência do bloco acabou se prolongando".

O presidente da Câmara negou que a saída do DEM e do MDB tenha relação com divergências internas entre as siglas ou com as eleições para a presidência da Casa e demais cargos da Mesa Diretora: "Seu desfazimento [dos blocos] é natural, segue um padrão estabelecido pela prática congressual e nada tem a ver com a eleição para a Mesa Diretora em 2021, para a qual tradicionalmente são formados novos blocos". 

Tanto Maia quanto Lira, no entanto, falam do grupo formal, chamado blocão, que foi criado para a Comissão de Orçamento. O centrão, no entanto, é um grupo informal, de partidos do espectro político do centro que, nos últimos governos presidenciais não eram nem governo e nem oposição. Além dos partidos que oficialmente estavam no blocão: PL, PP, PSD, MDB, DEM, SOLIDARIEDADE, PTB, PROS e AVANTE, há o Republicanos, que é considerado do centrão e partidos menores como PSC e Patriota. 

Durante bastante tempo o centrão serviu com base de apoio para a então presidente Dilma Rousseff. Mas foi também o bloco que viabilizou a aprovação do impeachment da presidente assim que ela rompeu com o próprio vice, Michel Temer, do MDB e com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também do MDB. Na época, Cunha era o líder informal do centrão.

r7

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