03/04/2020

A EUROPA EM 'PÉ DE GUERRA' POR MÁSCARAS

Covid-19: após denúncia da França contra EUA, surgem revelações sobre confiscos de máscaras entre países europeus

Carregamento de 8,5 milhões de máscaras no aeroporto de Paris-Vatry, enviado pela China, em 30 de março — Foto: Thomas Paudeleux/ECPAD/AFP Autoridades francesas afirmaram nesta semana que os Estados Unidos estão comprando carregamentos de máscaras já vendidos à Europa nos aeroportos chineses por um valor de três a quatro vezes superior ao negociado. No entanto, dentro da própria União Europeia, países estão confiscando entre si o material médico que, em tempos de coronavírus, está valendo mais que ouro.

A revelação é feita pela revista francesa L’Express. Uma matéria no site do semanário afirma que "a guerra das máscaras" começou muito mais cedo na Europa.

Segundo a L’Express, em 5 de março, a França confiscou quatro milhões de máscaras da empresa sueca Mölnlycke, em Lyon, no sudeste do país. Dois dias antes, o presidente francês, Emmanuel Macron, havia assinado um decreto permitindo ao governo confiscar todos os estoques de produtos e materiais hospitalares do país para lutar contra o coronavírus.

De acordo com a Mölnlycke, especializada em produção de equipamento descartável para o setor médico, as máscaras confiscadas pela França deveriam ser enviadas à Espanha e à Itália, que já enfrentavam uma dura etapa da epidemia.

A revista L’Express afirma que "não é necessário ser inimigo para entrar em guerra". A matéria lembra que todos os países envolvidos no quiproquó – França, Suécia, Espanha e Itália – pertencem à União Europeia, são aliados no plano militar e signatários de uma estratégia econômica até mesmo no que diz respeito ao setor da saúde.

Ao que tudo indica, a crise do coronavírus e a falta de máscaras balançaram as relações e a harmonia entre os parceiros. A situação "transformou os países em beligerantes de um conflito, político, econômico e diplomático", publica L’Express.

200 mil máscaras confiscadas na Tailândia

Autoridades alemãs afirmaram nesta sexta-feira (3) que 200 mil máscaras de proteção contra o coronavírus, que seriam utilizadas pela polícia de Berlim, foram confiscadas em Bangkok. Segundo o governo da Alemanha, o carregamento, encomendado de um fabricante americano, já havia sido pago, mas foi bloqueado no aeroporto da capital tailandesa.

A imprensa alemã informa que as máscaras foram produzidas na China pela empresa americana 3M. "Diante da situação atual, partimos do princípio que isso está ligado à proibição de exportação de máscaras pelo governo americano", afirmam autoridades da Alemanha.

"Roubo" de máscaras francesas

Os Estados Unidos negam ter comprado máscaras destinadas à França, depois da denúncia de duas autoridades francesas nesta semana. De acordo com Jean Rottner, presidente da região Grand Est, os americanos estariam comprando o material diretamente nas pistas dos aeroportos chineses, pagando em dinheiro vivo e de três a quatro vezes mais caro do que o valor original.

"Na pista, os americanos oferecem dinheiro e pagam três ou quatro vezes o preço dos pedidos que fizemos", disse Rottner na quarta-feira (1°). Segundo ele, em seguida, os aviões partem aos Estados Unidos e não à França.

"É complicado, lutamos 24 horas por dia" para obter as máscaras, disse Rottner, explicando que uma remessa do material adquirido pelos americanos seria distribuída a profissionais que trabalham em casas de repouso para idosos.

Na terça-feira (31), Renaud Muselier, presidente da região francesa Provence-Alpes-Côte d'Azur, no sudeste, também reclamou das práticas americanas e do desvio das mercadorias com a oferta de um valor mais alto.

"A maior dificuldade é a entrega. Diante deste problema, estamos aumentando a segurança das remessas para que elas não sejam comprada por outros", reiterou.

Com informações da RFI

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