Política de Mercado
Em uma análise lúcida sobre a conjuntura política atual do Brasil, não se pode negligenciar as transformações que moldam as estratégias eleitorais contemporâneas. Esse fenômeno, que eu apelido de "vendedor de passe", é a mais nova e intrigante modalidade na política nacional.
Não é segredo para ninguém que o bloco político brasileiro nos apresenta um teatro, muitas vezes digno de uma ópera bufa. O que vemos hoje, no entanto, são atores que sobem ao palco não com a intenção de desempenhar um papel até o fim, mas com o olho no intervalo, no momento lucrativo de passar o bastão para o mais bem posicionado na corrida, mas, claro, não sem antes garantir sua "comissão".
Historicamente, o apoio político era uma espécie de investimento de longo prazo, pendente às vicissitudes do poder. Hoje, os bastidores fervilham com negociações explícitas, acertos pré-eleitorais que estabelecem com precisão os termos da troca: apoio por posições, vantagens financeiras, garantias de participação no eventual governo.
Tomemos como exemplo emblemático um notório comunicador paulista, cuja dança pré-eleitoral já se tornou um espectáculo à parte. Ele entra na corrida eleitoral com pompa, mas, como se segue um roteiro previamente conhecido, retira-se no clímax da trama, não sem antes assegurar seus "cargos, ganhos e mimos".
Esse modus operandi, outrora discretíssimo, hoje se espalha com a velocidade de um incêndio em vegetação seca. Vemos surgir verdadeiros especialistas em "vendas de passe", cuja expertise é valorizada e disputada por potenciais candidatos.
Um político veterano, certa vez, declarou que "o acertado não sai caro”. O cálculo é claro e, parece, aceitável para muitos. Neste mercado de trocas eleitorais, o pragmatismo reina, e a transação é feita à luz do dia. A ética que se dane, parece ser o mantra.
O eleitor, outrora esperançoso em princípios e ideais, hoje deve estar ciente dessa nova face do processo democrático. Deve-se perguntar: é este o jogo político que queremos? É um sistema em que o apoio é escancaradamente mercantilizado, um avanço ou um retrocesso para a nossa democracia?
Convido a uma reflexão profunda sobre estas questões. Como jornalista e advogado, não posso deixar de apontar o caráter questionável dessa prática. Porém, como analista político, reconheço a existência de uma lógica perversa que a alimenta. Sem uma mudança de postura do eleitorado e dos políticos que realmente desejam servir ao público, o ciclo continuar a se perpetuar, à medida que o preço certo será sempre o suficiente para comprar o silêncio de uma consciência.
-Junior Melo
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