09/05/2023

A MORTE DO 'FIO' DA BENZEDEIRA

A Morte do Fio da Benzedeira

O benzimento está presente em todas as culturas da humanidade. Baseia-se na fé e nos elementos da natureza. No Brasil, desde os tempos coloniais, devido às precárias condições de assistência à saúde, registra-se a presença da benzedeira para curar os males do corpo e do espírito.

Em Ceará-Mirim havia uma benzedeira, moradora de antigo engenho próximo da cidade, que atendia à domicílio. Com galhos de planta varria as mazelas do abençoado, dizendo:

- Com três te botaram, com três eu te tiro. Com as palavras do Espírito Santo, quebrante e oiado, vaiti pras onda do mar sagrado, com o poder de Deus Pai, com poder de Deus fio, precura teu lugar onde fostes nascido e criado. Assim como São Francisco das Chagas foi livre e Santo arritirai o oiado de Henrique, com o poder de Deus Pai precura teu lugar onde fostes nascido e criado (Henrique Sobral, meu sobrinho).

Durante a reza bocejava e ao terminar informava se a pessoa estava muito carregada ou não.

Normalmente os galhos não sobreviviam à reza, murchavam totalmente, quando não se desintegravam antes. Era exímia na arte de agradar à freguesia, um plus para tonificar a reza e facilitar o óbulo.

Batizaram-na Isabel, mas era conhecida como 'Isabé Garapa'.

Morava com um filho solteirão, fraco do juízo, um doido manso, mas de conversa macia e paradoxalmente aprumada até ser pressionado. Quando rareava a gente já sabia: era uma semana de porre e outra para curar a ressaca.

Em uma dessas carraspanas, após uma noitada na festa da padroeira, copularam mãe e filho. O caso chegou ao domínio público. Grande foi a reprovação popular.

Bestializou-se o varão; semblante desfigurado; expressão perturbada. Nunca mais achou o norte e começou a definhar.

Tempos depois, manhã de sábado, dia da feira local, antes de soar o apito da 'Maria fumaça' (trem) anunciando a partida para o Sertão, ecoou na estação o trovejo do Nêgo Pepeu:

- Bastião finou-se agora, no hospital dos doidos, em Natal.

Foto ilustrativa


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