15/01/2023

NA CHINA COVID CONTINUA MATANDO 'COM FORÇA'

China registra quase 60 mil mortes por Covid-19 em pouco mais de um mês

A China afirmou neste sábado ter registrado quase 60 mil mortes relacionadas à pandemia no pouco mais de um mês desde que flexibilizou sua política de Covid zero depois de manifestações em várias cidades do país em novembro. O balanço é o primeiro registro oficial que indica a dimensão do surto enfrentado pelo país, e aumenta significativamente o número de óbitos que o gigante asiático registrou nos quase três anos de crise sanitária.

Um total de 59.938 mortes relacionadas à Covid foram registradas entre 8 de dezembro de 2022 e 12 de janeiro de 2023, disse Jiao Yahui, chefe do gabinete de administração médica da Comissão Nacional de Saúde, o principal órgão sanitário do país. O número, contudo, pode subestimar o cenário real, já que não inclui quem morreu fora de hospitais.

O dado inclui 5.503 mortes causadas por insuficiência respiratória diretamente devido ao vírus e 54.435 mortes causadas por doenças subjacentes combinadas com a Covid-19, disse Jiao. Mas o pior, disse ela, parece ter ficado para trás:

— O número de visitas a clínicas está de modo geral em uma tendência de queda após atingir seu pico, tanto em cidades quanto em áreas rurais — afirmou, completando que havia cerca de 128 mil pessoas com casos graves da doença no dia 5, número que caiu para 105 mil no dia 12.

Crematórios ficam saturados na China por aumento de casos de Covid-

Segundo a porta-voz, a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva é de 75,3%, e o número de pacientes que dão entrada em emergências também está em queda. Ela disse ainda que a idade média dos mortos é de 80,3 anos — mais de 90% das vítimas tinha mais de 65 anos e sofria com comorbidades.

O número confirma os temores com a relativamente baixa taxa de vacinação entre os idosos chineses. O país tem uma ampla produção de vacinas domésticas, que demandam três doses para prevenir casos graves, mas só cerca de 40% dos idosos com mais de 80 anos, estima a Organização Mundial de Saúde (OMS), recebeu o trio de imunizações.

Entre os casos graves, a idade média dos doentes é 75,5 anos, e cerca de 90% deles têm 60 anos ou mais. Cerca de 40% têm ao menos uma comorbidade, e 35% têm três ou mais.

Desde que a doença surgiu na cidade de Wuhan, na província central de Hubei, no fim de 2019, até sábado, a China registrava um total de 5.241 mortes por Covid. Só 37 delas ocorreram desde 7 de dezembro, o fim da política de "Covid zero".

No fim de dezembro, o país havia alterado os critérios de definição de mortes pela Covid-19: somente mortes causadas diretamente por insuficiência respiratória ou pneumonia causada pelo coronavírus passaram a ser contabilizadas nas estatísticas. A maior parte do mundo, no entanto, soma também mortes por outras causas agravadas pela doença.

Não está claro se o novo boletim significa que o país alterou novamente a forma como divulga as mortes, adotando o critério mais abrangente. Especialistas, contudo, viram a novidade com bons olhos, apesar de afirmarem ser cedo para conclusões mais definitivas:

— Não podemos fazer uma avaliação agora, mas é obviamente mais confiável que os dados anteriores dizendo que só havia um punhado de mortes — disse Jin Dongyang, virologista da Universidade de Hong Kong, ao New York Times. — Eu espero que o governo seja mais transparente agora.

O boletim coincide com críticas internacionais, inclusive da Organização Mundial de Saúde (OMS), que acusam Pequim de ser pouco transparente. O diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da organização, Michael Ryan, disse que “o número de mortos na China continua a ser grosseiramente subestimado” e havia criticado também as definições estreitas de morte pela doença.

Horas após o anúncio chinês deste sábado, a OMS pediu que Pequim forneça dados mais detalhados sobre a situação do país. O diretor geral do órgão multilateral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, solicitou estas informações adicionais durante uma conversa por telefone com o diretor da Comissão Nacional de Saúde da China, Ma Xiaowei.

Pequim divulgava balanços diários dos casos de Covid no dia 25 de dezembro, 11 dias após o fim da publicação de pacientes assintomáticos. Até então, o país diferenciava infectados com sintoma daqueles que não apresentavam nada, mas isso deixou de fazer sentido desde que a testagem obrigatória foi suspensa, os quiosques públicos de testagem foram desativados, e os chineses foram autorizados a usar os exames de farmácia, sem precisar reportar seus resultados.

A falta de informações confiáveis aumentou as incertezas sobre a gravidade da crise no país. No dia 23 de dezembro, dados vazados da ata de uma reunião da Comissão Nacional de Saúde estimavam que o surto estaria infectando cerca de 37 milhões de pessoas por dia — para fins comparativos, o recorde de casos confirmados no planeta em um único dia é 4 milhões, em janeiro deste ano.

O fim abrupto da Covid zero veio após vários sinais de que o custo de conter a altamente contagiosa variante Ômicron estava sendo alto demais. Houve vários incidentes provocados pelo confinamento de trabalhadores em fábricas, incluindo numa unidade que produz smartphones para a Apple, e protestos contra as quarentenas foram registrados no final de novembro em campi universitários e cidades como Pequim, Xangai e Cantão.

A abertura deu um de seus passos derradeiros no último dia 8, com o fim da quarentena obrigatória para viajantes que desembarcam no país — para desembarcar, contudo, é necessário mostrar um teste PCR feito até 48 horas antes da viagem. Frente à pouca transparência sobre o surto chinês, contudo, países como a Coreia do Sul e o Japão impuseram barreiras sanitárias para passageiros procedentes do território chinês, como testagem obrigatória. Em retaliação, Pequim suspendeu a emissão de vistos de curta duração para passageiros procedentes dos territórios americano e sul-coreano.

O Globo

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