20/02/2022

ESPECIALISTA AVALIA QUE 'CIGARRO ELETRÔNICO NÃO É SAUDÁVEL EM NENHUM ASPECTO' - VEJA MALEFÍCIOS

“Sob nenhum aspecto cigarro eletrônico é saudável”, avalia especialista; veja malefícios

Os malefícios do cigarro eletrônico passaram a repercutir depois que o cantor sertanejo Zé Neto, da dupla com Cristiano, foi diagnosticado com doença pulmonar causada pelo produto. Moda entre adolescentes e jovens, a “nova onda” chegou por influência americana e pode comprometer toda uma geração de luta contra o tabagismo.

A tendência entre jovens começa a preocupar a comunidade científica. O médico Frederico Monteiro, oncologista torácico do Cebrom Oncoclínicas, ressaltou que não há benefícios no uso do produto, pelo contrário. “Muita gente fala que cigarro eletrônico serve como controle de danos para pessoa conseguir sair do tabagismo convencional. Isso é verdade ‘até a página dois’, porque os grandes estudos não provaram isso. Quero reforçar que sob nenhum aspecto o cigarro eletrônico é saudável para as pessoas”, pontuou o especialista.

Exemplo disso é Zé Neto. O cantor sertanejo passou a fazer campanha contra o produto depois de apresentar “vidros no pulmão”. O termo médico é figurado, mas indica início de lesão grave no pulmão. Segundo o Dr. Frederico Monteiro, tratam-se de “alterações que aparecem no pulmão com aspecto de vidro moído”, explicou o especialista.

A ação do produto no corpo pode configurar para ser pior do que a do tabagismo convencional. Conforme explicação do médico especialista, enquanto, no cigarro de tabaco, a nicotina estimulada pela combustão, no cigarro eletrônico, ocorre a vaporização. “É a nicotina mais concentrada, em até quatro vezes. Ela entra na corrente sanguínea com capacidade maior de viciar a pessoa”, disse Dr. Frederico Monteiro.

Os efeitos desse consumo a longo prazo ainda são desconhecidos. Por se tratar de prática nova, há poucos estudos sobre o tema. O médico oncologista informou que as principais pesquisas se desenvolvem nos Estados Unidos (EUA), onde problemas com relação ao uso do cigarro eletrônicos estão mais frequentes.

Por outro lado, a se considerar os componentes do produto e o desenvolvimento de casos, como o do cantor sertanejo, é possível prever que o hábito poderá causar mal futuro. “Para entender os efeitos do cigarro eletrônico, temos de entender o que o compõe. A nicotina, que dá o prazer para quem fuma, e alguns compostos orgânicos, como benzeno e nitrosamina. Há também alguns metais pesados e ácidos graxos essenciais. Quando se inala isso, está colocando tudo para dentro do organismo”, explicou o médico.

Os efeitos a curto ou longo prazo são certos. A principal preocupação dos especialistas é que o produto cause destruição do pulmão. Nos EUA, foi criado um nome para doença causada pelo uso do cigarro eletrônico, Evali. O termo é uma sigla em inglês para a expressão “E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury”, “Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico ou produto Vaping”, em português.

Segundo o médico, os estudos nos EUA apontaram desde resultados de pessoas que se recuperaram sem sequelas até aquelas que desenvolveram problemas irreversíveis, que precisaram de transplantes ou morreram.

Moda no Brasil

Apesar do produto não ter legislação específica no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe sua produção e comercialização. Sob o aspecto social, o médico aponta que a popularidade entre adolescentes e jovens representa um sucesso do País no combate ao tabagismo.

Desde a década de 90, leis e resoluções do Ministério da Saúde foram criadas para combater o tabagismo. A Lei nº 9.294/96 instituiu restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros. Além disso, a Lei nº 12.546/2011 determinou que 30% das embalagens de tabaco fossem de advertências sanitárias sobre o uso do tabagismo.

Com o sucesso do combate no Brasil, as grandes empresas de tabaco buscaram novas formas de aumentar as vendas para não perder mercado. Com a proibição do cigarro eletrônico, os especialistas temem que o tabaco volte a ter potenciais consumidores. “O hábito de fumar cigarro eletrônico está muito difundido. Nossa preocupação é que daqui um ou dois anos, esse público vai precisar do cigarro convencional para satisfazer seu vício”, explicou o Dr. Frederico Monteiro.

Segundo o médico, a publicidade desta moda é ainda mais forte nos Estados Unidos. “Lá, os cigarros eletrônicos são vendidos com tema, tem da Hello Kitty, de personagens de anime. Isso causa nos jovens o aspecto de ser descolado, moderno, mas, no final, será uma porta de entrada para o tabagismo”, lamentou o especialista.

Projeto na Alego

Tramita na Assembleia Legislativa de Goiás o Projeto de Lei nº 5.402/19, que prevê proibição do uso, da comercialização, da importação, da produção e da propaganda de qualquer tipo de cigarro eletrônico. A expectativa é que a proposta seja votada ainda neste ano. Segundo o autor da proposta, deputado Rafael Gouveia (Progressistas), a medida é necessária para proteger a saúde de quem consome e de terceiros que inalam a fumaça.

Na justificativa, o deputado enumera o histórico de proibição do produto no Brasil. Conforme afirma, o cigarro eletrônico foi proibido em 2009 pela Anvisa. Apesar disso, o produto continua a ser comercializado livremente.

Para cessar a prática, Rafael Gouveia propõe punição a locais onde o produto é livremente utilizado. O projeto prevê multa e até interdições para estabelecimentos que fizerem a comercializar, a importação, a produção ou a publicidade de cigarro eletrônico. “A propositura se justifica devido a insegurança ocasionada pela disseminação desse produto na sociedade, mesmo estando proibido pela Anvisa, sem que haja licença para introdução destes cigarros eletrônicos na vida dos indivíduos, colocando-os em posição de risco à saúde”, justifica o deputado.

O projeto foi acolhido pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) e será relatado pelo deputado Delegado Humberto Teófilo (sem partido). Caso o parecer seja favorável, o colegiado precisará dar sinal verde para que a proposição seja apreciada pelo Plenário da Alego. A expectativa é que a votação seja ainda neste ano. Depois, caberá ao governador Ronaldo Caiado (União Brasil) sancionar o texto.

Jornal Opção

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