02/02/2021

SP: PADRE COM UMA MARRETA TENTA QUEBRAR PEDRAS USADAS PARA AFUGENTAR MORADORES DE RUA

Padre quebra pedras usadas em viaduto contra moradores de rua

Indignado com a colocação de pedras embaixo de um viaduto pela Prefeitura de São Paulo, a fim de afugentar pessoas em situação de venerabilidade de permanecerem no local, o padre Julio Lancellotti foi até o local na manhã desta terça-feira (2) e, com uma marreta, tentou tirar os pedregulhos à força.

– Quis mostrar nossa indignação participando diretamente da ação. Aquilo é um absurdo, uma aberração, é até ato de improbidade administrativa. Fomos para lá, e agora a Prefeitura começou a remover por causa de toda repercussão – disse ao Estadão.

O viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida fica na zona leste de São Paulo, no bairro do Tatuapé. A subprefeitura da Mooca, sob o comando de Guilherme Kopke Brito, promoveu as mudanças no local colocando pedras.

– Isso eles dizem que é fato isolado. Não é verdade. É política dessa subprefeitura da Mooca. Já tinham feito em outro [local] na avenida Salim Farah Maluf – protestou Lancellotti, referindo-se ao viaduto Antonio de Paiva Monteiro.

Com a repercussão negativa após a instalação das pedras, na manhã desta terça-feira a Prefeitura já havia mandado funcionários ao local para desfazer o serviço.

– Tinha duas escavadeiras, cinco caminhões, três técnicos e mais de 30 funcionários. Eu derrubei algumas pedras com a marreta, mas é muito difícil, pois é concreto – explicou o padre, que tem 72 anos e quis fazer esse “ato simbólico” para chamar atenção para o fato.

Logo que deixou o local, Lancellotti postou em suas redes sociais, e em instantes muita gente aprovou a atitude do padre e se prontificou a ir para o local ajudar. Ele revelou que tem cobrado diariamente a Secretaria Municipal das Subprefeituras. Mas, segundo ele, essa política de exclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade é algo constante.

– Eles fazem mil estratagemas para tirar as pessoas; só maldades. Só não fazem o que precisa realmente ser feito, como aluguel social, por exemplo – desabafou o padre.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo classificou o episódio como um caso isolado.

“A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras, informa que a implantação de pedras sob viadutos foi uma decisão isolada; não faz parte da política de zeladoria da gestão municipal, tanto é que foi imediatamente determinada a remoção. A SMSUB instaurou uma sindicância para apurar os fatos, inclusive o valor, e um funcionário já foi exonerado do cargo”, diz a nota.

O comunicado ainda explicou que “os viadutos Antônio de Paiva Monteiro e Dom Luciano Mendes de Almeida têm o monitoramento diário do SEAS Mooca, que intensifica a ação quando há pessoas em situação de vulnerabilidade no local, com atendimentos de orientação à saúde, documentação, obtenção de benefícios dos programas de transferência de renda e encaminhamento para Centros de Acolhida” – afirmou, reforçando que o aceite é voluntário.

Na capital paulista, o número de pessoas que vivem nas ruas saltou de 15 mil para 24 mil no período de 2015 a 2019, de acordo com o novo Censo da População em Situação de Rua, realizado pela Prefeitura. Lideranças ligadas a essa população questionam a metodologia utilizada e dizem que o número pode ser maior. O aumento de 60% da população de rua está relacionado, segundo o levantamento, à crise econômica, ao desemprego, a conflitos familiares, a questões relacionadas à moradia e ao uso abusivo de álcool e drogas.

Estadão

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