Primeiras-damas, dinheiro vivo, doleiros no Uruguai: MPF aponta semelhanças em esquemas de Witzel e Cabral
As mais de 400 páginas do processo do Ministério Público Federal que detalha as acusações de corrupção do governo de Wilson Witzel mostram que há muitas semelhanças entre o suposto esquema do atual governador com o praticado pelo ex-governador Sérgio Cabral – e, em parte, também por Luiz Fernando Pezão, que segundo o MPF deu continuidade aos crimes do antecessor.
“Nós nos vimos como num túnel do tempo, revendo velhos fatos que nós já havíamos investigado, mas agora com outros personagens”, declarou o procurador federal Eduardo El Hage.
Na sexta-feira (28), policiais federais e procuradores da República cumpriram medidas determinadas pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça. Foram determinados 83 mandados de busca e apreensão, 16 de prisão e o afastamento do governador Witzel por seis meses – o vice Cláudio Castro, que também é investigado mas não foi afastado, assumiu o cargo.
Os procuradores dizem que, nas investigações, encontraram uma organização criminosa no governo do estado que replicava o esquema praticado pelos últimos ex-governadores.
Os documentos divulgados mostram os pontos em comum:
- Escritório de advocacia para a lavagem de dinheiro - Witzel teria se utilizado do escritório da mulher, Helena. Já Cabral, do escritório de Adriana Ancelmo
- Transportadora de valores - No caso de Wilson Witzel, seria usada a empresa Fênix para transporte de dinheiro; Cabral usava a TransExpert
- Doleiros no Uruguai - os dois usariam doleiros do país vizinho para lavar dinheiro
- Pagamento em 'cash' - As despesas do dia a dia eram pagas em dinheiro.
Primeiras-damas
A investigação diz que o “escritório da primeira-dama, Helena Witzel, foi utilizado para escamotear o pagamento de vantagens indevidas ao governador Wilson José Witzel, em típico esquema de corrupção e lavagem de dinheiro”.
Há, no entanto, uma diferença entre as primeiras-damas. Enquanto Adriana Ancelmo tinha um escritório de renome na advocacia, Helena atuava de forma mais discreta e recente no ramo.
O MPF concluiu que ela tinha casos pouco expressivos antes de Witzel virar governador. Após a posse, fechou quatro contratos com empresas ligadas a Mario Peixoto e Gothardo Lopes Neto, ex-prefeito de Volta Redonda preso na operação de sexta-feira.
Pagamentos em dinheiro
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Os investigadores afirmam que esse procedimento faz parte de um esquema de lavagem de dinheiro, “como do ex-governador Sérgio Cabral, que fazia uso do expediente para saldar suas obrigações financeiras”.
Transporte de dinheiro
O ex-secretário de Saúde Edmar Santos falou sobre uma outra semelhança dos esquemas de corrupção: o uso de uma transportadora de valores pra guardar o dinheiro da propina, No depoimento, Santos contou como os valores seriam repartidos:
- 30% para o próprio Santos
- 20% para Witzel
- 20% para o Pastor Everaldo
- 15% para Edson Torres
- 15% para Victor Barroso
A investigação apurou que Victor Barroso é sócio da empresa Fênixx, transportadora de valores, e seria o operador financeiro do grupo.
Edmar Santos disse ainda que, após a empresa de transporte de valores que trabalhava para Cabral ser envolvida em investigações, a Fênix passou a também fazer o transporte de valores em espécie e foi também envolvida em investigações.
Doleiros no Uruguai
Segundo as investigações, Witzel teria um representante no Uruguai (o nome não foi divulgado).
Cabral também fazia negócio, segundo o MPF, com os doleiros no país vizinho: Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, e Claudio Fernando de Souza
Tris in Idem
Cabral, Pezão e Witzel. As semelhanças que as autoridades encontraram entre os três governadores foi a origem do nome da operação: Tris in Idem. “Tris” de três vezes ou ”Tris” da tristeza que se instalou no Palácio Guanabara e insiste em ficar.
O que dizem os citados
O advogado de Witzel, Ricardo Sidi, disse que vai recorrer contra a decisão de afastamento do governador por entender que ela é ilegal.
O advogado de Helena Witzel disse que não há nada nos autos de investigação que leve a crer que esposa de Witzel tenha de alguma forma participado de atos ilícitos. A defesa disse ainda que tem "convicção de que a ação penal não vai prosperar".
G1
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