Galeria Histórica
Nossa Senhora da Conceição: Devoção e festa no Ceará-Mirim.
Texto: Gerinaldo Moura da Silva
Fotos: Zé Bernardo Arquit. (José Maria Bernardo Bezerra)
Antes de ser criado o município de Ceará-Mirim, já existia a Freguesia de São Miguel de Estremoz do Norte (grafia antiga), conforme nos relata o Dr. Guilherme Queiroz:
“A Freguesia de Extremoz foi criada em virtude do Alvará Régio de 06 de julho de 1675, e instalada conjuntamente com a vila aos 3 de Maio de 1760. Mesmo com a mudança da sede do município de Extremoz para a Vila do Ceará-Mirim, antiga Boca da Mata, a Freguesia continuou em Extremoz, o que só aconteceu anos depois pela provisão do Bispado de Olinda D. José Joaquim Camelo de Andrade a sede transferiu-se e passou definitivamente em 25.05.1874 para Ceará-Mirim. Os assentamentos dos batizados da Freguesia datam de 1792”
(QUEIROZ, Guilherme Luiz Barboza. História da Freguesia de Ceará-Mirim. Ceará-Mirim/RN 2007. 1ª edição. Pág. 03)
Não se tem uma data correta do ano em que começaram os festejos à Virgem da Conceição, tendo em vista que nosso primeiro Padroeiro oficial foi São Miguel, por estarmos ligados à Freguesia de Extremoz até o ano de 1874 há exatos 151 anos.
Se formos tomar por base a data do Dogma da Imaculada Conceição, a festa de Nossa padroeira poderia ter tido início em 1854, teria portanto 166 anos de criação, conforme veremos:
“Em 1854 o Papa Pio IX tinha proclamado solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria. Então, quatro anos depois, a própria Virgem Maria, em pessoa, quis confirmar este dogma. Foi quando em 25 de março de 1858, na festa da Anunciação, revelou seu Nome a Santa Bernadette nas aparições de Lourdes”.
(8/12/1854 – O Beato Papa Pio IX declara solenemente a Imaculada Conceição como dogma de fé (Constituição Apostólica “Ineffabilis Deus”).
25/03/1858 – Em Lourdes, na 16ª aparição, a Mãe de Jesus aparece a S. Bernadete Soubirous como que confirmando o Sucessor de Pedro, ao dizer: “Eu sou a Imaculada Conceição” (no dialeto local: “Que soy era immaculada Conceptiou”).
Do ponto de vista administrativo, quando houve a transferência da sede de Extremoz para Boca da Mata em julho de 1858, para a Briosa Vila do Ceará-Mirim, a festa devocionária `à Virgem Santíssima teria 164 anos. Pois foi exatamente aos 21 (vinte e um) dias do mês de fevereiro do ano de 1858 que o Frei Serafim de Catânia lançou a pedra fundamental da Igreja Matriz que foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
Outro fato que merece destaque, é que não havia devoção popular a Nossa senhora antes da construção da Matriz, pois segundo o Dr. Guilherme Queiroz
“...Ceará-mirim possuía apenas um pequeno oratório localizado na parte baixa da povoação, isto anterior a 1841 ano no qual venerava-se Santa Águeda, com uma imagem de madeira doada pelo coronel Francisco Xavier de Souza Sobral que mandara vir da Europa. Posteriormente essa imagem foi transferida para o cemitério Santa Águeda, encontrando-se atualmente no altar principal da Matriz.”.
(QUEIROZ, Guilherme Luiz Barboza. História da Freguesia de Ceará-Mirim/RN, 1ª edição. Ceará-Mirim página 19)
A devoção do povo a Maria, a jovem mãe de Jesus, o Filho de Deus só cresceu durante os anos e fortaleceu a fé dos ceará-mirinenses a ponto de se tornar conhecida como “Uma Cidade Mariana”, tornando-se uma tradição que vem passando de pai para filhos, de geração a geração, não importando há quantos anos foi criada mas que está se realizando o Magnifica: “Todas as gerações me chamarão de Bem Aventurada”.
A memorialista do vale verde Madalena Antunes Pereira, descreva como era a festa da Imaculada Conceição no Ceará-Mirim no seu livro Oiteiro Memórias de uma sinhá-moça:
“ A matriz de Ceará-Mirim ainda conserva restos da beleza antiga. É o orgulho do povo cujos avós carregaram pedras à cabeça para o seu alicerce.
Nas feiras, os “matutos” de toda a redondeza e até os cegos contribuíram para a grandeza do formoso templo.
A aproximar-se o dia 8 de dezembro, minha mãe começava a nos preparar para a maior solenidade religiosa de Ceará-Mirim, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição.
Os altares multiplicavam-se em flores. Longos lírios de hastes inclinadas para os santinhos, pareciam sombras brancas sobre auréolas de ouro.
Das arcadas das casas pendiam colchas vistosas e nas janelas apareciam jarras antigas, cujo cristal parecia diluir-se aos raios do sol. Repicavam os sinos da matriz, quando a procissão ia saindo da igreja. Uma onda de gente derramava-se, então, pela cidade.
No princípio da rua Aurora apontavam os primeiros andores.
À frente, e acolitado por dois padres convidados para maior esplendor da procissão, ia o vigário da freguesia levando o Santíssimo.”
Nilo Pereira, assim descreve suas lembranças do novenário da Imaculada Conceição, em seu livro Imagens do Ceará--Mirim:
“Também recordo a coroa de estrelas da Virgem. Era assim que, no seu novenário, ELA APARECIA AOS FIÉIS, Então, todos tínhamos os olhos fitos nele. Tudo era para ela. - as orações, os arrependimentos, as louvações, as esperanças. A Matriz parecia não caber de gente. A grande Matriz quase monumental- era pequena para aquela multidão que confundia a cidade com o vale, os grandes com os pequenos”.
(Pereira, Nilo. Imagens do Ceará-Mirim 3ª Edição Natal/RN Fundação José Augusto. 1989. Pág. 58/59)
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