Josivan Peixoto mostra talento, superação e força para vencer
Natural de Ceará-Mirim-RN, Josivan Peixoto, de 41 anos, é um dos nomes mais emblemáticos da bocha paralímpica brasileira. Conhecido como “Escorpião”, apelido que carrega com orgulho, por ter criado um estilo único de arremesso: deitado de barriga para baixo numa cadeira de rodas que mais parece uma maca, ele lança as bolas com os pés — a técnica virou símbolo de superação e criatividade dentro do esporte devido a sua condição física e contou com reconhecimento internacional dentro de um esporte onde não há limites de idade nem de condição para participar.
Josivan nasceu com paralisia cerebral e distrofia muscular. Não consegue se sentar nem mover os braços. Antes de se tornar atleta, frequentava a APAE de Ceará-Mirim apenas para participar dos cursos oferecidos pela instituição. A carreira esportiva começou meio por acaso, em 2012, quando a então diretora Ana Teresa resolveu inscrever Josivan nos Jogos Escolares da cidade de Parnamirim. Ana escolheu a bocha. Ele que nem sabia para o que era aquele tipo de esporte aceitou o desafio e o destino fez o resto: em sua primeira participação, conquistou o vice-campeonato, que ao mesmo tempo acabou marcando o início da “lenda do escorpião”.
Desde então, foi acolhido pela equipe da APAE, especialmente pelo professor de Educação Física “Zico”, que iniciou os primeiros treinos. Em casa, foi a mãe quem assumiu o papel de maior incentivadora: “Ela fazia bolas de pano para que ele pudesse treinar, já que não tinha como sair de casa com frequência”, lembra o pai Manoel Peixoto da Silva, 77 anos. “A limitação física sempre foi um desafio, mas Josivan nunca deixou de tentar. Tudo o que ele conquistou foi por mérito”, completou Nivaldo Alves, treinador que mais tarde assumiria a preparação.
As dificuldades são muitas. Josivan não tem mobilidade para os treinos e depende de uma cadeira especial, em formato de cama. “Quando o local não tem acessibilidade ou os elevadores são pequenos, precisamos carregar o atleta nos braços. Ele permanece sempre em posição horizontal. Mesmo assim, ninguém nunca viu Josivan reclamar da vida. Está sempre sorridente e participativo”, destaca Nivaldo.
Com o apoio da família e da equipe técnica, Josivan construiu uma carreira repleta de títulos. Foi campeão dos Jogos Paradesportivos do RN, da Copa Oratório e do Campeonato Nordeste. Em 2014, esteve ao lado dos tricampeões mundiais Dirceu Pinto, Eliseu dos Santos e Maciel Sousa, durante evento em Natal. No ano seguinte, sua história rompeu a barreira das quadras: ao desafiar a regra que na modalidade da bocha, exigia o atleta sentado na cadeira de rodas. Porém, com o seu talento natural, Josivan forçou o Comitê Paralímpico Internacional a revisar o regulamento para o esporte. Seu estilo, antes não reconhecido, hoje é aceito em competições oficiais. O atleta potiguar dobrou a burocracia.
A convocação para a Seleção Brasileira veio em 2015, após conquistar medalhas no Campeonato Brasileiro. De lá pra cá, a rotina segue firme: dedicação, treinos adaptados e participações em competições pelo país. Recentemente, Josivan conquistou medalha de bronze na etapa Nordeste da bocha, em Recife, garantindo vaga na final do Campeonato Brasileiro, que será disputado de 6 a 13 de dezembro, em São Paulo.
Agora, o foco imediato está na 13ª Olimpíadas Especiais das APAEs, programada para acontecer entre os dias 31 de julho e 1º de agosto. A competição vale vaga para a etapa nacional, em Brasília, onde o atleta potiguar planeja estar em busca de mais uma grande conquista. “Quero estar bem nessa disputa. Tenho treinado e acreditado muito. Se Deus quiser, vai dar certo”, disse Josivan, com a serenidade de quem conhece bem o caminho que está trilhando.
Apesar do talento e da constância, Josivan Peixoto ainda não tem patrocinador nem recebe apoio do programa Bolsa Atleta. Segundo Nivaldo, os custos com deslocamentos — seja de carro, ônibus ou avião — são pagos pelo próprio atleta e sua equipe. “Só conseguimos hospedagem e alimentação para mim e para ele com a Associação Nacional do Desporto para Deficientes (ANDE). O resto sai do nosso bolso. É por isso que sonhamos com um patrocinador que ajude a dar dignidade a tudo que Josivan representa. Só fomos a essa última competição no Recife, devido ao apoio da Prefeitura de Ceará-Mirim”.
Treinar, muitas vezes, depende da solidariedade. Nivaldo ainda espera conseguir uma van ou ônibus especial que permita transportar Josivan com segurança. “Os principais adversários dele treinam forte e com frequência. E mesmo assim, quando o nosso Escorpião vai mal, termina no mínimo em segundo ou terceiro lugar.”
A caminhada não tem sido fácil, mas é cheia de significado. Josivan serve de inspiração para os companheiros Diego Guedes, João Batista e Adila Karolyne, que também integram a equipe da APAE de Ceará-Mirim e dão os primeiros passos para integrar associações como a SADEF, que incentivam a prática esportiva.
TN
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